Descripción de la Exposición
NO TODO COMUM
Quando se enuncia um detalhe num todo, literalmente, enuncia-se uma parte desse todo, que, apresentando-se como detalhe, pressupõe o olhar que nele se detêm. Ou seja, uma parte que não precisaria de espectador para existir, mas que assim se afirma pelo facto de ser vista…
Um detalhe… e, através dele, o todo de que fará parte… em diferido, o detalhe anuncia o todo e o todo o detalhe…
Assim, detalhe e todo, fingem escapar à necessidade de definição.
O que é um detalhe? É uma parte de um todo… E um todo é feito de múltiplos detalhes…
Quando um artista decide representar alguma coisa, é o detalhe ou o todo do infinito fora de campo gerado que lhe interessa?
Um dos detalhes que o Carlos Noronha Feio decidiu escolher é a entrada de uma gruta. Gruta cuja extensão, profundidade só podemos tentar adivinhar… Se não soubermos tratar-se, de facto, de uma gruta artificial, que é uma gruta, mas também a sua representação e, por isso, aquela e qualquer gruta.
O outro detalhe, sendo uma flor (ou, melhor, uma flor em primeiro plano, entidade natural, mas que se estranha como um alien) parece ser um detalhe de outra natureza… porque uma gruta não é uma coisa, é um caminho, um percurso em potência, um percurso pelas entranhas da terra. E, numa gruta, sentimo-nos entrar desde o momento em que a olhamos. Sabendo que, se obedecermos assim à ideia de gruta, da entrada temos a certeza, ao mesmo tempo que duvidamos da capacidade de dela sair… Porque as grutas são assim.
Mas nesta exposição há outros detalhes a que não atribuímos nome como os que nos são dados pelas linhas de luz, linhas materializadas por néons, com desenhos como gestos, fragmentos de gestos de luz, segmentos de gestos… Mas aqui, mais do que resíduos de registos gestuais que evocariam a mão do artista, estas linhas dão a ver o que estará certamente na origem dos gestos do desenho e que existe antes do desenho… a percepção dos detalhes do todo que são assim, informes, sem direção, mesmo sem escala, sem dimensão…, nem grandes nem pequenas, coisas primordiais anteriores a qualquer geometria, imunes à geometria… até à própria ideia de geometria.
Estas linhas de luz… e longos planos de seda onde vemos a imagem de uma gruta ou a imagem de uma flor… A imagem em seda como se se aproximasse de estar em suporte algum. A seda que é pelicular, um tecido que só tem a espessura suficiente para existir…
E cada detalhe, num todo comum.
Não só num todo, mas num todo comum. O que leva a pensar na existência de outros todos. Outros todos de que não farão parte estes detalhes. Estranhos a estes detalhes, provavelmente estranhos a nós, capazes de reconhecer ou imaginar estes detalhes. Outros todos, eventualmente incluindo outros todos sem detalhes.
Coimbra 19 de Maio de 2021
António Olaio
Premio. 27 ene de 2025 - 10 mar de 2025 / Vitoria-Gasteiz, Álava, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España