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uma casa feita de chão

Exposición / Marli Matsumoto / Rua João Alberto Moreira, 128 / São Paulo, Sao Paulo, Brasil
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Cuándo:
25 mar de 2023 - 04 jul de 2023

Inauguración:
25 mar de 2023

Precio:
Entrada gratuita

Organizada por:
Marli Matsumoto

Artistas participantes:
Raphaela Melsohn

       


Descripción de la Exposición

Os copos estão limpos de novo, você pode voltar para enchê-los mesmo que eles não sejam suficientes para comportar tudo, e quando começar a vazar vamos ter que usar nossas mãos em concha. Uma pequena ruína do tamanho de uma caixa de sapato, quem ama isso, aperte até que fique infeliz e mesmo assim não vai embora. Quem poderá amar esse mundo, que anseia por ser despedaçado, malocado em sacos e punhados. E quem imagina que pode ficar com ele. A sensação mais recente com as balas do Felix* era que elas eram muitas, demais, 318 kg de projéteis pretos embalados em papéis plásticos distribuídos num retângulo raso de 6 metros do lado menor, no meio do chão cimentado, ao invés da tradicional pilha na proporção de um corpo. Não era o Ross; A única paz estava no seu perímetro, a passagem regular em 3 dos 4 lados. Era sobre uma guerra. Um corpo estraçalhado até seus componentes moleculares, espalhado como grama, e mesmo isso é otimista demais. Eu durmo com uma pessoa, mas às vezes ainda acordo embaixo do travesseiro mais pesado, abraçando seu quadril, sorrindo para o teto que está além da sua cabeça. Há uma mancha de água, uma bolha que incha quando chove, mas nunca se parte, o meu antigo teto não tinha isso, mas estava começando a rachar, e a gente fingia que era um rio, mas não um rio molhado, uma linha rio num mapa, e ninguém sabia como sair dali a não ser você; e eu, anos depois. Bicho nenhum gosta de ser acordado. A gente não cai do céu, nem espera isso, nem confia nisso, nem quer isso mais. Ferramentas são extensões do corpo: dentes longos e afiados que rasgam o local da escavação, cuspindo poeira em pilhas organizadas, e o próprio operador, que pode estar mastigando; dedos fortes e borrachudos, centenas deles; garras para abrir coisas (os dentes dos dedos); uma imagem delimitada, suspensa no tempo, com percepção extraída, finita e portátil, a linguagem uma simples bolha em torno de um berro, e basta uma agulha para fazer tudo escoar, para sentir o mundo lá dentro, quente e vermelho. Aqui, um pé ferido, um dedão de verdade entra e sai, faz-se um buraco que não é passagem. As ferramentas voltam a ter a escala da criança no chão, destruidora e reparadora de mundos, deitada entre a cama e a parede. A ferida é uma saída, e também uma entrada. Vive-se o suficiente para entender que todos os corpos são pequenos. Há muito tempo atrás especulávamos que o olhar humano expele uma substância imperceptível que envolve seu objeto de estudo com suas antenas sensíveis, uma rede, uma armadilha, um abraço, hábitos breves*; pensávamos que um olhar podia prender e soltar, inspecionar, apertar e até se embolar no caminho de volta arrastando o mundo consigo, tornando-o ruína. Alegre, pequeno, ferido, muito forte. Os dedos na superfície mole desenham um rosto, parte de um mundo, e com um gesto o apagam. Nada do que importa se foi. É isso o que se tem para amar. Dana DeGiulio para Raphaela Melsohn: Uma casa feita de chão March 2023 * Trabalho de Felix Gonzalez-Torres “Untitled’ (Public Opinion),” exposto no começo de 2023 na Galeria David Zwirner em Nova York. * “Hábitos breves” é uma expressão retirada de um texto de Nietzche “short-lived habits” Pensei essa exposição sentada e deitada, olhando para o teto. Com o máximo de membros perto do chão. Desde criança, eu costumava deitar no chão, olhar para o teto e levantar as pernas imaginando um mundo de cabeça para baixo onde eu andava no branco infinito do forro. Cada objeto que me rodeava tinha que se reorientar. Eu não podia alcançar o tapete mais, eu tinha que re-elaborar o jeito de tocar nas coisas. Sentir o mangue nos pés é entender o chão. Não faz sentido usar sapato, a água do mangue puxa e faz o calçado grudar. Só a pele consegue se locomover lá. Caminhar no mangue é fazer um contrato com tudo que ali habita. Sola vulnerável. No chão, se sabe que tudo vem debaixo e que é ali que tem vida. Uma vida que não chega em mim – criatura da superfície. Caminhando no mangue se pode sentir o chão mudar sob seus pés. Raspando o dedo com força na areia molhada abro buracos. Eu tapo o buraco com a mesma areia que tirei. A cor da areia é outra, o que coloco de volta não é mais a mesma areia que estava ali antes. Raphaela Melsohn Anotações sobre o chão 2022/2023


Entrada actualizada el el 18 abr de 2023

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