Descripción de la Exposición
Ricardo Gauthama apresenta uma retrospectiva de suas fases mais significativas em 18 anos de pintura. Desde a década de 2000 aborda a temática homoerótica e homoafetiva.
A construção de suas obras mais antigas parte da repetição de padrões no intuito de alcançar o máximo de aprimoramento associado a riscos precisos. Percebe-se que a sexualidade era fortemente presente. Modelos masculinos de corpos esculturais, várias vezes de falo ereto, faziam parte de seu imaginário e ajudavam o artista a construir a sua poética. O sexo tão presente, se relacionava diretamente com questões de conflito de espiritualidade e desejos da carne.
Na série de apóstolos, onde temos o exemplo de Maria Madalena, as personagens se escondiam nas sombras. O desejo era associado às pessoas tidas como santas, que dessa maneira,revela o antagonismo existente internamente.
A abordagem sobre a sexualidade sempre foi sua fonte primária. O sexo era fonte de sabedoria e conhecimento, onde havia pouco espaço para argumentações e teorias acadêmicas. Havia aí, uma tentativa de libertação dos próprios conflitos internos. Desejo/repulsa, sexo/espirito, luz/sombra, espontaneidade/controle, verdade/mentira.
No momento atual, utiliza a ironia como ferramenta. Transforma termos pejorativos ou signos de opressão em símbolos de resistência e libertação. Essa ferramenta teve seu ápice no Brasil na década de 70, com o fenômeno do “desbunde”, que teve Dzi Croquetes, Ney Matogrosso, Hélio Oiticica e Caetano Veloso como seus representantes mais conhecidos. Daí surge o título da mostra: Rogo meu e outros desbundes.
Pesquisadores abordam esse fenômeno em várias publicações. Rogério Trevisan em seu livro Devassos no Paraíso é um bom exemplo. Alguém desbundava quando justamente mandava às favas – Sobre aparência frequente de irresponsabilidade – os compromissos com a esquerda e a direita militarizadas da época, para mergulhar numa libertação individual, baseada na solidariedade não-partidária e muitas vezes associadas ao consumo de drogas ou a homossexualidade.
As obras mais atuais de Ricardo utilizam esse princípio, ressaltando contradições, desestabilizando signos visuais e idéias pré-estabelecidas.Nessa brincadeira, e tomando como referência ícones visuais já consagrados no campo das artes, criando colagens de obras conhecidas, misturadas em interpretações diversas, dá corpo a outras referências e conceitos. Entram em discussão as questões não heteronormativas.
A ironia trabalha com as contradições de vozes que atravessam um discurso ou conceito. “Ironia, verdadeira liberdade! És tú que me livras da ambição do poder [...] do fanatismo dos reformadores, da superstição deste grande universo, e da admiração de mim mesmo” (Machado Apud Proudhon, 2014.) É na contradição e na dualidade que a obra de Gauthama constrói sua potência, misturando questões antagônicas como, herói/vilão, espiritualidade/matéria, grafismo/expressionismo, espontaneidade/controle, desejo/repulsa, popular/erudito, aproximação/afastamento.
Ricardo assume o ruído, aquele elemento desconhecido, que se faz presente de maneira autônoma na vida. Entende que esses ruídos podem ser mais verdadeiros do que a própria intenção criativa e constituem a obra de maneira cabal. Usa-os intencionalmente em seus trabalhos recentes, adicionando os signos visuais que surgem de forma espontânea, sem questionamento. O exagero comparece na escolha da expografia: Seu nome, assim como numa revista em quadrinhos é o destaque. Esse é maior e verdadeiro desbunde.
Fernando Carpaneda
Rogério Carvalho
Exposición. 31 oct de 2024 - 09 feb de 2025 / Artium - Centro Museo Vasco de Arte Contemporáneo / Vitoria-Gasteiz, Álava, España