Descripción de la Exposición
em Imago Mundi, Antes um Desvio Aleatório,* toma como referencial crítico a obra de Lucrécio 1 Da natureza das coisas [De rerum natura], poema filosófico dividido em seis livros, considerado um dos textos fundadores da cultura ocidental. Autor maldito, motivado pelo atomismo de Demócrito e pela filosofia moral de Epicuro de Samos, Lucrécio declara a presença do homem num universo sem deuses.
Afastando-se de uma visão antropocêntrica, proclama a libertação do medo da morte acreditando que os deuses não são mais que ilusões de homens receosos. Como sublinhou Gilles Deleuze, a importância deste texto é de tal forma grandiosa que, depois dele, deixa de fazer sentido perguntar para que serve a filosofia. E mais diz: “com Epicuro e Lucrécio começam os verdadeiros actos de nobreza do pluralismo em filosofia”. 2
Introduzindo a ideia de que os átomos não possuem direcções fixas e que o caos, a imponderabilidade e o acaso integram o universo, que tudo pode ser criado a partir de tudo e tudo pode ser criado a partir de nada, Lucrécio confronta-nos com a ideia de que o universo não tem fim nem metas. Nenhuma força oculta influencia a existência pois tudo termina com a morte. Depois dela nada mais existe. Tudo o que nos rodeia resulta do movimento contínuo de partículas infinitamente pequenas que designamos de átomos e, portanto, a criação não é obra divina. É fonte de felicidade para o homem, saber-se livre e consciente do potencial da imaginação e da paixão.
Reflectir sobre o diverso, ou o heterogéneo enquanto tal, é a tarefa na qual fracassaram as filosofias que o antecederam,defende o autor romano. Pensando a astronomia, a matéria, a energia e o vazio, a história natural da Terra, o relativismo da percepção face ao real, a noção de simulacro, as funções corporais ou o amor apaixonado e arrebatador, o filósofo conduz-nos a um dos seus principais enunciados : o de que tudo o que constitui o universo é formado pela mesma matéria, sejam os oceanos, as pedras ou os homens; cada um integra esse cosmos em movimento contínuo.
Contestando o conhecimento fundado na autoridade dos antigos, Lucrécio encontrou em diversos autores como Erasmo, Maquiavel, Espinosa, Montaigne, Marx, Nietzsche, Calvino ou Deleuze, generosos leitores da sua obra.
Da Natureza das Coisas é, também, um clássico no sentido que Italo Calvino atribuiu a esta noção : “um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer (…) Um clássico é uma obra que provoca incessantemente uma nuvem de discursos críticos sobre si, mas continuamente os repele para longe.” 3
No âmbito do programa curatorial, foi proposto especificamente, a cada artista, um dos livros, do conjunto de seis que, como já referimos, estrutura esta obra. Esta matéria-prima apenas se constitui como ponto de partida para o projecto expositivo. Este, não se objectiva numa qualquer representação do mundo, uma imago mundi, mas, antes, num desvio aleatório, sem qualquer tipo de redenção.
Pensar o presente a partir de e com Lucrécio. Como advertiu Nietzsche, pensar activamente é agir de um modo inactual, contra o tempo e, portanto, no tempo, em favor de um tempo por vir.
Onde estamos nós com Lucrécio? O que tem ele para nos dizer? E nós, a ele?
1 Tito Lucrécio Caro . Poeta e filósofo latino que viveu no século I a.C. [94 a.C.- 50 OU 51a.C.]
2 Gilles Deleuze – Lógica do Sentido. São Paulo: Editora Perspectiva,1998, p.274.
3 Italo Calvino – Porquê ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. pp.11-12.
Without Imago Mundi, A Random Diversion Instead, takes as a critical reference the work of Lucretius 1 On the Nature of Things [De rerum natura], a philosophical poem divided into six books and considered one of Western culture’s founding texts. A cursed author, motivated by the atomism of Democritus and by the moral philosophy of Epicurus of Samos, Lucretius declares the presence of man in a universe without gods and distances himself from an anthropocentric vision. He proclaims the liberation from the fear of death by asserting that the gods are no more than the illusions of fearful men. As Gilles Deleuze emphasized, the importance of this text is so great that, after its appearance, it no longer makes sense to ask what philosophy is for. Moreover he says: "it is with Epicurus and Lucretius that the true acts of nobility of pluralism in philosophy begin". 2
To reflect upon the present from and with Lucretius. As Nietzsche warned, to think actively is to act in an inactual way, against time and therefore in time, in favour of a time to come. Introducing the idea that atoms have no fixed directions, that chaos, imponderability and chance are part of the universe, that everything can be created from everything and everything can be created from nothing, Lucretius confronts us with the idea that the universe has no end or goals. No hidden force influences existence because everything ends with death. After death nothing else exists. All that surrounds us results from the continuous movement of infinitely small particles which we call atoms, and therefore creation is not a divine work. It is a source of happiness for man, to know himself free and aware of the potential of imagination and passion. To think of the diverse, the heterogeneous, as such, is the task in which the philosophies that preceded him failed, argues the Roman author. Contesting the knowledge founded on the authority of the ancients, Lucretius was found by several modern authors such as Erasmus, Machiavelli, Spinoza, Montaigne, Marx, Nietzsche, or, more contemporaneously, Deleuze, all generous readers of his work. Reflecting upon astronomy, matter, energy and emptiness, the natural history of the Earth, relativism of perception versus the real, the notion of simulacrum, bodily functions, or passionate and overwhelming love, the philosopher leads us to one of the its main statements: that everything constituting the universe is formed by the same matter, be it the oceans, stones or men; each one integrates this cosmos in continuous movement. On the Nature of Things is also a classic in the sense that Italo Calvino attributed to this notion: "A classic is a book which has never exhausted all it has to say ... A classic is a work which constantly generates a pulviscicular cloud of critical discourses around it, but which always shakes the particles off." 3
Within the scope of the curatorial programme, one of the books out of the six that structures this work, as we have previously mentioned, was proposed specifically to each artist. These texts will be the basis of reflection for the exhibition project, but they will only constitute its starting point. This project does not objectify itself in any representation of the world, an imago mundi, but rather in a random diversion, without any kind of redemption. Where are we with Lucretius? What does he have to tell us? And us, to him?
1 Tito Lucrécio Caro. Latin poet and philosopher who lived in the 1st century BC [94 BC - 50 OR 51 BC]
2 Gilles Deleuze – Lógica do Sentido. São Paulo: Editora Perspectiva,1998, p.274.
3 Italo Calvino – Porquê ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993, pp.11-12.
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Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España