Descripción de la Exposición
Com aproximadamente 50 obras, oito delas integrantes do histórico evento no Theatro Municipal de São Paulo em 1922, a exposição destaca, em quatro módulos, raros e emblemáticos trabalhos de Victor Brecheret (1894-1955) e de outros artistas modernistas: Anita Malfatti (1889-1964), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Zina Aita (1900-1967), Helios Aristides Seelinger(1878-1965) e Tarsila do Amaral (1886-1973). Outras raridades são as esculturas em terracota “São Francisco com bandolim” (década de 1940) e “Cabeça feminina” (década de 1940), de Brecheret; o desenho “Cabeça de homem (verde)”, 1915-1916, de Anita Malfatti; e três desenhos que Di Cavalcanti fez entre 1917 e 1924 para seu lendário álbum de gravuras “Fantoches da meia-noite”: “Fantoche com baralho”, “Fantoche com leque” e “Fantoche no piano”.
Multiarte, Fortaleza
De 15 de março a 22 de abril de 2022
Curadoria: Max Perlingeiro
Realização: Multiarte e
Pinakotheke Cultural em colaboração
com Instituto Victor Brecheret
Entrada gratuita
[Protocolo anti-Covid]
A Multiarte e a Pinakotheke Cultural, em colaboração como Instituto Victor Brecheret, apresentam a exposição “Victor Brecheret e a Semana de Arte Moderna de 1922”, com aproximadamente 50 obras dos artistas Victor Brecheret (1894-1955), Anita Malfatti (1889-1964), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Zina Aita (1900-1967), Helios Seelinger (1878-1965) e Tarsila do Amaral (1886-1973).
Oito obras apresentadas integraram o histórico evento no Theatro Municipal de São Paulo em 1922. Outras raridades são as esculturas em terracota “São Francisco com bandolim” (década de 1940) e “Cabeça feminina” (década de 1940), de Brecheret; o desenho “Cabeça de homem (verde)”, 1915-1916, de Anita Malfatti; e três desenhos que Di Cavalcanti fez entre 1917 e 1924 para seu lendário álbum de gravuras “Fantoches da meia-noite”: “Fantoche com baralho”, “Fantoche com leque” e “Fantoche no piano”.
A exposição está dividida em quatro módulos: “Brecheret e a Semana de Arte Moderna”, com obras de Brecheret e de artistas que participaram da Semana de 1922: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Zina Aita, Vicente do Rego Monteiro e Helios Seelinger; “O feminino na escultura de Victor Brecheret”, com as esculturas, em variados materiais e modalidades, sobre a figura da mulher; “Brecheret e a escultura religiosa”, com obras produzidas nas décadas de 1940 e 1950, que dão a dimensão da importância e da pluralidade de sua produção religiosa; e “Brecheret e a escultura com temática indígena”, universo a que se dedica cada vez mais no final dos anos 1940, a forma estrutural que perseguia desde a década de 1920, influenciado por Mário de Andrade.
Em uma vitrine, estarão raros exemplares de várias publicações: “Livro de horas de Soror dolorosa” (1920), poema de Guilherme de Almeida que inspirou a escultura exposta por Brecheret na Semana de Arte Moderna de 1922; “A estrela de absinto” (1927), de Oswald de Andrade, romance cujo personagem principal, o escultor Jorge D’Alvellos, é inspirado em Brecheret; “O losango cáqui”(1926), de Mário de Andrade, com capa de Di Cavalcanti; edição fac-similar do Catálogo e do Programa da Semana de Arte Moderna; o “O sacy” (1926-1927), revista modernista fundada por Cornélio Pires; e o álbum de gravuras de Di Cavalcanti “Os fantoches da meia-noite” (1921).
A exposição é acompanhada de um catálogo com 84 páginas, com as imagens das obras e textos de Max Perlingeiro e da pesquisadora Daysi Peccinini.
EVENTO POLÊMICO
Max Perlingeiro observa que “na realidade, foi uma semana de três dias, congregando áreas diversas”. Ele destaca que “o catálogo da exposição de artes plásticas da Semana de Arte Moderna, elaborado por Emiliano Di Cavalcanti, é indicativo do protagonismo do escultor Victor Brecheret na realização do explosivo evento. A lista de esculturas é encabeçada por doze obras do artista, formando um conjunto de marcante presença no saguão do Theatro Municipal durante os três agitados dias entre 13 e 17 de fevereiro de 1922”.
