Descripción de la Exposición
Neste desenho/instalação site-specific, pensado para a Estufa Doce da Estufa Fria de Lisboa, Bruno Cidra apresenta Tutorar, uma proposta que, formalmente, simboliza o ato do mesmo nome enquanto prática de acréscimo de uma haste, fio ou vara a uma planta de modo a protegê-la de se vergar. Contudo, se por um lado este preâmbulo simboliza a criação de um dispositivo que orienta o crescimento de um ser (um tutor, por excelência), por outro introduz um conflito vital e indómito sobre o mesmo, aprisionando-o. Cruzando esta ideia com o próprio processo escultórico, encontramos na génese da relação entre o artista e a matéria este mesmo antagonismo, onde o fazer não só se sustém na orientação e controlo físico do objeto, como simultaneamente procura um contínuo exercício de mediação entre as vontades únicas de cada matéria – o papel e o ferro – contrariando, por vezes, a sua própria natureza.
A peça, formada por delicadas esculturas – que surgem semeadas como se de outros seres se tratassem – dita uma composição onde estes elementos não só se fundem com a volúpia e silêncio da natureza em volta, como anunciam, noutros instantes, funções necessárias à sua estabilidade. Cada vestígio encontrado conduz-nos a um mesmo e constante questionamento acerca da tensão que o contraste matérico das obras desperta, bem como das formas simultaneamente arquitectónicas e orgânicas. Insurgem corpos erguidos entre a delicadeza e a brutalidade, a leveza e o peso – em papel, meio usualmente ligado à prática do desenho; e ferro, matéria escultórica clássica – unidos. É necessário, para um entendimento claro desta relação, que a pré condição das esculturas seja o encobrimento claro da sua própria essência, desenvolvido sobre a qualidade certa de uma revelação inerente da sua textura poética, imiscuída entre a atmosfera que as recebe e a sua presença individual.
Dispondo-se no trabalho do artista a arqueologia híbrida de um objeto industrial tornado ruína sensível – pontos e linhas que desenham/escrevem no espaço e edificam uma paisagem/palavra possível dentro daquela já pré-existente – cada fragmento pontua uma memória possivelmente esquecida (de um corpo, de um despojo, de uma ideia) que conflitua com a iminência de uma nova vida, e consequente leitura. Aqui, um grande desenho permeia este éden artificial, regendo a sua disposição sobre uma qualidade inata da sua pertença no que o envolve. Recordamos então outra ideia, a do ser presente, o Dasein enquanto premissa de uma analítica existencial que ultrapassa muito a nossa própria natureza física e que aqui apresenta também o tempo enquanto matéria plástica – tempo que passa sem matar a eternidade – e que ativa a obra quando em sincronia com o espetador.
Tratando-se de um exercício quase hermenêutico sobre o objeto natural em estudo, a instalação traduz-se em diferentes momentos presentes no espaço – flechas de movimentos errantes que se erguem ao ritmo vertical das plantas; pequenos fragmentos díspares, ora sinuosos, ora geométricos, que pontuam o chão e a terra húmida; e alças, tutoras, modeladas in situ e que abraçam os cactos, impedindo-os de partir e evitando a sua queda. Como se de um enxerto se tratasse, é a união destes tecidos, cuidada e protegida – do ferro, do papel, do tempo e da matéria orgânica – que sustém a sua existência, simultaneamente una e múltipla.
Eva Mendes
Exposición. 26 nov de 2021 - 06 mar de 2022 / Estufa Fria / Lisboa, Portugal
Exposición. 17 dic de 2024 - 16 mar de 2025 / Museo Picasso Málaga / Málaga, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España