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Tombo

Exposición / Marli Matsumoto / Rua João Alberto Moreira, 128 / São Paulo, Sao Paulo, Brasil
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Cuándo:
28 ene de 2023 - 11 mar de 2023

Inauguración:
28 ene de 2023

Precio:
Entrada gratuita

Organizada por:
Marli Matsumoto

Artistas participantes:
Alexandre Canônico

       



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Descripción de la Exposición

Coisa de artista Se fosse literatura, talvez o trabalho do Xandi fosse um poema. Não um poema rebuscado, suntuoso, alto, aquela coisa impenetrável, de poeta para poeta, mas um haicai, que combina a linguagem comum e uma estrutura fixa para destilar a beleza de um instante, sem grandes metáforas ou símiles: simplesmente a coisa como ela é. Como eu acho que ele não vai gostar dessa comparação – meio batida, não? – vou mudar. Se fosse literatura, talvez o trabalho do Xandi fosse um daqueles poemas feitos de todo dia, escritos por uma Angélica Freitas ou uma Adília Lopes, duas especialistas em transformar o módico em maravilha. Quando fala do seu trabalho, o Xandi (Alexandre Canonico) usa um tom de voz baixo e um ritmo lento, comedido. É paciente e generoso. “É a serra que faz este tipo de furo aqui? ”. “Não, Ádri, furo quem faz é furadeira”. Apesar de gostar de conversar sobre o trabalho, principalmente sobre a sua feitura, ele prefere não dar muitas explicações e usa a palavra inevitável com frequência. “Por que isto aqui é assim? ” ou “Por que isto parece uma gota, uma bunda, um dedo, uma fruta? ”. “Inevitável”, ele responde, com a exceção do uso de um ou outro sinônimo, sempre rimado, como incontornável ou indispensável. Aos poucos, fui percebendo que inevitável é o ponto em que termina o entendimento e fica só o desejo. Aquilo que fez Orfeu virar-se para Eurídice e estragar tudo. Mas como o Xandi não é o tipo de artista que para em frente à sua obra, estende o braço e brada, “Eis o meu desejo”, a inevitabilidade vira a explicação mais plausível. Perante o desejo indizível que anima o fazer artístico, inevitável é o esclarecimento que dá pra fazer. “Nada de importante, apenas insubstituível”, diria Clarice Lispector. Há quem diga que os trabalhos do Xandi são pinturas: tinta spray sobre MDF. Ele diz que são desenhos. São desenhos e coisas, o desenho da coisa e a coisa em si. Sendo a própria coisa, o desenho é lindo, perfeito, porém inútil, como um mapa em escala natural. O corte com serra traça o contorno, a cor dá o conteúdo e o movimento explica a forma. O trabalho não diz alguma coisa, é alguma coisa. Surge de uma relação horizontal, mútua e correspondida com o material e a ferramenta. Entregue à liturgia paciente de um marceneiro, ele faz, desfaz, espera e vê o que dá para fazer, e é entre o fazer e o que dá pra fazer que ele acha o lugar certo para cada corte, cada encaixe, cada forma, cada cor. Os trabalhos novos são grandes: 185 por 137 cm, a metade de uma folha padrão de MDF. Ele compra a chapa já cortada ao meio, que é para caber no elevador e para que ele consiga carregá-la para dentro do estúdio. A presença da contingência no trabalho do Xandi é tão predominante que, às vezes, parece que ele espera o acidente de percurso perfeito, a materialização do jogo entre aquilo que a gente faz acontecer e aquilo que simplesmente acontece com a gente. Os furos de Carcomido (2022), de Sore Knuckles (2022) e de vários outros trabalhos entre 2021 e 2022 surgiram quando ele começou a cortar formas no centro da placa, sem usar as beiradas para iniciar o corte. “Primeiro, você faz um furo com a furadeira, que é para depois conseguir enfiar a serra tico-tico. Foi aí que eu me atentei para o furo e comecei a repetir”. O que nasce útil ou prático vira poético. A necessidade faz o bonito. É como se cada elemento tivesse que encontrar o seu próprio caminho de entrada no trabalho. A imagem da fita adesiva – que aparece em Sacanagem (2022), Quina (2022) e em todos os trabalhos da exposição – surgiu no dia em que ele foi pintar um parafuso. “Eu usei a fita crepe para segurar o parafuso, para ele não sair voando com a tinta spray. Aí, quando eu tirei a fita, o negativo dela era perfeito”. Essa prática do acidental calculado ou da espontaneidade planejada, além de revelar um apreço pelo acaso, ancora o trabalho no fazer. Um fazer que não é desacompanhado nem mágico, mas tarimbado, mergulhado no universo do material e da ferramenta e atento à sorte. Para colocar tinta nas chapas, o Xandi tira as peças cortadas e usa spray para pintá-las. Quando ele volta essas peças coloridas para dentro dos seus buracos de origem, fica evidente o movimento da cor que situa o olho e traz sentido para o branco do MDF. Só que os trabalhos não seguram esse sentido. Não é a cor que se assume como significado, sentido a gente dá, sentido é a promessa de uma solução possível, provisoriamente óbvia, como num caso de pareidolia: o ímpeto de emprestar significado a um estímulo nebuloso. Ver cara em nuvem. Uma nuvem que passa. Vistos de longe, absortamente ou à primeira vista, os trabalhos dão a impressão de conter ideias ou talvez hipóteses de ideias. Mas, de perto, aquilo que parecia ideia vira coisa. Ser coisa é a ambição do trabalho do Xandi, e é essa vontade de ser coisa que enraíza o trabalho. É o pé no chão de uma arte que se faz ofício, que opta pelo descomplicado para dizer o que acha que precisa dizer. Ainda assim, lá no meio das suas chapas de MDF, o Xandi recorta janelas, dando brecha para o absurdo, para aquilo que a gente tenta dizer e não consegue. Para mim, lá do outro lado, está sol. Minha mão faz sombra nas palavras que eu escrevo. Inevitável é não entender tudo, assim como inevitável é tentar entender. Adriana Francisco São Paulo, janeiro de 2023. --------- ¹ Clarice Lispector. A cidade sitiada. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2019. ² Em “Del rigor en la ciencia”, de 1946, Jorge Luís Borges conta a história de uma sociedade de cartógrafos que, de tão entusiasmados com a precisão da sua ciência, acabam produzindo um mapa do império exatamente do tamanho do império, cobrindo todo o território. ³ “Não há ideias senão nas coisas”, trecho de Paterson (1927), do poeta William Carlos Williams.


Entrada actualizada el el 18 abr de 2023

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