Descripción de la Exposición
A artista Eloá Carvalho tem desenvolvido projetos que partem da história de instituições – por meio da investigação de documentos visuais e textuais, relatos orais, objetos e mobiliário, etc. – para em seguida estabelecer um profícuo diálogo com a memória e as características desses espaços. Seu trabalho articula diferentes camadas de memória, mediante um cuidadoso processo de edição do material pesquisado, propondo conexões entre imagens e narrativas, assim como a articulação de diferentes temporalidades e espacialidades, em consonância com seus locais de exibição.
Em 2013 a artista realizou o projeto Mise en Scène, a partir do acervo iconográfico da Galeria de Arte Ibeu. A pesquisa desdobrou-se na exposição, em que personagens que habitaram aquela galeria em diferentes épocas passaram a coexistir na mesma temporalidade e espacialidade da mostra. A partir desse projeto, Eloá Carvalho foi convidada em 2015 para realizar uma individual na Galeria do Lago, no Museu da República, desenvolvendo sua pesquisa a partir da história e da arquitetura do Palácio do Catete, assim como da relação afetiva dos visitantes do museu em relação à memória do espaço.
O projeto que Eloá Carvalho desenvolve no MAM propõe um retorno à pesquisa iconográfica, considerando-se o arquivo documental das fotografias de exposições realizadas no museu, da década de 1950 até registros produzidos pela própria artista em visitas às mostras recentes. Além da investigação histórica e iconográfica, as pinturas produzidas pela artista para a mostra Todo ideal nasce vago, com curadoria de Ivair Reinaldim, ressaltam sua percepção poética das características físicas e ideológicas dos espaços expositivos e seus usos e afetos a partir da presença do corpo do espectador. Sua linha de pesquisa reforça o uso da documentação histórica não como mera apropriação ou pastiche, mas, a partir de articulações mais complexas, que em si, não escondem idiossincrasias e conflitos internos, para estimular a constituição de novos olhares para o espaço e sua memória.
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Todo ideal nasce vago
A história do Museu de Arte Moderna não é necessariamenteuma narrativa estruturada em uma única linha cronológica, como muitas vezes podemos considerar. De fato, há tantas versões para essa história quantas foram as pessoas que idealizaram a instituição, habitaram seus espaços no decorrer das décadas e fizeram do MAM um marco na cidade do Rio de Janeiro. Ou seja, há tantas narrativas quanto museus, pois ele é sempre múltiplo na singularidade dos relatos e das memórias. Em meio a essa evidência, o modo escolhido por Eloá Carvalho para tecer sua narrativa sui generis partiu deum inventário de imagens de pessoas, objetos e situações que a artista identificou em meio a uma ampla investigação no arquivo da instituição e em bibliografia produzida por outros pesquisadores: um conjunto de imagens e relatos que constituium imaginário-museu multifacetado.
Quem se refere a arquivo, adentra o labirinto. E embora Eloá Carvalho tenha se aventurado nos arquivos iconográficos da instituição – das fotografias de mostras individuais e coletivas às de eventos variados promovidos em seus espaços, de registros dos processos de construção do edifício projetado por Affonso E. Reidy a imagens do público que frequenta os espaços do museu e seus jardins –, o método arqueológico empregado pela artista constitui-se verdadeiro “fio de Ariadne” a conduzi-la nos meandros desse território, capaz de tecer aquilo que é lembrado – e porque é lembrado – comotambém o que é esquecido ou nem sempre inventariado. No entanto, cabe o alerta: o conjunto de pinturas aqui apresentado, resultante desse processo de pesquisa e alinhavo,não se resume à “história do MAM”, muito menos a retrato de personagens de um passado que insiste ou deseja fazer-sepresente. Fragmentos selecionados e elaborados por processos de montagem e construção pictórica emergem desse arquivo ejuntos tornam-se pontos de tessitura de uma narrativa.Guardam, entretanto, sua autonomia ao evidenciarem suas histórias particulares. São imagens que ganham corpo, densidade e visibilidade, insinuando-se mais como presença revolvida do que como evidência comemorativa ou ilustrativa.
Mas, afinal, a que se refere esta exposição? Que ideal é esse em seu título que nasce vago? Um projeto de museu? Um projeto de pintura? Um projeto de arte? Ao olhar para o passado, ao revolver imagens e relatos de arquivos reais e imaginários, ao reativar memórias coletivas e individuais, ao evidenciar apagamentos e esquecimentos, ao reintroduzir esse material no fluxo das visibilidades e na tessitura de sua narrativa, Eloá Carvalho reafirma-o mediante sua existência: fala não de um museu, mas de museus como visões partilhadas entre pessoas; não de pinturas, mas da pintura como ato e modo de conceituar o mundo; não da arte como visão elitista, mas do papel que ela pode e deve assumir diante da formação e do reconhecimento de um mundo em constante transformação. Se o relato reforça que “todo ideal nasce vago”, seja ele qual for, sua continuidade conclui que “é o calor humano que lhe dá corpo e consistência”. Reside aí o testemunho de seu propósito e de sua concretização.
Ivair Reinaldim
Curador
Exposición. 31 oct de 2024 - 09 feb de 2025 / Artium - Centro Museo Vasco de Arte Contemporáneo / Vitoria-Gasteiz, Álava, España