Descripción de la Exposición
"Some ink/alguma tinta" reúne um conjunto de desenhos sobre papel, fotografias e dois filmes em vídeo. Os desenhos que aquivemos são representações de árvores no Jardim da Cordoaria no Porto em redor da peça que aí se encontra de Juan Muñoz 'Treze a rirem-se uns dos outros' de 2001. As figuras humanas aí representadas têm uma estranha reverberação. Estando inanimadas elas riem, constroem uma "inexplicável hilaridade" como a elas se refere Lynne Cooke. "Há qualquer coisa na sua aparência que as torna diferentes e esta diferença na realidade exclui o espectador [...] Dizem-nos que querem poder fazer mais do que fazem" comenta Juan Muñoz. Há coisas nas figuras inanimadas que nos tornam delas fisicamente próximos e infinitamente distantes ao mesmo tempo, como as nuvens, os padrões que encontramos nos veios das pedras onde encontramos figuras, ou nas árvores onde encontramos corpos. Estas árvores que aqui encontramos estão fisicamente próximas deste conjunto de figuras inanimadas que riem. Riem de si mesmas, além do mais. As árvores que me interessam são as que encontramos nestes desenhos. São árvores antigas, podadas que se animam no processo de as desenhar e que retribuo inanimadas como um registo de matéria sobre papel. Os tempos são aquiimportantes, o tempo de observação, o tempo do desenho, do registo. O tempo destes desenhos é um tempo longo e é por isso o tempo duma experiência. O desenho é também um ritual, muitas vezes hipnótico, mas não está no registo, está só na experiência de
o fazer. Estas árvores são disformes, são elas próprias resultado das acções que se fizeram sobre elas ao longo do tempo. Parecem árvores ensacadas como nas corridas de sacos em que o movimento se dificulta, aqui até ao ponto da imobilidade. Parecem dispostas a correr de uma forma tão inexplicável como a hilaridade das figuras de Muñoz, que de facto não o é, tanto como o facto de as árvores não correrem.
As imagens do mar são impressas com cores artificiais, quer dizer as cores são adicionadas no processo de impressão. As cores são as que o tempo traz à matéria, não são as iniciais, as da matéria pura, são as que os processos de transformação pela exposição ao ar geram. São cores finais no sentido em que são as que conhecemos nos objectos expostos ao tempo. São as do nosso tempo com os objectos, não as novas, não as últimas que muito provavelmente nunca conheceremos. São finais porque são as do tempo que experimentamos, não as do que conhecemos. Estas imagens retiradas da realidade e transformadas a partir do objecto representado tornam-se separadas dele e paradas no nosso tempo, suspensas aí. Tal como as figuras congeladas de Velazquez ou Vermeer que fixam uma acção comum e permanecem imóveis, inanimadas outra vez. As imagens do mar têm ruído, remetem-nos para o som do mar que é sempre ao mesmo tempo comum e irrepetível. Como o som de uma emissão de rádio que aconteceu. Contêm narrativas que estão na nossa capacidade de nelas as percebermos. Estão latentes, suspensas, à espera de um autor que as construa. Imóveis, têm acções inscritas, cada lugar tem uma história para contar, o registo mantem viva a possibilidade. As cores adicionadas são temperamentos por isso as narrativas têm desde o registo um lugar prévio.
Os vídeos apresentados, em colaboração com Francisco M. Relvas são captações de processos de registo. Broadcast filma o ruído entre a peça de Juan Muñoz e as árvores que a rodeiam. A captação em filme e o desenho são processos distintos. Um trabalha o registo e a impressão da luz o outro inscreve matéria sobre o campo branco da folha. Partem de espaços de cor distintos, um sobre o preto, a ausência de cor, o outro sobre o branco, a reunião de todas as cores. Um reúne uma infinidade de imagens o outro isola uma imagem. Ink é um manifesto do tempo, da falta dele. As manchas de tinta e de cor que navegam sobre o papel existem na imagem que capta a tentativa de criação de um registo do mar. O tempo não o permite. O momento da tinta sobre o papel é diferente do momento da absorção da tinta pelo papel. O resultado do momento líquido da tinta é diferente do tempo em que é absorvida pelo registo sólido da tinta inscrita sobre o papel. O filme é um registo não da impossibilidade mas da irritação perante ela. Mas é esse o lugar da ficção, todos os espaços que não são da realidade.
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España