Descripción de la Exposición
Those who are worthy of being loved
Mohamed Almusibli
As pinturas profundamente pessoais de Lia D. Castro servem como uma janela para a realidade daqueles que são marginalizados pela sociedade dominante. Seu trabalho é de confronto, exigindo do espectador que testemunhe as histórias contadas. O uso que Castro faz de pessoas reais de sua vida pessoal como modelos e exemplos ilumina ainda mais como as normas sociais se manifestam em nosso mundo.
Those who are worthy of being loved [Aqueles que são dignos de ser amados], a primeira exposição individual da artista na Europa, fala da crença de Lia de que todos merecem amor, mesmo em ambientes politicamente conservadores, e apresenta três séries distintas de trabalhos que exploram assuntos complexos e muitas vezes tabus relacionados a raça, identidade, comunidade e estruturas capitalistas.
O trabalho de Lia é uma exploração poderosa de questões sociais e políticas por meio da arte, enfatizando a importância da representação, da cura e da inclusão. Ela está empenhada em usar sua arte para educar o público sobre temas como antirracismo e anti-transfobia em diversas instituições, incluindo museus, instituições de arte e empresas nacionais e multinacionais. Seu projeto Seus filhos também praticam mapeia, por meio do trabalho sexual, os comportamentos de homens brancos de classe média e média-alta com idades entre 18 e 25 anos que se identificam como cisgêneros heterossexuais.
A primeira série da exposição de Lia D. Castro, intitulada Axs Nossxs Filhxs, é uma exploração profundamente íntima e instigante da vida de homens jovens, vista através das lentes do trabalho sexual. Nessas pinturas, Lia retrata a si mesma e a seus clientes envolvidos em um ato de união não-convencional, porém terno, com os clientes deitados em seu colo enquanto lê para eles literatura social crítica. Por meio de sua arte, Lia fornece um comentário mordaz sobre a vida de jovens heterossexuais que se envolvem na prostituição e as normas e expectativas sociais que contribuem para seu comportamento.
Apesar da natureza tabu do assunto, as representações de Lia D. Castro não são lascivas ou exploratórias; ao contrário, são gentis e domésticas, transmitindo uma sensação de intimidade e vulnerabilidade. As obras são assinadas pelo cliente e acompanhadas das citações favoritas deles vindas de livros teóricos que leram juntos, o que reforça ainda mais a conexão intelectual e pessoal partilhada com Lia.
Embora os homens em suas pinturas não tenham rosto ou estejam afastados da câmera, seus primeiros nomes são sempre mencionados no titulo da obra, revelando um pedaço de suas identidades que tentam desesperadamente esconder. A arte de Castro é um testemunho do poder de representação e da importância de dar voz àqueles que muitas vezes são silenciados. Ao destacar as experiências daqueles que vivem à margem da sociedade, ela desafia-nos a enfrentar nossos próprios vieses e preconceitos e lutar por um mundo mais justo e inclusivo.
No geral, as duas séries são um exemplo magistral de como a arte pode ser usada para confrontar e desafiar normas e expectativas sociais profundamente arraigadas. Lia convida os espectadores a refletirem sobre as complexas interseções do privilégio, poder e vulnerabilidade e a considerarem as maneiras pelas quais as estruturas sociais contribuem para as experiências dos indivíduos à margem da sociedade.
Na obra de Lia D. Castro, há uma sensação palpável de intimidade e ternura que permeia até suas temáticas mais desafiadores. Isso é particularmente evidente na segunda série de pinturas A Travessia do Rubicão. Essas obras, em preto e branco, retratam uma única flor colorida ao lado de um retrato nu da própria artista. Medindo apenas 20 x 30cm cada, essas naturezas-mortas em pequena escala fornecem uma poderosa reflexão sobre a expectativa de vida de indivíduos trans no Brasil.
