Descripción de la Exposición
Há portas que nunca se fecham. Há corpos que nunca se apartam. E, por vezes, a escuridão pode, até, ser uma travessia de luz. Para gente como nós, que sempre deu à luz através da profunda experiência da pele, o confinamento imposto pela pandemia obrigou-nos a um exercício de estranha contranatura. Para nós, que sempre acreditámos na arte enquanto processo íntimo de troca de respirações, a isolação veio como uma espécie de mergulho invertido num novo e tenebroso desconhecido. Valeu-nos, contudo, o princípio. Esta Porta que só bate para a entrada, mesmo que outras chaves a tranquem. Não trancam.
É claro que houve dor, mas houve sobretudo, e por todos, amor, essa contaminação constante que não nos deixa perder o fôlego. No meio do escuro, em março, cancelámos mais de uma dezena de residências artísticas. No meio do escuro, interrompemos toda a atividade dos nossos Serviços Educativos: os desenhos, as histórias, as conversas no jardim, a mesa e a casa cheias, os gatos no colo das crianças. No meio do escuro, o futuro parecia não ser já de ninguém. Mas depois, depois... a luz acaba por encontrar o seu caminho, por retomá-lo desde a unidade do tempo. Esta Porta nunca se fecha. No meio do escuro, encontrámos claridades, tantas. Pensámos, conversámos, amámos, imaginámos. Não nos perdemos nos corredores da casa, porque tal como nós tomamos conta dela, toma ela conta de nós, respira connosco. O corpo e o espírito não param, nunca pararam, e, em finais de junho, com os devidos condicionamentos, saímos à rua para trabalhar com os centros comunitários de São Martinho e da Camacha. Valeram-nos outras portas: o Museu Quinta das Cruzes e a Igreja Inglesa, que nos estenderam a alma e o corpo todo e tão bem nos acolheram. Claridade.
A travessia no escuro continuava, mas as frestas de luz eram cada vez mais amplas. Esta Porta nunca se fecha. Julho e agosto trouxeram-nos o regresso dos gatos ao colo das crianças, as suas ávidas mãos prontas para afiar o lápis; a vida a ser, outra vez, a vida. Claridade.
As portas que nunca se fecham mostram a vida inteira que vai lá dentro. E isso é belo, incomensuravelmente belo. No meio do escuro, mais claridade. No dia 1 de Julho, Dia da Região Autónoma da Madeira e das Comunidades Madeirenses, fomos agraciados com a Insígnia Autonómica de Distinção, atribuída pelo Governo Regional. Dois meses depois, o nosso trabalho voltou a ser reconhecido pelo Governo Regional, desta feita com o Prémio Educação Artística 2020, galardão com a chancela da Secretaria Regional de Educação, Ciência e Tecnologia, da Direção Regional de Educação e do Conservatório - Escola Profissional das Artes da Madeira.
É bom e é belo quando nos veem; somos gratos. E porque queremos que, cada vez mais, esta Porta seja uma porta aberta para o afeto, a arte e o conhecimento, para a criação e a experiência, demos outra claridade ao sítio da Porta 33 na Internet. Durante o escuro mais escuro, além de não apagarmos as luzes, acendemos outras. Queremos que nos veja, às claras, também por aqui, onde quer que esteja, e a partir de qualquer plataforma, de forma simples, intuitiva e rápida.
Mais claridade. Mais casa para criar. A primeira residência artística do pós-confinamento ergueu-se, em setembro, pelas mãos activas de Manon Harrois e Sara Bichão, um clarão num escuro já muito menos escuro, preparando o chão e a pele para "clorophilia", exposição que brotará mais adiante, em dezembro.
Mas antes de "clorophila", criemos pele, âmago e tempo para o brilho de "Polifónica". Esperamos e esperamo-vos.
Esta Porta é tão nossa quanto sua. Esta Porta é casa inteira, como nós.
"Polifónica", de Rui Horta Pereira (com Filipa Vala, Luís Spínola e João Gonçalves), é um brilho no escuro. A abertura da exposição está marcada para o próximo dia 24 de outubro e entrega-se ao público até 5 de dezembro de 2020, na PORTA33.
POLIFÓNICA DE RUI HORTA PEREIRA
24 de Outubro
Cooperação, reputação; obra, autor
Um processo de partilha criativa é um acto cooperativo. Em Polifónica, partiu-se de um conjunto de textos para a concretização de peças que, resultando de actividades individuais, formam um todo enquanto extensão da mesma voz inicial. Toda a cooperação tem por base mecanismos de reciprocidade e sabemos que na nossa espécie, como noutros primatas, somos capazes de atribuir “reputações” e que estas influenciam as nossas decisões de cooperação (tendemos a cooperar com aqueles que têm reputação de ser cooperantes). Mas na arte, como noutras áreas de atividade, a autoria (ou a marca) tem vindo a sobrepor-se à obra – ou, pelo menos, contribui decisivamente para a importância que lhe é atribuída. Será que a exarcebação da autoria é uma consequência indesejada dos mecanismos que nos permitem construir reputação? Numa “cambalhota evolutiva” terá a reputação (autor) passado a valer tanto ou mais que a ação (obra) nas nossas sociedades? Se assim for, Polifónica exprime um desejo re-fundador: o gesto subversivo de regresso ao anonimato da termiteira. A cooperação polifónica (ou des-autoral).
Exposición. 02 ene de 2025 - 07 ene de 2025 / Espacio en Blanco / Madrid, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España