Descripción de la Exposición
O núcleo desta exposição é composto de uma seleção de fotografias oriundas da Coleção Antonio Maraldi, dedicada ao acervo de Paul Ronald (1924–2015), o fotógrafo de cena que trabalhou na produção do longa-metragem 8 ½, realizado em 1962 pelo diretor italiano Federico Fellini (1920–1993). Em parceria com a Embaixada da Itália no Brasil, o Consulado da Itália no Rio de Janeiro, e o Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro, a Cinemateca presta sua homenagem ao Mestre de Rimini, apresentando também mais algumas imagens de seu próprio acervo, o que proporciona um panorama da galeria de atores e tipos mais destacados da iconografia felliniana.
A definição de intérprete masculino ou feminino para Fellini é bastante conhecida: “o ator é (uma máscara) que não deve denunciar imediatamente a personagem”. Como elemento em potência da arquitetura de construção de um filme, sua chave de composição é, em verdade, um segredo que vai se desvelando aos poucos, com o correr do filme, à medida que o titereiro resolve mostrar a face da personagem, e mais do que isso, o que a mobiliza de fato, quando não também, dos anos 1960 em diante, o arquétipo que ela encarna. Trata-se, portanto, da resolução de um mistério.
Mistério, porque o ator esconde algo, que só vai revelar aos poucos e de certa maneira. Estamos longe de uma concepção de “interioridade”, psicologia, biografia da personagem. Ela vale menos por uma história de vida, uma determinada condição e especificação, do que por uma retórica inscrita em um conjunto de características corporais e de gestos desenhados na cena pelo cineasta. Ao preterir o uso do som durante as filmagens, Fellini tinha liberdade para falar com os atores o tempo todo, como na época do cinema silencioso. Gesticulava, conduzia, gritava, incutia calculada energia, performando, ele próprio fora de quadro, o que esperava dos atores em quadro.
Assim, ao contrário das poses clássicas de divulgação e dos stills de cenas específicas dessa ou daquela sequência do filme, as fotografias de cena de Paul Ronald, e dos outros fotógrafos com menor acuidade, além de registrarem intervalos de filmagem, procuram apreender essa potência de movimento que irá construir a “imago” da personagem-tipo do ator ou atriz. O termo, criado em 1912 por Carl Gustav Jung, e refinado por Melanie Klein em seus estudos sobre a infância, dá conta da ambição felliniana de distorcer a realidade e moldá-la segundo pulsões de seu inconsciente e que remontam às incompletudes de seu passado, agora redesenhadas como uma imensa galeria de possibilidades concretas, sobretudo em torno de si mesmo. É por isso que a recorrência da presença de Marcelo Mastroianni na filmografia de Fellini ganha aqui a mesma intensidade, seguindo sempre como seu persistente alter ego ideal, estando o arquétipo feminino bem mais nuançado e distribuído como tipologia visual e social.
O visitante deve investigar cada imagem/imago não como se fosse uma pintura/tradução dos artistas/personagens, mas como um fotograma que mentalmente vai se inserir no movimento pressuposto da cena que devemos nós mesmos criar. Devemos preencher o antes e o depois da pose congelada e apreender a potência sugerida, chegando assim à solução do enigma felliniano. A todos e todas, uma boa investigação.
Hernani Heffner
Curador
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España