Descripción de la Exposición
xA GALERIA VERA CORTÊS tem o prazer de anunciar a nova exposição individual de Carlos Bunga na galeria.
A exposição com texto de Agnaldo Farias inaugura quinta-feira, dia 19 de setembro entre as 20h00 e as 23h00.
Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
Carlos Drummond de Andrade, O medo
Em sua mais recente participação na Bienal de São Paulo - 2023, a primeira foi em 2010 -, Carlos Bunga pintou de cor de rosa o chão da área reservada a ele. Por volta de 100 m2, limitado, de um lado, pela parede de vidro que dá para o Parque do Ibirapuera, um dos poucos oásis verdes disponíveis na cidade inóspita e imensa, e, de outro, protegido - mais ocultado que protegido -, por paredes de mdf, esse material anódino comumente utilizado em construções temporárias, paredes entre 3 metros, 3 metros e meio de altura, longe dos 5 metros do pé direito do grandioso pavilhão projetado por Oscar Niemeyer. A pintura, dado que a maioria do que faz é afeto à pintura, não era imediatamente acessível aos olhos do visitante. A ocupação da mostra, esparramada pelos 30 mil m2 do prédio, não era densa, com vastos espaços desocupados, corredores largos utilizados como salas. A obra de Bunga não estava imediatamente à vista, razão pela qual muita gente desatenta não a visitou. Contudo, o reflexo rosado batendo na laje cinza que recobre todo o andar do pavilhão, sim. Quem reparava nele, quem fosse atento e curioso o suficiente, percebia-o e ia em busca de sua causa. Uma vez à entrada, era instruído a tirar os sapatos para poder caminhar sobre aquela pintura/chão cor-de-rosa, um chão de sonho, já se vê, digno de figurar entre os caminhos do Mágico de Oz. (Fiz isso, claro, mas confesso meu encantamento diante do rosado macio como a luz da manhã na superfície da laje cinzenta, imantando a ordem regular, previsível dos pilares e paredes brancas projetadas por Niemeyer).
Bunga notabilizou-se pelo modo como afronta os espaços arquitetônicos, afronta, dialoga, como queira. Armado de cartão grosso e tinta colorida, em anos recentes introduzindo objetos cotidianos – cadeiras, mesas, camas etc.-, ele invade com uma outra arquitetura a arquitetura que o convidou: uma arquitetura precária, temporária; a arquitetura das comunidades pobres, dos barracos e mocambos, às vezes não exatamente isso, a arquitetura que precede à construção de uma edificação qualquer, casa ou prédio, como as fôrmas rígidas, travadas por cimbramentos e escoras, como os vergalhões de ferro amarrados e soldados em seu interior, à espera da massa de concreto. As cores recebem tratamento semelhante. Elas quase nunca são aplicadas com perfeição, e por conta disso, uma vez diante delas, não se esquece que trazem junto consigo os pincéis, rolos, as mãos, o corpo enfim, de quem se empenhou em recobrir as superfícies dessas peças. Na maioria dos casos tampouco a superfície é deixada de fora, eclipsada por uma camada de cor. A madeira, o cartão, a chapa de mdf, todos os materiais, porque estão vivos, porque resultam do trabalho, impregnados do desejo e das consequentes ações sobre eles, têm lá suas idiossincrasias, opõem maior ou menor resistência às ações adicionais, aos ataques dos instrumentos, por sutis que sejam, às viscosidades das tintas que se lhe aplicam, etc.. Daí o ostensivo inacabamento das pinturas, esculturas, instalações, e tudo o mais que ele inventa fazer, dado que ele, como lhe disse um amigo mais uma vez surpreso: “você sempre tira o tapete de debaixo dos pés.”. Bunga entra nas arquitetura trazendo a memória de outras arquiteturas e objetos, vividos, visitados, vistos de longe, estudados nos livros, vistos em filmes, apenas imaginados; objetos e fragmentos de arquitetura armazenados, retidos ao longo de sua vida, de suas muitas mudanças e que, mesmo agora. fixado em Barcelona com sua família, segue acontecendo em virtude do meio da arte, com seus convites sistemáticos, suas demandas imprevistas, suas viagens enfiadas atrás umas das outras.
Para a exposição de agora, o artista enfrenta algo mais próximo da pintura – mas também a instalação descrita, na Bienal de São Paulo, não era isso? -, uma pintura que se afirma como um experimento, tem a aparência inconclusa de coisa em movimento, condição que norteia sua poética de cima abaixo. Algumas dessas pinturas são acondicionada em caixas rasas de madeira ou cartão, outras aplicadas sobre tecidos; as caixas possuem áreas quadrangulares, reticuladas ou em arranjos semelhantes a plantas de casa, embora ao menos duas delas sejam sem saída, labirintos concisos e, ademais, fechados como celas de uma prisão. Esses campos – chamemo-las também assim, sua natureza experimental desaconselha designações convencionais - são sujos como canteiros de obras; as tintas manipuladas o são de múltiplas maneiras: aguadas e aplicadas por meio de gestos amplos, enérgicos, dir-se-ia inarticulados; grossas, grumosas, trabalhadas por algum instrumento até assumir a aparência de rendilhados minuciosos, ou exploradas em solução mais informal, - diretamente, com as mãos desarmadas? -, o que se infere por suas topografias convulsionadas, pelos montículos com rastros deixados por trás de si. Há também aquelas deixadas a secar por si só, sem maiores tratamentos, o que as faz retrair, craquelando-se, e ainda aquelas aplicadas sobre tecidos, todos eles simples, talvez miseráveis, amarfanhados e rotos, camadas de trapos tingidos de negro. Negro como todo o conjunto apresentado.
