Descripción de la Exposición
Em "Piel de Aguja", Fernando de Ana explora a metamorfose de uma geometria racional numa carnalidade humana para mergulhar nas experiências que se relacionam com a periferia da consciência que estão enraizadas no corpo: os impulsos, os desejos, a exploração da sexualidade e da barreira entre o prazer e a dor. Além disso, Fernando de Ana fala-nos da pele como um mapa experiencial e uma bandeira para leituras sociais sobre identidade e estatuto, em que a perforação da pele está ligada ao ritual numa perspetiva transcultural.
Fernando de Ana (Nasceu em 1979 em Talavera de la Reina, Espanha, Vive e trabalha em Madrid) é conhecido pelas suas criações geométricas abstratas, realizadas com a complexa técnica da resina e complementadas com elementos de néon e iridescência. O seu trabalho pode ser melhor descrito como uma sobreposição entre pintura, escultura e colagem onde os materiais selecionados são a base do seu trabalho.
O artista trabalha sobre práticas minimalistas onde organiza cuidadosamente as características sobrepostas do seu trabalho para evocar temas de interação, criando um diálogo entre o espetador e a obra, e o espetador e o ambiente envolvente.
Licenciado em Belas Artes, dedicou-se inicialmente ao design gráfico nos Países Baixos e mais recentemente decidiu regressar a Espanha e dedicar-se à sua carreira artística. Desde então, tem captado a atenção de colecionadores, galerias estrangeiras e meios de comunicação social, solidificando o seu lugar no meio da arte contemporânea. Tem exposto individualmente e coletivamente Nos Estados Unidos em galerias de Nova Iorque, Miami e Los Angeles e participou em feiras de arte como Tokyo Gendai, Art Taipei e Westbound em Xangai. Possui trabalhos em diversas colecções privadas, incluido: Louis Vuitton, Banco Central Hispânico Santander, Casino de Madrid, Coleção Colonial, Coleção Hines, e Coleção Watson, Farley e Williams, entre outras.
Piel de Aguja, 2023
«Pele. Perfurada. Tatuada. Pintada. A pele é usada há séculos pelo ser humano como uma bandeira. Um mapa para mostrar quem ele é e como está no mundo.
Um ritual, o de tornar a pele própria, que marca a iniciação à vida sexual. Um rito de passagem. Se viver é matar o que já não somos, a pele (que vai e fica) é a tela da nossa metamorfose.
“Piel de aguja" é um grito tribal. Um exercício de auto-exploração, inspirado no jogo infantil de furar a epiderme da palma da mão com uma agulha sem fazer jorrar o sangue. Por outras palavras, uma tentativa quase inconsciente de testar a nossa capacidade de dor e prazer. Quem sou eu quando a criança que fui já não está aqui, mas ao mesmo tempo ainda está aqui? O que acontece nesses espaços intermédios de sombra? Porque é que o que dói também é prazeroso? Esta ambivalência da ferida, que atravessa fronteiras físicas e mentais, é o magma deste projeto. Materiais frios onde a carnalidade é dominada e subvertida através de perfurações. Uma ligação intuitiva com os desejos mais secretos da consciência. Piel de aguja" é, em suma, a ferida que não fecha e se sublimou em êxtase artístico. Pele. Perfurada. Tatuada. Pintada. A pele é usada há séculos pelo ser humano como uma bandeira. Um mapa para mostrar quem ele é e como está no mundo.
Um ritual, o de tornar a pele própria, que marca a iniciação à vida sexual. Um rito de passagem. Se viver é matar o que já não somos, a pele (que vai e fica) é a tela da nossa metamorfose.
“Piel de aguja" é um grito tribal. Um exercício de auto-exploração, inspirado no jogo infantil de furar a epiderme da palma da mão com uma agulha sem fazer jorrar o sangue. Por outras palavras, uma tentativa quase inconsciente de testar a nossa capacidade de dor e prazer. Quem sou eu quando a criança que fui já não está aqui, mas ao mesmo tempo ainda está aqui? O que acontece nesses espaços intermédios de sombra? Porque é que o que dói também é prazeroso?