O curador assinala ainda que, em conversa com Paulo Prado, Di Cavalcanti pleiteou a exposição que resultou na Semana de Arte Moderna, tomando como modelo o Festival de Deauville, por sugestão de Marinette Prado e outras semanas de elegância europeia na França. Di Cavalcanti foi o principal organizador do evento, o coordenador das exposições, o criador das peças gráficas: programa e cartaz, responsável pela ida dos artistas do Rio, e ainda expôs doze de suas obras.
Max Perlingeiro acrescenta que Di Cavalcanti, ao ler a repercussão da Semana na imprensa, se decepcionou, afirmando que “a fina flor do que havia de mais direita conservadora na sociedade paulistana ia apadrinhar uma manifestação literária contra tudo que eles apreciam. (...) A Semana de Arte Moderna levou-me a Paris. Era necessária a aventura de uma viagem ao estrangeiro, era necessário tirar uma prova real de mim mesmo fora de um ambiente que me parecia cada vez menor, obstruído pelo começo de um novo academismo, com adesões de novos modernistas” (in “Viagem da minha vida: memórias”, Civilização Brasileira, 1955).
OBRAS QUE INTEGRARAM A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922
As obras que integraram o evento de 1922, e que estarão na exposição da Multiarte, são:
“Onda”, circa 1915-1917, óleo sobre madeira, 26,7 x 36 cm, de Anita Malfatti;
“Fantoches da meia noite”três desenhos a nanquimde Di Cavalcanti;
“Cabeças de negras” (1920), óleo sobre tela, 40,9 x 49,9 cm, e “Lenda amazônica” (1920), aquarela sobre papel, 32 x 11,5 cm, de Vicente do Rego Monteiro;
“Ícaro” (1922), nanquim sobre papel, 20,5 x cm, de Zina Aita; e
“Soror dolorosa”, circa 1919, bronze, 49 x 17 x 39 cm, “Vitória” (1920), bronze, 72,5 x 11,5 x 14,5 cm, e “Ídolo”, circa 1919, bronze, 20 x 46 x 16 cm, de Victor Brecheret
PERCURSO DA EXPOSIÇÃO
• “Brecheret e a Semana de Arte Moderna” – Em diálogo com artistas que participaram da Semana de 1922, estão obras de Anita Malfatti (1889-1964), “Onda”, procedente da coleção Paulo Prado, “Marinha, Monhegan”, procedente da coleção Oswald de Andrade e “Cabeça de homem (verde)”.
Di Cavalcanti está presente com a pintura “Sem título” (1917), que participou da primeira exposição do artista na Casa Editora “O Livro”, de Jacinto Silva, na Rua 15 de novembro, com “Fantoches da meia-noite”, uma das criações mais representativas do processo de instauração do movimento modernista no Brasil, publicado em 1921. Foi editado como um álbum de pranchas contendo os desenhos, medindo 20,3 x 15,5 cm cada. Três pranchas originais de “Fantoches”, não exibidas há mais de 15 anos, estarão presentes nesta exposição, além de um desenho, “Carnaval”, de 1917-1922.
“Ícaro” e “Composição, de Zina Aita” (1900-1967), a artista mineira de origem italiana que estudou em Florença e forma com Anita Malfatti a representação feminina desta exposição, também estão neste segmento.
Vicente do Rego Monteiro, ausente do Brasil como Brecheret, participou da exposição de 1922 com “Cabeças de negras” e “Lenda amazônica”, ambas de 1920.
De Helios Seelinger, duas pinturas, “Morte de Ophelia” (1901), do período em que o artista estudou na Europa com Franz Von Stuck (1863- 1928), e “Sátiro seduz a ninfa Syrinx com a flauta de Pan”, e um desenho “Figura feminina”, como homenagem a esse extraordinário pintor com uma forte tendência modernista, criticado por muitos. Helios foi um dos responsáveis peloreconhecimento de Brecheret.
