Em sua primeira exposição individual intitulada "Sonhos", Luíza Fortes apresenta sua produção em grafite sobre papel vegetal, montada entre chapas de acrílico. Procedimento que salienta as sombras, transparências e sobreposições desse material. Tal escolha enfatiza a qualidade de não-contenção dos desenhos, apontada por Mário de Andrade como a sua qualidade, à qual voltaremos adiante.
Luíza desenha desde criança, quando produzia dragões voadores. Já na adolescência, apaixonada pelo universo gráfico japonês, passou a criar a sua própria edição de mangás, revistas com histórias de heróis nipônicos. Sua formação em desenho industrial e sua atuação como tatuadora complementam esse campo de interesse, latente desde a infância.
As obras expostas foram a base para as tatuagens que a artista vem realizando profissionalmente há seis anos: cada uma delas é única, produzida exclusivamente para cada cliente, concretizando o imaginário dessa pessoa, o seu desejo interpretado por Luíza. É desse modo que a linha dá vida a...mulheres de máscaras, flores, animais, personagens, caveiras e demais elementos, formando um universo de temas particulares aproximados por traços e transparências.
Para Mário de Andrade, o desenho teria um caráter transitório, sendo considerado uma arte intermediária entre as do tempo e as do espaço. Para ele, deveria ser lido e folheado e não emoldurado, dada a sua característica não-contida. Daí a montagem escolhida por Luíza Fortes possibilitar a continuidade das imagens, suas modificações no espaço e sua permanência como fato aberto.
No caso da tatuagem, a durabilidade coincide com a da pele na qual foi pintada e, como obra de arte viva, é tão finita quanto a própria passagem do corpo pela Terra o é. As agulhas são como canetas de diferentes tamanhos e, assim como o desenho, a tatuagem se constitui como fato aberto, podendo a tatuadora inserir novos traços ou detalhes na pele, bem como o desenho naturalmente pode se transformar.
As sobreposições que Luíza apresenta nesta exposição, assim, aproximam o espectador do universo da tatuagem. Com escalas aproximadas, os desenhos funcionam como colagens nas quais elementos distintos são conciliados. Ao optar por contornos leves, a artista quebra a dureza do traço. O resultado é a exploração dos limites dos suportes, sejam eles o papel ou a pele, um jogo no qual as combinações são inúmeras.
Fernanda Pequeno
Curadora e crítica de arte. Professora adjunta de história da arte da UERJ
Entrada actualizada el el 24 jun de 2016
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