Descripción de la Exposición
A exposição Rede de Memórias, apresentada na Galeria Amparo 60, traz para o Recife um apanhado da obra do artista Luiz Hermano, cearense radicado em São Paulo há mais de 40 anos.
Não seria mais o caso começar uma apresentação como esta, pois o artista já tem, depois de tanto tempo vivendo em São Paulo, internalizado o ser paulistano acelerado no seu processo criativo. Hermano cria compulsivamente. Todos os dias tem na sua rotina desenhar e tecer suas esculturas.
Mas dou esta referência de sua origem porque não é possível dissociar suas esculturas, desenhos e instalações das suas raízes e memórias cearenses misturadas hoje com a vida em uma cidade da enormidade de São Paulo.
Para Luiz Hermano, o fazer artístico está incorporado no ser que transpira sua própria obra.
Generoso, pesquisa seu material preocupado em fazer "uma arte bonita e poética para mostrar uma beleza simples" encontrada no seu cotidiano. De quando ainda criança, recorda-se de suas experiências da vida interiorana do Ceará. De ter crescido embalado em uma rede, de ver a vida passar no mesmo abrigo dessa mesma rede. De ficar horas escutando o silêncio da casa materna. Silêncio só quebrado por uma televisão ruidosa na sala. Pelos sons vindos da cozinha. Pelos piados das galinhas no quintal.
Esta cosmologia se junta a da cidade grande na miríade de cores dos neons, no colorido das propagandas das TVs de plasma que se espalham pelas ruas, no pontilhado noturno que se forma com as luzes que vazam pelas janelas e iluminam as noites de São Paulo, desenhando os seus prédios.
O artista transmite à feitura dos seus trabalhos a sua experiência cearense e paulistana com aquela que busca nas suas viagens ao redor do mundo, conhecendo novas civilizações e o dia a dia desses lugares.
Dedica-se a apanhar representações mínimas dessas culturas, das relações sociais, nas cores, nas formas, etc. que, através do seu olhar atento, são traduzidas para a sua obra numa linguagem estética muito particular, formando uma rede de referências estéticas e culturais.
Borda com arame, fio de cobre, usa pedras coloridas, capacitores resistores, utensílios de cozinha, brinquedos e uma infinidade de coisas que pesquisa e adquire nos comércios e feiras do mundo afora. Cria suas redes com estes materiais diversos que vemos em sua obra. São rizomas visuais que exigem mais do que "ver" de quem observa, mas entender o processo minimalista ao qual se dedica, representado nas suas obras por materiais com os quais se depara na sua pesquisa, retirando-os do seu contexto de mercadorias.
A cosmologia do que o cerca, trazida da infância e da vida adulta, é o que transborda em suas esculturas e instalações vistas na Galeria Amaparo 60, que fazem parte desse mundo encantado e sensorial em que ele habita.
A sua matéria artística mais preciosa é a memória que, por suas mãos, transforma-se em uma espécie de "poeira cósmica" que se espalha pelo espaço da exposição em formas disformes, em "bordados" que brilham, em desenhos de redes ligadas pelos sonhos.
Sua obra é espaço do encantamento, de alumbramento. São essas as questões que estão em sua poética. Como em todas as suas exposições, as suas esculturas e desenhos pedem uma exploração sensorial visual e tátil de quem os observa.
Não há elementos preciosos, pobres ou desinteressantes. Tudo pode se tornar parte de suas insólitas, engraçadas e estranhas engenhocas.
Sonhar é a faculdade que está na base de toda a sua obra. Uma peça dá caminho para outra ou forma uma família de trabalhos, que também pode desencadear em outra série de esculturas. Luiz Hermano transita de um material a outro fazendo, tecendo, amarrando, amassando, ajuntando.
É o fazer artístico que nasce antes nas suas próprias mãos.
Ricardo Resende
Curador
Exposición. 14 nov de 2024 - 08 dic de 2024 / Centro de Creación Contemporánea de Andalucía (C3A) / Córdoba, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España