De Victor Brecheret, está a escultura “Soror dolorosa” (circa 1919), encomenda do escritor Guilherme de Almeida (1890-1969), inspirada em seu “Livro de horas de soror dolorosa”. E também “Ídolo” e “Vitória”, esta última raramente exposta.
• “O feminino na escultura de Victor Brecheret” – “Nas esculturas de Brecheret, a mulher é o elemento que se integra na construção dos mais variados símbolos, alimentados pelo jogo entre a universalidade e o histórico, entre o perene e o transitório”, escreveu Daisy Peccinini.
Dentro da temática feminina, destaca-se a escultura “Dama paulista” (Dona Olívia Guedes Penteado), 1934, uma versão em bronze, também existente em mármore, e ilustrada por um desenho da patrona das artes feito em 1924 por Tarsila do Amaral. A coleção modernista desta paulista que foi um exemplo de cidadania, que soube apresentar o Brasil aos brasileiros, começou a ser formada a partir de sua relação com Tarsila e Oswald de Andrade. Em 1923, visitam juntos os principais ateliês de Paris. Acompanhada do casal, visitando os principais ateliês de Paris, conhece Brecheret, que acabara de ser premiado no Salão de Outono. Estabelecem a partir daí uma relação de profunda amizade. Dona Olívia adquiriria várias de suas esculturas. Dona Olívia adquire também obras de Picasso, Léger, Brâncuși, Marie Laurencin, Foujita e André Lhote, que serão as primeiras de arte moderna que chegam ao Brasil. Dos artistas brasileiros, possuía obras de Tarsila, Segall, e Di Cavalcanti, entre outros. Victor Brecheret é o artista brasileiro mais bem representado em sua coleção.
Completa o módulo a escultura “O beijo”, uma das obras de Brecheret em que a influência de Constantin Brâncuși (1876-1957) é mais visível. Essa influência do artista, a quem Brecheret conhecera em Paris, também por intermédio de Tarsila, é percebida por meio de geometrização, polimentos e utilização dos volumes roliços e ovóides em um caminho de simplificação e fechamento das formas.
• “Brecheret e a escultura religiosa” – As obras de Brecheret, das décadas de 1940 e 1950, nos ajudam a dimensionar a importância, a pluralidade e sua constante produção religiosa. O escultor que, inicialmente, foi influenciado pelo Renouveau Catholique, uma das tendências da Escola de Paris nos anos 1920, não abandonou o tema.
Emanoel Araújo, artista e curador, foi quem melhor definiu este período: “...a representação do sagrado se torna eloqüente como linguagem de uma produção extensa, que atravessa toda a longa trajetória de sua vida. Nele, a arte sacra encontra um modo de percorrer todos os diversos caminhos da expressão escultórica de alguns túmulos de São Paulo, até a delicada sutileza de suas terracotas”.
• “Brecheret e a escultura com temática indígena” – Em busca de uma escultura essencialmente brasileira, Brecheret percebeu na arte indígena a forma estrutural que perseguia desde a década de 1920. Influenciado por Mário de Andrade, que o aconselhara a “abrasileirar sua produção”, ao final dos anos 1940 dedica-se cada vez mais ao universo das formas primitivas da cultura indígena do país. O artista também criou grafismos que lembram as escritas antigas utilizadas pelos antepassados, para esculpir lendas e mitos indígenas. Como escreveu Daisy Peccinini: “A fase da arte indígena de Brecheret durou as duas últimas décadas de sua vida e teve uma solidez, maturidade e qualidade que devem ser reconhecidas atualmente, como já foi em prêmios de Bienal Internacional de São Paulo, prêmio de escultura nacional na primeira Bienal de São Paulo, e salas especiais em bienais seguintes. [...] Tema importante o da arte indígena, considerando-se Brecheret um pioneiro, entre os escultores modernos, na pesquisa dos modelados e entalhes praticados pelos povos originais da nossa terra, que ele translada para as esculturas de modelagem da argila, com uma profunda sensibilidade das formas orgânicas”.
