Descripción de la Exposición
O que é o desenho? Cada vez que o artista se defronta com a folha de papel branca, um silêncio profundo se espalha e se apresenta diante de sua ação iminente: a resposta aparece como o tear da aranha, um misterioso construir que, mesmo não sabido, vem de dentro do corpo, de dentro da mente. Ou melhor, de dentro não seria a definição correta, porque esse espaço é na realidade insondável, um espaço lateral à mente, um espaço além de si mesmo, espaço sem espaço feito puramente do tempo de sua aparição. Mas é nele que o artista, ao se interrogar no branco infinito do papel vazio, mergulha em silêncio para o trabalho de materializar imagens que se configuram respostas para a pergunta que, repetitiva, martela cada vez que ousa agir frente ao infinito da folha branca. E as imagens de um mundo novo e ao mesmo tempo antigo, arcaico, transbordam sozinhas do nada de seus dedos, passando a viver definitivas no mundo cotidiano como se estivessem estado ali sempre. No desenho, Aqui e Muito Longe coabitam o mesmo espaço. (Lembro de Saul Steinberg e suas paisagens feitas de tempo onde ele sentencia essa verdade.) Como se um único e longo texto, em um único livro sem começo e sem fim, fosse sendo escrito pelos artistas de várias épocas que se sucedem um ao outro no enfrentamento da folha branca, no enfrentamento do vazio infinito que os interroga.
Alex Cerveny integra uma longa tradição de invenção gráfica que se inicia antes mesmo da própria invenção da escrita e que se articula na relação entre imagem e narrativa. Essa tradição é encontrada, por exemplo, nas iluminuras persas, nas narrativas ilustradas chinesas e japonesas, nos livros ilustrados à mão do começo da imprensa ou na enorme relação entre texto e imagem da produção moderna. No universo da arte contemporânea os parâmetros narrativos são muitas vezes desconstruídos até sua total fragmentação, mas são também muitas vezes retomados em movimento de liberdade dialética que permite ao artista reconstruir subjetivamente suas experiências de um viver que, cada vez mais, se sustenta na linguagem em seu sentido estrutural: memória significa de alguma maneira escrita, texto/imagem do mundo onde gravitamos em flutuação em torno do real impalpável. A obra de Alex Cerveny desdobra-se em diferentes técnicas, inclusive a pintura e a escultura, porém se fundamenta na narrativa e em tradição gráfica que a palavra desenho sintetiza e atualiza. Desenhar, desde o modernismo, desde o surrealismo, é reescrever o mundo e o vivido do ponto de vista do insondável presente.
A obra/escritura/desenho de Cerveny advém de histórias que se reconfiguram a cada olhar que a aborda. Seu trabalho é, por assim dizer, feito de histórias, construído com histórias que, se um dia realmente ocorreram, passam agora a existir como mitos de nossa experiência comum de tempo, de nossa trajetória comum e, ao mesmo tempo, particular, em torno dessa volta de espaço-tempo em que existimos. O poético em sua obra não reside essencialmente nos fatos que narra, mas na própria construção gráfica com que é construída a narrativa e que proporciona ao seu observador ser também seu novo inventor, na medida em que a experimenta e a recria em novo sentido.
Para Brasília, o artista oferece um pan.orama de sua obra, da riqueza de seu (re)fazer e (re)contar, nos incluindo provavelmente em sua experiência mitopoética. Festejemos!
Exposición. 17 dic de 2024 - 16 mar de 2025 / Museo Picasso Málaga / Málaga, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España