Descripción de la Exposición
Ao observarmos as esculturas de Efrain Almeida, deparamo-nos com um artista de pensamento "arquitetural e premeditado", adjetivos caros ao poeta Stéphane Mallarmé. Com essa condição, Efrain, tal qual o poeta, nos exibe a força da existência dos intervalos, dos espaços negativos, do entorno, onde reside a iminência da arte. Atentamos, a partir das esculturas, ao que está fora das peças - os instantes de pausa, os hiatos. Em tratamentos desaforados ou mais naturalistas, cenas pastorais - éclogas - são construídas, como na tradição da poesia latina. Esculturas são meio de conhecimento do mundo, das mais próximas observações dos quintais, dos gestos familiares, ao amplo tráfico entre o sistema da arte. A obra de Efrain se dedica ao afeto, aprofundando-se no requinte de enunciar comentários sobre o presente, controlando, dosando a autoexpressão. Ao exibir o material natural ou usar o subterfúgio da policromia, Efrain Almeida lida com uma obra sem acaso. Não se reduz ao gesto gratuito, às soluções modais. Escreve seguindo regras de amplas áreas do conhecimento, das artes, da música, da moda. Segue-as para se encontrar com o espiritual. Suprime-se o imprevisto para dar voz, exteriorizar e fixar o inexplicável momento em que o voo de um beija-flor paira no ar. Já são imprevisíveis todos os assuntos. A beleza se aninha ao imprevisível. A lágrima, o gozo, o êxtase não existem em um presente estático. São um continuum. Não podemos manter nada nas mãos. Mas, buscamos sentir o coração, a pulsação do pássaro, justo pela crudelíssima vontade de capturarmos o intruso, a pausa trêmula daquilo que explode em alarido, em revoada. Esses gestos de captura, na maioria das vezes inglórios, são fugidios como a iridescência das plumas que brilham ao mesmo tempo em que se desvanecem. Momentos diáfanos para pensamentos transcendentes, como dedicar o brilho da seda aos altares dos deuses.
Para alcançar a pausa em pleno voo, a escultura de Efrain Almeida lança mão da perversa violência de dividir, esquartejar, talhar a madeira, a matriz. Uma divisão em pedaços. E depois, volta-se a colar as partes, agora golpeadas pelo gesto do desenho, da escultura, do bordado. Todos os subterfúgios estão liberados para o apuro das peças: o bronze, a policromia. "Detalhar", dirá Didi-Huberman, é enumerar as partes de um todo, como se o "talho" tivesse servido apenas para dar as condições de possibilidade de uma contabilização total, sem resto. Efrain nos exibe de modo amplo os restos, as sobras, os talhos. O detalhe, então, muito observado na obra do artista, é uma descrição exaustiva até nos perdermos do real. O fragmento, aqui, se relaciona com o todo para "questioná-lo, para assumi-lo como ausência, enigma ou memória perdida". Voltar à obra de Efrain é partilhar de uma experiência renovada. Confirma-se, assim, que a arte deve sempre recomeçar.
Marcelo Campos, curador
Exposición. 14 nov de 2024 - 08 dic de 2024 / Centro de Creación Contemporánea de Andalucía (C3A) / Córdoba, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España