SOBRE VICTOR BRECHERET
Vittorio Breheret (sem a letra “C” no sobrenome) nasceu na Itália, na cidade de Farnese, a pouco mais de 100 km de Roma. Veio para o Brasil com a família aos 10 anos. No Brasil, adotou o nome Victor Brecheret. Aos 30 anos, confirmou sua nacionalidade brasileira. O jovem estudava desenho no Liceu de Artes e Ofícios, o que era muito comum entre os emigrantes italianos com dotes artísticos. Por seu talento, seus generosos tios, apesar dos poucos recursos, decidiram patrocinar uma viagem de estudos para a Europa.
Assim, aos 16 anos foi para Roma. Passou, então, a estudar com o escultor clássico Arturo Dazzi (1881-1966), frequentando a Escola de Belas Artes como ouvinte. Permaneceu em Roma até 1919. Quando retornou ao Brasil, viu-se desambientado em São Paulo. Sem amigos e sem trabalho, procurou o arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928), amigo da época do Liceu, responsável pela construção do Theatro Municipal, junto ao arquiteto e cenógrafo Claudio Rossi (1850-1935), e da Pinacoteca do Estado. Nessa ocasião, o arquiteto cedeu-lhe uma sala no Palácio das Indústrias, onde montou seu primeiro ateliê. Em visita ao local, um grupo de artistas e intelectuais, Di Cavalcanti (1897- 1976), Helios Seelinger (1878-1965), Oswald de Andrade (1890-1954) e Menotti del Picchia (1892-1988), conheceu um escultor excêntrico e ficou admirado com a qualidade de suas obras. Curiosamente, um dia, esse mesmo grupo levou o todo-poderoso Monteiro Lobato (1882-1948) para ver suas obras. Eis que o crítico e editor tão temido pousou o chapéu sobre uma de suas esculturas. Foi o suficiente para que ojovem italiano de sangue quente o retirasse com grande irritação, jogando-o ao chão.
Menotti del Picchia foi o primeiro a exaltar a qualidade de Brecheret. Sob o pseudônimo de “Helios”, uma homenagem ao amigo carioca Helios Seelinger, o “boêmio esteta dos sucessos ruidosos”, segundo o próprio Menotti, passou a publicar entre 1920 e 1921, no Correio Paulistano, uma série de crônicas tendo Victor Brecheret como o artista de suas atenções: “Brecheret pertence à falange de individualidades impressionantes como Gustav Klimt (1862-1918), Lederer, Franz (1870-1919), Anton Hanak (1875-1934), Arturo Dazzi, Antoine Bourdelle (1861-1929), Mirko Basaldella (1910-1969) e este fascinante Ivan Meštrović (1883-1962)”.
Além dele, Monteiro Lobato ressaltou as qualidades do novo artista e publicou na Revista do Brasil duas esculturas de Brecheret, chamando a atenção para sua pouca idade: “...extremamente novo ainda, vinte e dois anos apenas. [...] Honesto, fisicamente sólido, moralmente emperrado na convicção de que o artista moderno não pode ser um mero ‘ecletizador’ de formas revelhas e há de criar arrancando-se do autoritarismo clássico, Brecheret apresenta-nos como a mais séria manifestação de gênio escultural surgida entre nós”.
Ainda Monteiro Lobato chegou ao máximo do entusiasmo quando aconselhou o artista a deixar São Paulo: “Uma coisa só tem a fazer: as malas e raspar-se. São Paulo é um eito”.
SOBRE A MULTIARTE
A Galeria Multiarte nasceu em novembro de 1987, e desde então já realizou perto de 60 exposições gratuitas, coletivas ou individuais de artistas como Antônio Bandeira, Antonio Dias, Di Cavalcanti, Cícero Dias, Iberê Camargo, Raimundo Cela, Rubens Gerchmann, Pedro Américo, Cândido Portinari, Jaildo Marinho, Luciano Figueiredo, Miquel Barceló e Tomie Ohtake, sempre acompanhadas de publicações e pesquisas bibliográficas, somando um acervo de mais de mil imagens impressas ao longo de 30 anos, além de tecer rede com a cidade, firmando parcerias e elaborando exposições em instituições públicas e privadas, como Dragão do Mar, UNIFOR e MAUC-UFC.
