Descripción de la Exposición
Seria a consciência um privilégio nosso, dos humanos, como prega sua definição no dicionário? Nos entenderíamos singulares em relação às outras existências justamente por isso? Por mais que muitos ainda acreditem nessa ideia, parece que a natureza tem nos dado recados que apontam a necessidade de seguirmos num caminho contrário. Num caminho de consciência da existência de outras consciências. Essas questões mostram o quanto precisamos pensar sobre nossa relação com a terra e com todas as espécies que habitam esse planeta junto conosco. Os trabalhos apresentados por Cristiano Lenhardt, em UÔIÔU, nos levam a esse e a tantos outros questionamentos urgentes.
As oito obras que compõem a mostra são extremamente significativas de um momento específico da sua vida. Desde 2019, o artista mudou-se para um sítio, o Mundo Bicho, isolado, literalmente cravado numa reserva de mata atlântica, em São Lourenço da Mata. Lá não há natureza domesticada, roçados bem trilhados, monoculturas, há uma imersão no tempo, no ritmo, nos sons, nas formas de vida… A própria casa, uma intervenção humana, parecer se adaptar ao ambiente que vive e cresce ao seu redor. Trata-se de um processo de imersão e de convívio, de respeito, “de escuta às outras consciências além das humanas, no reino vegetal, animal, mineral”, nas palavras do artista.
É esse escuta que ele nos traz nas obras apresentadas em UÔIÔU. Se antes o artista compunha suas gravuras com papel e tinta, agora parte para o uso do linho, um tecido natural, também, dobrado e pigmentado com uma compostagem. Nesse novo processo, as incertezas aumentam. Sabemos pouco sobre o que aquele composto orgânico vai nos trazer. Mas isso pouco importa. É o mistério de uma nova forma de conhecimento que nos traz novas sensações (interpretações).
As gravuras se completam através de uma delicada costura de placas de alumínio (vindas de latas consumidas pelo artista e separadas para reciclagem) sobre o tecido. Nelas, ele escreve seus Broto Cartas – outra pesquisa realizada há algum tempo e que ganha nova materialização e organicidade. A partir de uma palavra escrita e espelhada, ele traça desenhos (neste caso pequenos furos que remetem a mapas estelares, algo que dialoga também com trabalhos anteriores) que tornam aquela palavra ilegível, como as mensagens muitas vezes indecifráveis da natureza, e com toda sua complexidade. O próprio nome UÔIÔU é um desafio, um Broto Carta, um enigma que o artista nos apresenta. Se assemelham a totens, esfinges, oráculos, monolitos, entendidos como sujeitos dotados de consciência, bem como tudo que nos cerca, basta ter respeito e um olhar sem hierarquia.
Sim, porque para coabitar, não é necessário entender e racionalizar tudo. Sentir, escutar, conviver, já é suficiente. Lenhardt nos convida justamente a isso, não a decifrar suas esfinges, mas a escutá-las e senti-las. E através dessa escuta, entre iguais, podermos nos enxergar também como natureza sagrada.
Curadoria Mariana Oliveira
Exposición. 12 nov de 2024 - 09 feb de 2025 / Museo Nacional Thyssen-Bornemisza / Madrid, España