Apesar da temática pesada, a abordagem de Lia ao gênero da natureza-morta é gentil e de tom doméstico. As obras irradiam uma sensação de calma e tranquilidade, com cada flor e retrato posicionados de forma natural e não-forçada. O uso do preto e branco confere uma qualidade atemporal às pinturas, conferindo-lhes um sentido de universalidade que transcende o contexto específico de sua criação.
À medida que os espectadores passam de pintura em pintura na série, são convidados a contemplar a transformação física e mental que acompanha a terapia hormonal. As cores brilhantes e vivas das flores servem de contraponto aos tons suaves dos retratos, criando uma sensação de equilíbrio e harmonia nas composições. Essas obras são um mordaz lembrete de que, mesmo diante da adversidade, a vida pode ser bela e digna de ser celebrada.
Nesse sentido, a série de Lia pode ser vista como uma espécie de memento mori, um lembrete da fragilidade e fugacidade da vida. Mas, ao contrário das pinturas memento mori tradicionais, que muitas vezes concentram-se em temas de morte e decadência, as obras de Lia representam e celebram a vida em toda a sua complexidade e diversidade. Dessa forma, elas servem como uma poderosa declaração de resiliência e esperança, um testemunho do poder transformador da arte de curar e inspirar.
A terceira série em exibição é um comentário poderoso sobre o impacto do colonialismo ocidental nas práticas e normas culturais e históricas da arte. Esta série foi produzida em Bruxelas, onde Lia adquiriu pinturas já existentes de paisagens e pintou seus próprios pés sobre elas, inserindo efetivamente seu próprio corpo na composição.
A obra de Lia enfatiza a legitimidade do corpo negro na arte, historicamente marginalizado e excluído dos movimentos artísticos convencionais. Ao pisar nessas pinturas clássicas, Lia confronta o espectador com o impacto contínuo do colonialismo ocidental e a necessidade de repensar as narrativas dominantes na história da arte.
O ato de pisar nas pinturas também pode ser visto como uma reivindicação de espaço, pois Lia insere seu próprio corpo em uma tela historicamente dominada por representações brancas e eurocêntricas de paisagens. O ato de pintar seus próprios pés nessas paisagens serve para interromper e desafiar a visão tradicional das paisagens como passivas, imutáveis e desabitadas, e destaca a importância de representar diversas perspectivas na arte.
Através desta série, Lia convida o espectador a reconsiderar como o colonialismo ocidental moldou nossa compreensão da arte e do mundo ao nosso redor. Ao romper e subverter as representações tradicionais de paisagens, Lia desafia-nos a questionar as narrativas dominantes que se perpetuaram ao longo da história da arte e a criar espaço para perspectivas e vozes alternativas. Esta é uma contribuição poderosa e importante para a arte contemporânea e que nos desafia a confrontar nossos próprios vieses e suposições.
O trabalho de Castro é profundamente pessoal e abre uma janela para a vida daqueles que vivem à margem da sociedade. As pessoas que ela retrata geralmente são aquelas que lutam para encontrar seu lugar em um mundo que se recusa a aceitá-las. A presença de esparadrapo nas pinturas serve como uma metáfora poderosa para os danos e as curas físicos e emocionais como resultado de normas e expectativas sociais vivenciadas por esses indivíduos.
Por meio de seu trabalho, Castro confronta o espectador com a realidade desconfortável de um mundo que muitas vezes obriga os indivíduos a esconderem seu verdadeiro eu. Ao lançar olhares proibidos para esses espaços profundamente pessoais e capturar os personagens retratados nessas posições íntimas, ela desafia-nos a considerar nosso próprio papel na perpetuação de sistemas de opressão e exclusão. Em última análise, o trabalho de Lia D. Castro é um poderoso apelo à ação, incitando-nos a trabalhar por um mundo mais justo e equitativo para todos.
Exposición. 13 dic de 2024 - 04 may de 2025 / CAAC - Centro Andaluz de Arte Contemporáneo / Sevilla, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España