Descripción de la Exposición
Um cão com uma cauda notável, um truque de circo indescritível com seres microscópios do espaço, um arco-íris, um calçado muito desconfortável mas eterno, os últimos dias de uma pulga minúscula num mundo fictício, uma melancia bidimensional que se parece com a lua de lado, a fonte da juventude, um pôr-do-sol perpétuo seguido pelo cair da noite, um elefante de 20 centímetros, uma limonada que sabe a laranja, um comboio a vapor fantasma que segue para norte e para sul ao mesmo tempo, um planeta feito de queijo, neve a cair na Antártida enquanto toda a gente dorme, um dromedário bastante grande a tomar banho numa banheira consideravelmente pequena, um ecrã pousado durante muito tempo numa pedra arredondada, um quadro suprematista que Kazimir Malevich nunca terá conseguido fazer, etc e tal…*
A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar Um cão com uma cauda notável, a nova exposição do duo português João Maria Gusmão & Pedro Paiva no Galpão (Barra Funda). A mostra é composta por uma sala com seis projeções de slides, além de um grupo com quinze esculturas em bronze patinado. Nas obras, os artistas examinam nossa relação com a realidade para subvertê-la com humor e sensibilidade, conferindo às coisas triviais uma aura enigmática.
Instaladas em uma sala escura, as seis projeções exploram a linguagem do filme – ou, mais especificamente, do proto-cinema – através de um complexo sistema de projetores alterados, filtros e mecanismos em sincronia. As imagens são formadas com diferentes camadas e projetadas em um processo similar à lanterna mágica, aparelho inventado no século XVII. Padrões simples e coloridos formam imagens cinéticas: uma torneira abrindo e fechando, a neve caindo, a silhueta de um camelo passando na frente das pirâmides. Episódios banais ganham contornos fantasiosos, como em um truque de ilusionista.
No grupo de esculturas, a dupla também utiliza bases esquemáticas simplificadas para criar as figuras. Eles optam por modelar não as peças em si, mas seus moldes – um recurso que abre possibilidades ao acaso e os afasta de qualquer apreensão de estilo. A lógica dos trabalhos está intimamente relacionada ao desenho feito despretensiosamente, em uma ação quase distraída, como acontece em Duas marteladas ou em Escultura grávida. Outras obras apresentam-se como droodles em três dimensões que propõem enigmas com associações inusitadas entre a peça e seu título: uma forma ovoide sobre um plano é um Dromedário debaixo de água, enquanto um relevo quadrado com padrões circulares é Canto de queijo.
João Maria Gusmão (Lisboa, 1979) e Pedro Paiva (Lisboa, 1977) colaboram desde 2001 criando filmes, esculturas, fotografias, instalações e publicações. Suas individuais recentes incluem: Lua Cão (com Alexandre Estrela), Kunstverein München (Munique, 2018); The Sleeping Eskimo, Aargauer Kunsthaus (Aarau, Suíça, 2016); Papagaio, mostra itinerante que passou por Hangar Bicocca (Milão, 2014), Camden Arts Center (Londres, 2015) e KW Institute for Contemporary Art (Berlim, 2015); The Missing Hippopotamus, Kölnischer Kunstverein (Colônia, 2015). Dentre as coletivas, destacam-se as participações nas Bienais de Veneza (2013, 2009), de Gwangju (Coreia do Sul, 2010) e de São Paulo (2006).
* O título da exposição, Um cão com uma cauda notável, refere-se à descrição de um elemento que acompanha uma escultura de um busto em bronze. Este busto, exercício formal de pareidolia rochosa, vagamente humanoide, faz-se acompanhar, portanto, por um cão; parcela praticamente insignificante tendo em conta a parafernália de esculturas e projeções mostradas no Galpão. Os artistas, inconformados com a extensão canina que um título pressupõe, que neste caso, de forma redobrada, por nomear apenas um detalhe, uma forma selecionada, um momento espiralado, artificial e quase aleatório de um atributo (cauda notável) de uma figura acessória (o cão) da própria escultura (o busto), e assumindo a vocação descritiva nos restantes trabalhos expostos, propõem o seguinte segundo título.
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