Essa é a primeira vez que Carlos Bunga “utiliza a cor negra”, eleição que leva a pensar. Prolongando os versos seguintes ao nascemos escuro, excerto da epígrafe desse texto, extraído do poema Medo, que Carlos Drummond de Andrade publicou em 1945, de resto, uma das efemérides do horror:
Nossas existências são poucas: / Carteiro, ditador, soldado. / E fomos educados para o medo / Cheiramos flores de medo / De medo, vermelhos rios / vadeamos.
Essa exposição é um momento de pausa, de silêncio, de convite à reflexão. Alguns a entenderão como um luto, pois é certo que as desgraças nos chegam aos borbotões, dos cataclismas naturais aos artificiais, todos eles de nossa responsabilidade, por certo. Há uma crescente e angustiante sensação de aproximação do fim. Mas não foi sempre assim? Segundo Jorge Luis Borges, Frank Kermode, outros autores dedicados a repassar as literaturas escatológicas, todos os tempos são ruins, todos vaticinam e vaticinavam o final dos tempos. A diferença, segundo Carlos Bunga, talvez repouse no exercício mais e mais naturalizado da autocensura, do medo de sermos julgados, do desvio ao diálogo em favor do recuo ao silêncio. Um silêncio terrível, grávido de angústia e ruidoso, inesperadamente ruidoso.
Agnaldo Farias
Faculdade da Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
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BIO
Carlos Bunga (Porto, 1976) frequentou a Escola Superior de Arte e Design em Caldas da Rainha, Portugal. Atualmente vive e trabalha perto de Barcelona.
As suas obras, orientadas para o processo, são criadas em vários formatos: esculturas, pinturas, desenhos, performances, vídeo, e, principalmente, instalações in situ, que se referem e intervêm na sua envolvente arquitectónica imediata. Embora utilizando frequentemente materiais simples e despretensiosos, tais como cartão de embalagem e fita adesiva, o trabalho de Bunga envolve um grau altamente desenvolvido de preocupação estética e delicadeza, bem como uma complexidade conceptual derivada da inter-relação entre fazer e desfazer, entre não fazer e refazer, entre o micro e o macro, entre investigação e conclusão.
Ultrapassando a divisão entre escultura e pintura, os trabalhos enganosamente delicados de Bunga caracterizam-se por um estudo intenso da combinação da cor e da materialidade, ao mesmo tempo que enfatizam o aspeto performativo do acto criativo. As obras de Bunga sobre papel, que estão intimamente relacionadas com as suas esculturas e instalações, envolvem frequentemente sobreposições, quer de elementos de composição nas pinturas, quer de folhas de papel translúcido nos desenhos. O resultado analítico/descritivo, como uma dupla exposição fotográfica, imita a dupla experiência da memória e da imaginação subjacente à escultura.
Carlos Bunga expôs individualmente na The New Art Gallery Walsall (2024), Museo Helga de Alvear, Cáceres (2024), Sarasota Art Museum, Florida (2023), Bombas Gens, Valência (2023), Palácio de Cristal - Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid (2022); Secession, Viena (2021); Whitechapel Gallery, Londres (2020); MOCA - Museu de Arte Contemporânea, Toronto (2020); Centro Internacional das Artes José de Guimarães (2019); MAAT - Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia, Lisboa (2019); Fundação Carmona e Costa, Lisboa (2019); Museu de Arte Contemporânea de Detroit (2018); MACBA - Museu d’Art Contemporani de Barcelona (2015); Museo de la Universidad Nacional de Colombia (Bogotá, 2015); Museum Haus Konstruktiv, Zurique (2015); Museo Amparo, Puebla, México (2014); MUAC - Museo Universitario de Arte Contemporáneo, México D. F. (2013); Pinacoteca do Estado de São Paulo (2012); Fundação Serralves, Porto (2012); Hammer Museum, Los Angeles (2011); Miami Art Museum (2009) e MARCO - Museo de Arte Contemporánea de Vigo (2009), entre outros.
Bunga, foi artista convidado da 35ª Bienal de São Paulo, na Bienal de Arquitectura de Chicago (2015), na 29ª Bienal de São Paulo (2010), Trienal de Arquitectura de Lisboa (2010), 14ª Bienal Internazionale di Scultura di Carrara (2010) e Manifesta 5, San Sebastian (2004). Bunga recebeu o Prémio Internacional de Arte em Grand Rapids, Michigan (2013) e foi pré-seleccionado para o Prémio Artes Mundi 6, Cardiff (2015).
A sua obra está incluída em importantes coleções tais como The Museum of Modern Art (Nova Iorque), Fundação Serralves (Porto), Hammer Museum (Los Angeles), Patricia Phelps de Cisneros Collection (Nova Iorque), Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Haus Konstruktiv (Zurique), Pérez Art Museum (Miami), Museu de Arte Contemporânea de Detroit, Museu Calouste Gulbenkian (Lisboa) ou Museu d’Art Contemporani de Barcelona (MACBA), entre outros.
Exposición. 14 nov de 2024 - 08 dic de 2024 / Centro de Creación Contemporánea de Andalucía (C3A) / Córdoba, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España