Tem uma especial atenção na formação de plateia, promoveu gratuitamente inúmeros encontros, tais como com osantropólogos Roberto da Matta e Lilia Schwarcz, críticos e curadores; Sergio Martins, Fernando Cocchiarale, Aracy Amaral, Agnaldo Farias, artistas como Rubens Gerchmann, Waltercio Caldas, Antonio Dias, Jaildo Marinho, Miquel Barceló e educadores como Charles Watson e Paulo Portella Filho. Havendo, também, a iniciativa de grupos de estudos continuados sobre arte contando com profissionais atuantes no circuito da arte.
Além de incentivar o colecionismo, a Multiarte produz catálogos, de importante conteúdo bibliográfico, assim como primeiro livro raisonné de um artista cearense, Raimundo Cela, hoje uma referência para pesquisas acadêmicas. Desse modo, a Galeria Multiartecompleta 35 anos cheia de grandes histórias, obtidas, principalmente, pela relação com a cidade e com o público.
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Victor BRECHERET E A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922
Apresentação
MAX PERLINGEIRO
Em 2022, comemora-se o centenário da “Semana de Arte Moderna”. Na realidade, uma semana de três dias. As apresentações e mostras da Semana aconteceram no Theatro Municipal de São Paulo, em cujo saguão se instalou uma exposição de arquitetura, esculturas, desenhos e pinturas que escandalizaram o público paulistano, desacostumado com a nova proposta estética da arte no século XX. Congregando áreas diversas, o evento promoveu três festivais, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro.
No dia 29 de janeiro de 1922, o jornal O Estado de S.Paulo publica a seguinte notícia:
“Semana de Arte Moderna
Por iniciativa do festejado escritor Sr. Graça Aranha, da Academia Brasileira de Letras, haverá em São Paulo uma Semana de Arte Moderna, em que tomarão parte os artistas que, no nosso meio, representem as mais modernas correntes artísticas.
Patrocinam essa iniciativa os Srs. Paulo Prado, Alfredo Pujol, Oscar Rodrigues Alves, Numa de Oliveira, Alberto Penteado, René Thiollier, Antônio Prado Júnior, José Carlos Macedo Soares, Martinho Prado, Armando Penteado e Edgar Conceição.
Para tal fim achar-se-á aberto o Theatro Municipal durante a semana de 11 a 18 de fevereiro próximo, instalando-se aí uma interessante exposição.
Figuram até agora nos programas organizados: Música: Vila Lobos, Guiomar Novais, Paulina d’Ambrósio, Ernani Braga, Alfredo Gomes, Frutuoso e Lucília Villa-Lobos.
Literatura: Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Álvaro Moreyra, Elísio de Carvalho, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Renato de Almeida, Luís Aranha, Mário de Andrade, Ribeiro Couto, Agenor Barbosa, Deabreu, Rodrigues de Almeida, Afonso Schmidt, Sérgio Milliet e Motta Filho.
Escultura: Victor Brecheret, Hildegardo Leão Veloso e Haaberg.
Pintura: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Ferrignac, Zina Aita, Mar-
tins Ribeiro, Oswaldo Goeldi, Regina Graz, John Graz e Castelo.
Arquitetura: Antônio Moya e George Pzirembel.
A parte literária e musical será dividida em três espetáculos, contando com o concurso de Graça Aranha, que fará uma conferência inaugurando a Semana de Arte Moderna. A parte musical, além de apresentar a São Paulo o compositor brasileiro Villa-Lobos, que traz do Rio o seu quinteto, tem o apoio da ilustre Guiomar Novais.”
Repercussão deste anúncio na imprensa por Di Cavalcanti: “Lendo essa notícia ri para mim mesmo: a fina flor do que havia de mais direita conservadora na sociedade paulistana ia apadrinhar uma manifestação literária contra tudo que eles apreciam. Só não tocávamos na estabilidade econômica desses senhores. Mas logo depois a economia desse grupo ia começar também a ser perturbada desde aquele ano de 1922, com o Dr. Epitácio Pessoa no Governo, autoritário e senhor de todas as vaidades pessoais, a fustigar interesses de grupos, pondo os jornais da oposição em luta, criando a revolta militar que explode com o episódio dos 18 do Forte de Copacabana. E se foi Paulo Prado o fator de êxito da Semana de Arte Moderna, seu pai, o conselheiro Antônio Prado, foi a figura maior que empurrou o Partido Democrático e ambos, sob a influência de Graça Aranha, ajudaram no exílio os futuros tenentes de 1930...”.
