Recebo como um presente o convite para expor minhas obras neste espaço depois de tantos anos de convívio com o universo de Iberê Camargo (1914-1994) e com a Fundação que guarda tantas camadas de gestos em torno de sua obra.
Fui seu assistente, impressor e coordeno o Ateliê de Gravura da instituição onde sigo na troca e no aprendizado com outros artistas. Iberê dizia que todo artista deveria ser como um rio com suas águas que se renovam sempre.
Sou artista de ofício, de ateliê. Meu trabalho é muito manual, meu corpo está ali junto impresso na obra. Papel, pigmento, mão e pensamento são os elementos essenciais da minha prática.
No desenho e na pintura me expresso como numa gravura expandida. Adenso o pigmento em pastel seco de carbono com pressão à palmo sobre o papel e revelo diferentes matizes do preto que cobre e descobre o branco da superfície por vezes rasgada...criando texturas aveludadas para o claro e para o escuro.
Em Um rio que passa apresento desenhos, pinturas e monotipias na maior parte em grande formato. A escolha desta dimensão deve-se à minha busca em estabelecer um diálogo, e sustentá-lo, com as paredes tão presentes do prédio. Minha experiência estética com esta arquitetura é renovada a cada dia. Espaço e escala humana ganharam novos sentidos para mim.
Na busca da construção de uma obra no plano bidimensional tenho também como referência algumas obras da história da arte, como as de Giotto (1267-1337) e de Masaccio (1401-1428), para a composição da cena.
No conjunto de obras realizadas para esta exposição expresso meu pensamento sobre a tensão e a suspensão do tempo que vivemos. São paisagens urbanas em ruínas.
Projeto imagens de uma Babel que explodiu, de um plano piloto em desconstrução, de uma torrente de água que inunda o cenário ausente de presença humana e de um trampolim à espera do salto e do mergulho de quem as contempla.
Eduardo Haesbaert
Entrada actualizada el el 10 ago de 2021
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