Descripción de la Exposición
Falaremos claramente desde o início. Não há isso. Não há indivíduos, longe disso. Não, Francisco; não, Ricardo. Longe disso, muito longe. Não falaremos de galeria. Menos, dos textos, que tentam sempre dar a si mesmos o poder do sentido. A história do que aqui ocorre é a história das máquinas.
maquina suas quinas em outra sina e se energiza em sua bonina
Máquinas sociais. Uma máquina que emite sons se acopla a outra que os recebe e decodifica, para que se traduzam em gestos. Máquinas impressoras. Os gestos, traduzidos, impõem pigmentos sobre as superfícies. Das superfícies, máquinas luminosas carregam rastros, que atingem outras máquinas. Estas acumulam funções: elas captam os rastros e os transcriam para que se conectem a uma nova máquina de consciência, que, por sua vez, avalia os sinais recebidos e os transpõe em novos gestos de impressão por meio de mais uma máquina emissora de novos pigmentos sobre novas superfícies - ou sobre a mesma, criando novas texturas em sobreposições.
montagem da gente engrenagente semente da nova miragem
Essas máquinas todas se retroalimentam, encaixam-se por suas engrenagens, criam movimentos umas nas outras, alimentadas por mais tantas máquinas que as investem de mais e mais energia. Entretanto, todas elas estão submetidas a máquina de controlo, que estabelece prazos para que tudo seja produzido até determinado momento. Essa última é que cria a vida, dota as engrenagens da dimensão humana, por conceber, nas maquinações de consciência, a ideia de finitude. Há uma caveira pousada sobre a mesa de trabalho.
grande-Outro mais um pouco eu te peço um esforço não me torço
A estranha consciência de um fim, tanto no tempo quanto no espaço, a consciência do prazo e do inconsciente, logo da morte no Outro, infinito do sem-resposta, lugar da dialética impossível, faz com que as máquinas busquem outros sistemas, movidas pela tentativa de sobreviver à sua finitude por meio de seus efeitos, por meio do afeto além de si. Paradoxalmente, criam a ideia de clausura. Com medo de se apagarem em sua finitude, passam a buscar o Outro, para, nele, afirmarem a si: culminam na criação do indivíduo. Uma engenhosa armadilha que desgasta, resseca os óleos das engrenagens.
si a cisma se acima assume a lei a lenda do rei
Do rangir criado pelos dentes que antes se encaixavam delicadamente, como se tudo fosse um só, unindo de maneira silente as diversas partes do processo, como num organismo saudável, agora em meio ao barulho ensurdecedor que criam, enquanto a produção agoniza, dessa massa amorfa de sentido são destacados alguns dos ruídos que se repetem em meio à agonia, criando uma máquina de sons, mas dos sons que surgem dos estertores, provocados pela máquina de controlo. Essa nova máquina de sons é conhecida como máquina da língua.
como lâminas como os sons e sondam eles os sentidos dos trons entre gentes
Dentre os ruídos, a máquina da língua tenta selecionar aqueles que atuem para conectar as partes externas ao sistema fechado pela máquina de controlo. Esses sons atuam mecanicamente para selecionar produtos. Estes que definem os limites desta exposição. São dois os que balizam os demais movimentos sonoros: sinestesia e sinergia, os quais se encadeiam numa sin(estesia)ergia.
sins sobre sins aos outros aos cinzas aos brancos e todas as cores dos entornos
Pelo trabalho desses novos elementos linguísticos, novas engrenagens aderem ao sistema, reduzindo as distâncias, as diferenças criadas pelo controlo na máquina de consciência: o individualismo; o corpo-claustro. Mais sons são agregados ao processo, até os menos rígidos, menos diferenciados por procedimentos claros, como são os da língua; são os sons da máquina musical, que multiplicam seus modos, com tons, timbres, frases, melodias, alturas, intensidades, e interferem na produção também poliflúida dos tons visuais das máquinas de impressão.
tambor dos aborrecimentos cimentam em silêncios as doces melodias depois expandem
Assim, juntam-se dois artistas das multiplicidades tonais, antes individualizados, num esforço de aproximação, de apagamento das fronteiras engendradas pela agonia da finalidade.
fixação no ficcional encontro contra os contornos da divisão
Os sons, os gritos do ranger que, em algumas circunstâncias, repelem, agora criam ligações maquínicas. Aderem, ao sistema, a história, a cultura, a geografia, territórios antes distantes se conectam, Angola, Portugal e outras regiões presas nos passos de máquinas viajantes, conexões antes impossíveis se fazem na sensação do agonizar. Surgem imagens dos pigmentos, em processos sinérgicos, porque ligam o antes individualizado; sinestésicos, pois conectam máquinas que tinham diferentes naturezas, como o som e o pigmento, e passam a refletir ancestralidades. Sobrepõem-se mutuamente traços angolanos e portugueses, criam máquinas de sentido imensas vezes aglomeradas em superfícies, deixando restar apenas indícios do que foram - assim como todo o processo de criação que culmina nesta sala de exposição, refletindo-o.
africando áfricas em fricativas lábias e laborando portugais em portentosos ais
O nome desta engenhoca que transparece toda a máquina social em tonalidades, sons, traços, timbres, significados históricos, subtrai o pintor e o músico de suas individualidades e resulta em um processo coletivo, valendo-se das mais diversas peripécias, é o que chamamos Utopia Machine.
música calada no coito do pigmento a menos na palavra aguada da música no momento
Curatorial Text: Caio Gabriel
Exposición. 17 dic de 2024 - 16 mar de 2025 / Museo Picasso Málaga / Málaga, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España