Decepcionado com o acontecido, Di comenta ainda: “A Semana de Arte Moderna levou-me a Paris. Era necessária a aventura de uma viagem ao estrangeiro, era necessário tirar uma prova real de mim mesmo fora de um ambiente que me parecia cada vez menor, obstruído pelo começo de um novo academismo, com adesões de novos modernistas. Quando menos se esperava lá vinha um modernista do Norte ou do Sul, genial e incompreendido” (In: Viagem da minha vida: memórias, Civilização Brasileira, 1955).
EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DA SEMANA DE 1922
Em comemoração ao centenário da Semana de Arte Moderna, a Multiarte e a Pinakotheke, em colaboração com o Instituto Victor Brecheret, decidiram homenagear o escultor Victor Brecheret, o grande protagonista da divisão de artes plásticas.
“O catálogo da exposição de artes plásticas da Semana de Arte Moderna, elaborado por Emiliano Di Cavalcanti, é indicativo do protagonismo do escultor Victor Brecheret na realização do explosivo evento. A lista de obras de escultura é encabeçada por doze obras do artista, formando um conjunto de marcante presença no saguão do Theatro Municipal durante os três agitados dias entre 13 e 17 de fevereiro de 1922. O artista estava ausente do país, em Paris, desde julho de 1921, pensionado pelo governo paulista por cinco anos, mas presente com suas obras” (Daisy Peccinini, in: Revista USP, São Paulo, n. 94, p. 39-48, junho/julho/agosto 2012).
A essência de sua biografia faz parte do conceito desta exposição, apresentada em quatro módulos distintos.
O primeiro módulo, “Brecheret e a Semana de Arte Moderna” – em diálogo com artistas que participaram da Semana de 1922, serão mostradas obras de Anita Malfatti (1889-1964), “Onda”, procedente da coleção Paulo Prado, Marinha, Monhegan, procedente da coleção Oswald de Andrade e Cabeça de homem (verde).
Di Cavalcanti está presente com a pintura Sem título, 1917, que participou da primeira exposição do artista na Casa Editora “O Livro”, de Jacinto Silva, na Rua 15 de novembro, com “Fantoches da meia-noite”, uma das criações mais representativas do processo de instauração do movimento modernista no Brasil, publicado em 1921. Foi editado como um álbum de pranchas contendo os desenhos, medindo 20,3 x 15,5 cm cada. Três pranchas originais de “Fantoches”, não exibidas há mais de 15 anos, estarão presentes nesta exposição, além de um desenho, “Carnaval”, de 1917-1922.
Também há “Ícaro” e Composição, de Zina Aita (1900-1967), a artista mineira de origem italiana que estudou em Florença e forma com Anita Malfatti a representação feminina desta exposição.
Vicente do Rego Monteiro, ausente do Brasil como Brecheret, participou da exposição de 1922 com Cabeças de negras e “Lenda amazônica”, ambas de 1920.
De Helios Seelinger, duas pinturas, “Morte de Ophelia”, de 1901, do período em que o artista estudou na Europa com Franz Von Stuck (1863- 1928), e “Sátiro seduz a ninfa Syrinx com a flauta de Pan”, e um desenho “Figura feminina”, como homenagem a esse extraordinário pintor com uma forte tendência modernista, criticado por muitos, entre eles Gonzaga Duque (1863-1911). O crítico definiu a obra de Seelinger como “uma impulsiva tendência para a arte decorativa. [...] Uma desenvoltura macabra de contorções grotescas como numa epilepsia de prazeres”. Segundo Duque, o artista “atinge a generalidades sociais, resume filosofias aplicadas de legendas que prescindem da frase escrita”. Helios foi um dos responsáveis pelo
reconhecimento de Brecheret.
De Victor Brecheret, apresenta-se a escultura “Soror dolorosa”, circa 1919, encomenda do escritor Guilherme de Almeida (1890-1969), inspirada em seu Livro de horas de soror dolorosa. E também “Ídolo” e “Vitória”, esta última raramente exposta.
