Descripción de la Exposición
Para Rui Horta Pereira (Évora, 1975) o desenho é, chamemos-lhe assim, um projeto global. E integral. E ininterrupto. Obsessivo, clarividente, irónico, omnisciente e inocente, em simultâneo. Um eterno retorno, uma forma de resolver problemas, e de os criar, uma forma de distração, um incessante modo de transporte, no espaço e no tempo. Reunimos, nesta sala a que chamamos Gabinete de Desenho, um alargado e diversificado conjunto de desenhos. Desenhos que são forças e modos (de estar, de agir, de pensar, de curar, de sarar, de rir, de revelar, de prever, de projetar, de dar a ver). No projeto de desenho de Rui H. Pereira, há uma inquietação permanente, uma curiosidade indestrutível, mesmo nas horas de fome e de frio. O desenho é aqui resistência e respiração. É preciso continuar, mas não é evidente que seja a desenhar. Podemos pensar que se continua a desenhar «porque não se sabe fazer mais nada». Ao mergulhar no universo do desenho de RHP, penso que se trata exatamente do contrário: continua-se a desenhar porque se trata da linguagem mais refinada, mais performativa, mais propiciatória que o homem herdou (apurou, preservou). No desenho não há desenhador — o desenho toma conta daquele que desenha. É-se possuído pelo desenho, é-se formado pelo desenho, através dele. Forja (aquilo a que se chama) a individualidade. No conjunto de desenhos apresentados, procuramos encontrar os múltiplos fios narrativos, combinações, aproximações, contaminações, subversivas ou ostensivas, que gerem e geram o projeto rizomático que RHP conduz (ou através do qual é conduzido). Sono é uma extensa série de desenhos recentemente produzidos. São enigmáticos e indefiníveis mas, curiosamente, localizáveis: vão beber a inspiração aos feitiços africanos — o grande sono da razão, tal como outrora (parece ainda ontem) predito pelos surrealistas. Espectro e convulsão tem evidentes paralelismos com Sono. São desenhos densos que geram em permanência formas de aparecimento e de alteridade — fantasmas de coisas que (já) não estão lá. Vidraceiros é um grupo de desenhos que negoceiam com as mesmas forças invisíveis. Aqui, parece haver mais abismo, quer dizer, é onde o desenho denuncia (no sentido de expor) a sua própria condição: ser feito para ser visto através e não propriamente olhado. Outra tipologia emerge com Os curativos: chamemos-lhe desenhos propiciatórios, para nos entendermos. Desenhos que reparam ou que curam. Os curativos são desenhos xamânicos. Por um lado, convocam os antepassados, sob forma animal ou sobre-humana (parece-me que anda por ali Artaud, le Momo), por outro lado, e mais notoriamente, espantam as forças negativas (a doença) ou os maus espíritos, mas têm também a capacidade de trazer para a superfície da folha o tempo por vir e o interior (o avesso) daquilo que vemos. Com Metadesenho os acontecimentos precipitam-se. Tudo irrompe no desenho — palavras, recados, avisos, o desenho torna-se a superfície na qual a imagem e a palavra podem aparecer. Por outras palavras, desenho e quotidiano tornam-se uma e a mesma coisa. Compreendidos entre 2001 e 2015, estes desenhos perfazem cerca de quinze anos de um percurso cujo aparato (o corpo), o argumento (o esqueleto) e o fôlego (a alma) são tremendos e inauditos (para dizer o mínimo).
Rui Horta Pereira (Évora 1975) é formado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Desde o ano 2000, que o seu trabalho se centra, sobretudo, na escultura e no desenho. Tem realizado mostras individuais com regularidade e participado em inúmeras mostras coletivas. Nos últimos anos, recebeu vários apoios à criação de algumas entidades institucionais, das quais se destacam a Fundação Calouste Gulbenkian e a DGARTES.
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