Descripción de la Exposición
Primeira exposição retrospetiva em Portugal, de João Artur da Silva, último Surrealista vivo, abre portas no dia da Implantação da República, na Perve Galeria
No próximo 5 de outubro, dia da Implantação da República, assinalam-se também os 96 anos de vida de João Artur da Silva, inaugurando a Perve Galeria a exposição "Vitalidade Contínua", que coloca em diálogo a obra deste mestre português, mostrada pela primeira vez sob a forma de retrospetiva, e a de Isabel Meyrelles, sua amiga de juventude e companheira da aventura Surrealista, que ele integrou diretamente como membro fundador do grupo português "Os Surrealistas", onde pontuavam nomes como Mário Cesariny, Pedro Oom e Cruzeiro Seixas, entre outros.
Patente até 30 de novembro, a exposição traz a público, pela primeira vez em Portugal, uma extensa seleção de obras inéditas de João Artur da Silva, representando mais de sete décadas da sua criação artística.
Tendo participado nas duas primeiras exposições do anti-grupo “Os Surrealistas”, em 1949 e 1950, João Artur da Silva acabou por se afastar do paradigma surrealista com a sua mudança, em 1958, para Inglaterra, onde permaneceu até ao final da década de 1970. Durante esse período, explorou novos meios e linguagens artísticas, ganhando reconhecimento de importantes personalidades da arte britânica, como os artistas Henry Moore e Lynn Chadwick. Após um longo período no Reino Unido, regressou a Portugal nos anos 1980, reencontrando-se com os companheiros da aventura surrealista, antes de se mudar definitivamente para o Canadá, em 1991, onde, apesar de continuar a criar, optou por se afastar do mercado de arte e das exposições, interrompendo o processo de reconhecimento do seu trabalho, que tinha desenvolvido em Inglaterra e em Portugal. A Perve Galeria, que representa o autor desde o final de 2023, procura agora recuperar esse processo.
"Vitalidade Contínua", a primeira exposição retrospetiva do artista, procura dar continuidade ao programa internacional em sua homenagem que a galeria tem promovido ao longo de 2024, e cujo primeiro ato se concretizou com a exposição “Regresso, Desocultação e Vida, na Casa da Liberdade - Mário Cesariny, entre fevereiro e março deste ano. Seguiram-se exposições individuais nas feiras de arte Art Vancouver, no Canadá, em abril, e na Seattle Art Fair, em julho, onde João Artur esteve em destaque no Collectors Lounge. Agora, após esse percurso internacional, a galeria apresenta em Lisboa um extenso conjunto de obras inéditas no contexto nacional.
Incluem-se trabalhos iniciais realizados na década de 1940, e obras realizadas em Inglaterra entre as décadas de 1950 e 1980, incluindo surpreendentes fotografias analógicas experimentais, que até aqui só existiam em slide, e foram impressas especialmente para esta ocasião, ou ainda os panos de seda pintados à mão, que o artista produziu sob a marca “Da Silva”, para os armazéns de luxo Harrods.
A mostra marca também a estreia internacional de obras realizadas por João Artur da Silva no Canadá, incluindo as suas pinturas mais recentes, realizadas entre 2022 e 2024. De facto, aos 96 anos, João Artur continua artisticamente ativo, mantendo uma rotina regular de criação. Segundo o próprio: "Eu deixo-me levar pela pintura. Quando estou bem, sem dores, eu deixo-me levar. Normalmente, começo às cinco, mais ou menos, e depois posso continuar e continuar, por 12 horas sem parar. Depois, as minhas costas habituam-se. Não é uma vontade consciente, creio, eu limito-me a fazer aquilo. É a minha forma natural de trabalhar. E quando estou a pintar não consigo fazer mais nada. É o mesmo de quando era novo. Não é a minha vontade, é a minha forma de ser."
Para além das obras do artista, a exposição inclui ainda um conjunto de peças provenientes da sua coleção particular, que serão exibidas num núcleo dedicado à sua relação com outros autores. Obras únicas realizadas pelos seus amigos de juventude, que João Artur estimou e preservou cuidadosamente ao longo de décadas. Falamos de autores como Mário Cesariny, António Maria Lisboa e Carlos Calvet, figuras incontornáveis do movimento surrealista português. Destaque ainda para a mostra inédita de uma obra realizada pela tia-avó do artista, datada do início do século XX, que permitirá ao público uma visão mais íntima do universo pessoal e familiar de João Artur.
A exposição conta ainda com a participação especial da artista, poeta e tradutora Isabel Meyrelles, a convite do próprio João Artur da Silva. Após o desenrolar de uma intensa amizade de juventude entre os dois, seguiram-se décadas de afastamento por questões de geografia. Se João Artur rumou a Inglaterra nos anos de 1950, Isabel estabeleceu-se em Paris, onde estudou Literatura e Filosofia na Sorbonne e escultura na Escola Nacional Superior de Belas Artes, convivendo e colaborando com figuras proeminentes do movimento surrealista, como André Breton. Na década de 1960, regressa temporariamente a Portugal, mantendo-se ligada ao movimento surrealista português. Na década de 1970, com Natália Correia, que conhecera no final dos anos 1940 na casa da artista húngara Hansi Staël, abre o restaurante “O Botequim”, ponto central da vida intelectual e boémia da capital. No final da década de 1970, Isabel retornou a Paris, onde continuou a criar e a participar ativamente no cenário artístico. Paralelamente, dedicou-se durante 30 anos à tradução da poesia surrealista, culminando na obra bilingue, português-francês, "Poéticas Pós-Pessoa - Antologia do Surrealismo e suas Derivações em Portugal", cujo primeiro volume foi publicado pela Perve Galeria em 2013.
Esta exposição marca assim um reencontro simbólico entre João Artur e Isabel, que têm em comum a utilização da escultura como elemento fundamental para o desenvolvimento da sua expressão visual. A inclusão da artista nesta exposição coincide com o destaque que lhe é dado na mais recente edição da Bienal Internacional de Arte de Cerveira, e em Alfama estarão patentes as suas obras escultóricas mais recentes, datadas de 2023.
‘Vitalidade Contínua’ proporciona assim uma viagem única pelo legado artístico de João Artur da Silva, permitindo ao público (re)descobrir tanto a sua obra pessoal como as influências e amizades que marcaram o seu percurso criativo. A mostra assume-se como um testemunho do vigor e da persistência do ser artístico de João Artur e Isabel Meyrelles, reafirmando a relevância de ambos os autores nas linguagens contemporâneas.
Exposición. 19 nov de 2024 - 02 mar de 2025 / Museo Nacional del Prado / Madrid, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España