Descripción de la Exposición
As esculturas saem, visivelmente, uma das outras, no entanto, cada uma é uma e singular. Há que enfrentá-las de modo frontal, corpo a corpo, embora se resumam quase a perfis. E há ainda que encontrar a distância certa, pessoal, ou não se deixam apreender por completo. Logo que a alcançamos, porém, elas nos remetem a suas parceiras. Juntas, cumprem sua tarefa poética: mobilizar o espaço, incitá-lo a atrair e vibrar, enfim, transformá-lo em um entorno curioso a fazer e refazer a mesma pergunta acerca do que significa de fato olhar, com ímpeto e inspiração, o mundo. Não lhe prestamos a devida atenção, em geral, apressados à toa; sobretudo, não sabemos acompanhar sua mobilidade. Ninguém olha duas vezes o mesmo rio. Ou a arte propõe e propaga modelos de comportamento perceptivo ou apenas acrescenta mais objetos de consumo a um mundo que ameaça desabar sob o peso deles.
O que caracteriza, desde sempre, a escultura de José Resende é o Elogio da Contingência. Tudo que o que é, podia ser diferente. As ditas obras-primas o confirmam: parecem sempre novas e frescas. Assim e só assim desfrutamos a conquista da liberdade moderna. A virtude cardeal do trabalho vem a ser o Expediente, o talento para resolver problemas e dilemas rápida e decididamente. No caso em pauta, dois únicos elementos tubulares, de 40 e 80 cm, atravessados de dentro por um fio de aço que termina num laço casual e certeiro, asseguram a personalidade estética dessas peças, a um tempo, tensas e ligeiras, de equilíbrio delicado mas convicto. Não existe nenhum mistério, a não ser que costumam dar certo! Na horizontal ou na vertical, no centro ou na quina da parede, elas exibem uma “figura” em ação. Carl Andre, o escultor minimalista, em resposta à perplexidade diante de suas peças literais, insistia que elas tinham, sim, base: a terra. José Resende pontuaria – a terra, em movimento de rotação e translação.
Em consonância, certamente ocasional, com o nome da galeria, a exposição leva ao extremo o tema da mobilidade ao traduzi-la em plena multiplicidade. As peças seriam múltiplos entre si até no sentido aritmético do termo – formam um conjunto de variáveis que amplia a noção corrente de Múltiplo: uma série de unidades estéticas idênticas a negar o fetiche da obra única. Aqui a multiplicidade é substantiva, inerente a cada escultura. Afirma o primado das manobras – enganosamente fáceis, na verdade, frutos de uma prática ao longo de décadas a fio – sobre o suposto produto final. O que vemos e sentimos, em última instância, são exemplos diferenciados de uma Engenharia Poética, esta sim, constitui o núcleo autoral.
O próprio de toda engenharia é solucionar seus problemas in loco. Daí que essas peças, abertas por princípio, deixando para trás o dualismo interioridade-exterioridade, demandem a habilidade de saber colocá-las em ação. Reagem de modo diverso ao lugar específico onde vão aparecer. Não serão outras, naturalmente, também não serão as mesmas. O que as distingue é a inquietude, a ativar um olhar inteligente que interrogue com vivacidade o ao redor. Em tempos sombrios, sob o risco constante de ver prevalecer a negação deliberada e peremptória da Razão Iluminista e da Livre Imaginação promovida pelo alto Romantismo, quem ousaria chamar otimista um trabalho de arte contemporâneo? Seguramente, porém, a escultura de José Resende é abertura ao mundo, vocação para o futuro.
A acompanhar as esculturas – feitas do mesmo latão e seguindo manobras afins – os relevos têm um aspecto mais rude e convoluto graças à interferência da grossa mola que periga levá-los ao ponto de ruptura. Em todo caso, complicam a fluência apolínea da exposição, opõem às suas linhas de força desenvoltas- já ia dizendo, coreográficas – um movimento inesperado, ora de contração, ora de expansão. Nada intimistas, até meio mal encarados, os relevos parecem querer nos alertar (com certo humor, se não me enganam) para as exigências e vicissitudes do mundo da vida. Ainda assim, lembram também a capacidade de nos desdobrarmos, frente a elas, positivamente.
Sobre José Resende
Nascido em 1945 em São Paulo, José Resende formou-se em arquitetura pela Universidade Mackenzie em 1967. Estudou gravura na Fundação Armando Álvares Penteado e teve aulas com Wesley Duke Lee. Em 1981 concluiu seu mestrado no Departamento de História da FFLCH-USP. Resende possui ainda em seu currículo acadêmico uma bolsa de pesquisa da John Guggenheim Memorial Foudation, recebida em 1984, e atuação como professor em instituições como ECA-USP, FAAP e Mackenzie. Em 1970, fundou, juntamente com Carlos Fajardo, Frederico Nasser e Luis Baravelli o Centro de Experimentação Artística Escola Brasil, onde lecionou até 1974. Ainda na década de 1970 editou com outros artistas e críticos a revista de artes Malasartes e em 1980 foi um dos editores do jornal A Parte do Fogo.
José Resende participou de inúmeras exposições coletivas dentre as quais, destacam-se várias edições da Bienal de São Paulo (1967, 1983, 1989, 1998), Brasil 500, Mostra do Descobrimento (1999), Bienalle de Paris (1980, menção especial), “Arte Brasileira do Século XX” (1987, Musée d’Art Moderne de la Ville de Paris), Bienal de Veneza (1988), ArteCidade (1994 e 2002), Bienal do Mercosul (2001), Documenta (1992),“Latin American Artists of XX Century” (1993, the Museum of Modern Art of N. York) e “Arte Contemporânea: uma história em aberto”, Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo (2004), além de várias individuais no Brasil, Paraguai e Estados Unidos.
Em 2003, a editora Cosac & Naify lançou um livro sobre sua obra.
Exposición. 31 oct de 2024 - 09 feb de 2025 / Artium - Centro Museo Vasco de Arte Contemporáneo / Vitoria-Gasteiz, Álava, España