Em busca do tempo perdido
O Museu Nacional de História Natural e da Ciência, enquanto espaço de divulgação de ciência, mas também lugar de encontro ente a ciência e a arte, é o local adequado para a realização da exposição Voices for Biodiversity do artista plástico Leonel Moura.
A instalação sonora é composta por um conjunto de 20 "casulos" que ao detectarem movimento reproduzem aleatoriamente o som de um animal. Como nos diz Leonel Moura, “este armazenado de elementos simbólicos e deliberadamente estereotipados, não são uma mera representação, mas sim mensageiros da sua própria extinção”. Com este propósito o artista alerta-nos para a extinção de algumas espécies animais e a olhar para esta problemática não por um prisma pessimista fatalista, mas por uma irresistível sensibilidade como um sinal de emergência que necessita da nossa intervenção enquanto visitante da exposição, quanto mais pessoas estiverem na sala mais esta se assemelha a uma selva...perturbada pela presença humana, como também nos sensibiliza para a preservação das espécies em perigo de extinção.
A obra de Leonel Moura com maior ou menor enfase sempre se debruçou sobre a relação do individuo com a tecnologia, onde a linguagem robótica ao serviço da arte é uma metáfora para a vida humana em oposição por exemplo a Fritz Kahn (1888-1968) que fazia nos seus trabalhos a ligação entre o Homem e a máquina, mas não com o intuito de utilizar tecnologia na criação artística. Os juízos estéticos também podem ser cognitivos, o filósofo americano Nelson Goodman defende que a arte é tão cognitiva como a ciência, a exposição Voice é pensada com esta permuta.
Esta exposição como experiência criativa direcionada para a interactividade na Arte com consciência civilizacional, alerta-nos para a urgência de agir. Leonel Moura no seu acto e no seu discurso de criação artística transmite-nos uma mensagem parcialmente dissimulada e aí radica a sua força. O artista utiliza artefactos tecnológicos na execução das suas obras partindo da imaterialidade, utilizando registos sonoros que constituem o próprio material de arte como forma de expressão. “De todos os acontecimentos que participamos, com ou sem interesse, a busca fragmentária de uma nova forma de vida é o único aspecto ainda apaixonante.” (Introdução a uma crítica de geografia urbana, Guy Debord, in: # 6 de Les lévres nues, setembro 1955). Para Leonel Mora, o artista não observa simplesmente, não é apenas emissário da percepção da realidade, mas sim um agente activo e defensor dos seus ideais.
“O ponto de sabedoria é aceitar que o tempo não estica, que ele é incrivelmente breve e que por isso temos de vivê-lo com o equilíbrio possível.” (José Tolentino Mendonça, in: O pequeno caminho das grandes perguntas).
Sofia Marçal
Entrada actualizada el el 21 feb de 2020
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