Numa vitrine, poderão ser apreciados exemplares do Livro de horas de Soror dolorosa, poema de Guilherme de Almeida que inspirou a escultura exposta por Brecheret na Semana de Arte Moderna de 1922; de A estrela de absinto, de Oswald de Andrade, 1927, romance cujo personagem principal, o escultor Jorge D’Alvellos, é inspirado em Brecheret; de O sacy, publicação modernista; e O losango cáqui, 1926, de Mário de Andrade, com capa de Di Cavalcanti e edição facsimilar do Catálogo e do Programa da Semana de Arte Moderna, além do raro álbum de gravuras de Di Cavalcanti “Os fantoches da meia-noite”.
O segundo módulo, “O feminino na escultura de Victor Brecheret” – “O contingente de esculturas femininas que Brecheret realizou durante sua vida, em variados materiais e diversas modalidades, em pequenas, médias e grandes dimensões, tem sua origem na impressão visual e tátil que o artista tinha dos corpos femininos. [...] Nas esculturas de Brecheret, a mulher é o elemento que se integra na construção dos mais variados símbolos, alimentados pelo jogo entre a universalidade e o histórico, entre o perene e o transitório”, disse Daisy Peccinini em 2015.
Dentro da temática feminina, destaca-se neste módulo a escultura de Brecheret “Dama paulista” (Dona Olívia Guedes Penteado), 1934, uma versão em bronze, também existente em mármore, e ilustrada por um desenho da patrona das artes feito em 1924 por Tarsila do Amaral (1886-1973). A coleção modernista dessa paulista que foi um exemplo de cidadania, que soube apresentar o Brasil aos brasileiros, começou a ser formada a partir de sua relação com Tarsila e Oswald de Andrade. Em 1923, visitam juntos os principais ateliês de Paris. Acompanhada do casal, visitando os principais ateliês de Paris, conhece Brecheret, que acabara de ser premiado no Salão de Outono. Estabelecem a partir daí uma relação de profunda amizade. Dona Olívia adquiriria várias de suas esculturas. Dona Olívia adquire também obras de Picasso, Léger, Brâncuși, Marie Laurencin, Foujita e André Lhote, que serão as primeiras de arte moderna que chegam ao Brasil. Dos artistas brasileiros, possuía obras de Tarsila, Segall, e Di Cavalcanti, entre outros. Victor Brecheret é o artista brasileiro mais bem representado em sua coleção.
Apresentamos ainda a escultura “O beijo”, uma das obras de Brecheret em que a influência de Constantin Brâncuși (1876-1957) é mais visível. Essa influência do artista, a quem Brecheret conhecera em Paris, também por intermédio de Tarsila, é percebida por meio de geometrização, polimentos e utilização dos volumes roliços e ovóides em um caminho de simplificação e fechamento das formas.
O terceiro módulo, “Brecheret e a escultura religiosa” – as obras de Brecheret, das décadas de 1940 e 1950, ajudam-nos a dimensionar a importância, a pluralidade e sua constante produção religiosa. O escultor que, inicialmente, foi influenciado pelo Renouveau Catholique, uma das tendências da Escola de Paris nos anos 1920, não abandonou o tema.
Emanoel Araújo, artista e curador, foi quem melhor definiu este período: “...a representação do sagrado se torna eloquente como linguagem de uma produção extensa, que atravessa toda a longa trajetória de sua vida. Nele, a arte sacra encontra um modo de percorrer todos os diversos caminhos da expressão escultórica de alguns túmulos de São Paulo, até a delicada sutileza de suas terracotas”.
O quarto módulo, “Brecheret e a escultura com temática indígena” – em busca de uma escultura essencialmente brasileira, Brecheret percebeu na arte indígena a forma estrutural que perseguia desde a década de 1920. Influenciado por Mário de Andrade, que o aconselhara a “abrasileirar sua produção”, ao final dos anos 1940 dedica-se cada vez mais ao universo das formas primitivas da cultura indígena do país. O artista também criou grafismos que lembram as escritas antigas utilizadas pelos antepassados, para esculpir lendas e mitos indígenas. Como escreveu Daisy Peccinini: “A fase da arte indígena de Brecheret durou as duas últimas décadas de sua vida e teve uma solidez, maturidade e qualidade que devem ser reconhecidas atualmente, como já foi em prêmios de Bienal Internacional de São Paulo, prêmio de escultura nacional na primeira Bienal de São Paulo, e salas especiais em bienais seguintes. [...] Tema importante o da arte indígena, considerando-se Brecheret um pioneiro, entre os escultores modernos, na pesquisa dos modelados e entalhes praticados pelos povos originais da nossa terra, que ele translada para as esculturas de modelagem da argila, com uma profunda sensibilidade das formas orgânicas”.
