Descripción de la Exposición
“Sonho sobre os tremendos ossos dos pés”
(Herberto Helder)
O que une o alto ao baixo? O que é uma coluna vertebral? O que é herdar? O que é rezar? O corpo é um templo? Há uma medida objetiva para o tamanho das coisas? O que são o peso e a leveza? O que é cuidar?
No século dezanove, o bisavô analfabeto de Herberto Helder esculpiu em madeira um presépio extraordinário, representando o grotesco encantado da população Madeirense. De lá vêm os homens a olhar e a erguer as mãos para o alto. A história dos nossos gestos vem de muito longe. Estamos simultaneamente “sobre os ombros de gigantes” (Isaac Newton) e a começar tudo de novo na terra rasa. Simultaneamente atados pela biologia passional e livres. Para os paradoxos diários não nos esquartejarem, há que ter raízes fortes. O meu avô utilizava as raízes de cana como base para os seus presépios, que mimetizando a orografia da ilha nas suas imensas folhas de papel amarrotado e pintado de castanho chegavam a ocupar toda uma divisão da casa. Há um par de anos encontrei raízes destas numa praia de calhau. Eram muito bonitas mas cheiravam muito mal.
De que somos feitos e para onde vamos? Os átomos de que somos feitos são cobertos de uma nuvem de eletrões que giram à incompreensível velocidade média de 2200 Km/s, só por isso tendo nós a experiência de sermos sólidos. Mas os átomos são essencialmente vazio. O sistema solar gira em torno do centro da galáxia a 828.000 Km/h, e por isso a Terra descreve espirais (e não círculos) no espaço a essa velocidade. Estas indefinições estonteantes não impedem no entanto a experiência de quietude sólida quando alguma imagem nos toca verdadeiramente. Tocar cuida.
Para muitos povos originários, a constelação do sete-estrelo (Sete Irmãs ou Plêiades de Touro) está ao centro das suas visões de criação do mundo. É dos aglomerados fisicamente mais próximos da Terra e dos mais reconhecíveis a olho nu. Quando era adolescente gostava muito de estrelas, agora ocupo-me das raízes. De ser caminho aberto entre o alto e o baixo. Dourar as raízes é a tarefa mais exigente a que já me propus. O coração do mundo está nas nossas mãos.
Exposición. 13 nov de 2020 - 23 ene de 2021 / Monitor Lisbon [ESPACIO TRASLADADO] / Lisboa, Portugal
Exposición. 12 nov de 2024 - 09 feb de 2025 / Museo Nacional Thyssen-Bornemisza / Madrid, España