O ARTISTA
Vittorio Breheret (sem a letra “C” no sobrenome) nasceu na Itália, na cidade de Farnese, a pouco mais de 100 km de Roma. Veio para o Brasil com a família aos 10 anos. No Brasil, adotou o nome Victor Brecheret. Aos 30 anos, confirmou sua nacionalidade brasileira. O jovem estudava desenho no Liceu de Artes e Ofícios, o que era muito comum entre os emigrantes italianos com dotes artísticos. Por seu talento, seus generosos tios, apesar dos poucos recursos, decidiram patrocinar uma viagem de estudos para a Europa.
Assim, aos 16 anos foi para Roma. Passou, então, a estudar com o escultor clássico Arturo Dazzi (1881-1966), frequentando a Escola de Belas Artes como ouvinte. Permaneceu em Roma até 1919. Quando retornou ao Brasil, viu-se desambientado em São Paulo. Sem amigos e sem trabalho, procurou o arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928), amigo da época do Liceu, responsável pela construção do Theatro Municipal, junto ao arquiteto e cenógrafo Claudio Rossi (1850-1935), e da Pinacoteca do Estado. Nessa ocasião, o arquiteto cedeu-lhe uma sala no Palácio das Indústrias, onde montou seu primeiro ateliê. Em visita ao local, um grupo de artistas e intelectuais, Di Cavalcanti (1897- 1976), Helios Seelinger (1878-1965), Oswald de Andrade (1890-1954) e Menotti del Picchia (1892-1988), conheceu um escultor excêntrico e ficou admirado com a qualidade de suas obras. Curiosamente, um dia, esse mesmo grupo levou o todo-poderoso Monteiro Lobato (1882-1948) para ver suas obras. Eis que o crítico e editor tão temido pousou o chapéu sobre uma de suas esculturas. Foi o suficiente para que o
jovem italiano de sangue quente o retirasse com grande irritação, jogando-o ao chão.
Menotti del Picchia foi o primeiro a exaltar a qualidade de Brecheret. Sob o pseudônimo de “Helios”, uma homenagem ao amigo carioca Helios Seelinger, o “boêmio esteta dos sucessos ruidosos”, segundo o próprio Menotti, passou a publicar entre 1920 e 1921, no Correio Paulistano, uma série de crônicas tendo Victor Brecheret como o artista de suas atenções: “Brecheret pertence à falange de individualidades impressionantes como Gustav Klimt (1862-1918), Lederer, Franz (1870-1919), Anton Hanak (1875-1934), Arturo Dazzi, Antoine Bourdelle (1861-1929), Mirko Basaldella (1910-1969) e este fascinante Ivan Meštrović (1883-1962)”.
Além dele, Monteiro Lobato ressaltou as qualidades do novo artista e publicou na Revista do Brasil duas esculturas de Brecheret, chamando a atenção para sua pouca idade: “...extremamente novo ainda, vinte e dois anos apenas. [...] Honesto, fisicamente sólido, moralmente emperrado na convicção de que o artista moderno não pode ser um mero ‘ecletizador’ de formas revelhas e há de criar arrancando-se do autoritarismo clássico, Brecheret apresenta-nos como a mais séria manifestação de gênio escultural surgida entre nós”.
Ainda Monteiro Lobato chegou ao máximo do entusiasmo quando aconselhou o artista a deixar São Paulo: “Uma coisa só tem a fazer: as malas e raspar-se. São Paulo é um eito”.
Exposición. 31 oct de 2024 - 09 feb de 2025 / Artium - Centro Museo Vasco de Arte Contemporáneo / Vitoria-Gasteiz, Álava, España