Esta ambivalência da ferida, que atravessa fronteiras físicas e mentais, é o magma deste projeto. Materiais frios onde a carnalidade é dominada e subvertida através de perfurações. Uma ligação intuitiva com os desejos mais secretos da consciência. “Piel de Aguja" é, em suma, a ferida que não fecha e se sublimou em êxtase artístico.»
Fernando de Ana, 2023
A geometria, habitual delimitadora de espaços e fornecedora de ordem, esquece a sua condição lógica e insere-se na visceralidade da experiência humana através do olhar íntimo de Fernando de Ana em “Piel de Aguja”.
Através de uma compilação das diferentes facetas da sua obra, subordinandoas àquela que dá título à exposição, Fernando de Ana orquestra um ato de metamorfose entre duas dimensões: de um plano ordenado e racional para um jogo de volumes que evocam uma carnalidade irrevogavelmente humana. Ambas as qualidades estão presentes nesta exposição, acentuando-se mutuamente.
Nesta linha, a obra de Fernando de Ana é muito ilustrativa da transição do Minimalismo para o Pós-Minimalismo, o momento em que a aparente despersonalização implícita na redução das formas geométricas ao essencial e na depuração da arte dos excessos, sofre uma viragem e torna-se veículo de expressão de afetos e geradora de uma ligação com o espetador através do apelo ao corpo e à sensorialidade1.
Nesta primeira área de plano estão os seus trabalhos com resina sobre madeira “Reflejos de Lisboa”, onde o artista constrói espaços através de campos ordenados de cor em que a justaposição de volumes muito subtis gera uma tatilidade calma, vibrante e com notas ácidas graças à sua escolha cromática.
O título dá um lugar especial ao facto de esta ser a primeira exposição individual de Fernando de Ana em Portugal.
A incursão na carnalidade vem da série de resina sobre madeira “Nipples”, que, apesar de ser uma referência muito explícita à anatomia humana, não deixa de ter uma contenção e serenidade próprias do primeiro momento do Minimalismo. O conceito de reflexão é também importante nestas duas séries, desde as qualidades físicas do material às qualidades semânticas da palavra, sublinhando a nuance do ato de mostrar uma realidade.
No extremo desta transformação para o humano que Fernando de Ana encena nesta exposição está a série “Piel de Aguja”. Os materiais inertes com que o artista trabalha adquirem aqui a qualidade senciente da pele humana e, partindo da imagem da suave auto-agressão do ato de perfurar a pele com a agulha, o artista explora lugares específicos da psique humana, investigando a sua própria amálgama de memórias, preocupações, sensações e imagens que se desprendem de experiências enraizadas no corpo e também nos perímetros da consciência: impulsos, desejos, a exploração da sexualidade e a barreira entre o prazer e a dor.
Este lugar íntimo serve ao artista para refletir, a uma escala mais alargada, sobre como a pele funciona como um mapa que marca um passado em transição para o futuro, através das marcas que aparecem, permanecem e se transformam à medida que vivemos, e como bandeira, à medida que a pele é julgada e lida socialmente. Além disso, o piercing na pele tem um significado transcultural amplamente ligado ao ritual ou ao ornamento, assinalando fatores de identidade e estatuto.
Como Fernando regista no manifesto escrito, que é outro artefacto do seu trabalho, é neste momento de ferimento ou de auto lesão suave, muitas vezes um jogo caraterístico da infância, que a inocência, a maturidade e a sexualidade convergem no ato de exploração sensorial do corpo, na incursão pelo desconhecido.
Não é, pois, surpreendente que, olhando para ele de uma perspetiva antropológica, em esferas culturais diversas e geograficamente dispersas, o significado do piercing corporal como um rito de passagem para a idade adulta seja recorrente. Noutros, o piercing na pele responde a conceitos de diferenciação e beleza e, o que mais interessa para este discurso, como mecanismo para completar aquele corpo considerado imperfeito, não o cobrindo, mas influenciando-o2.
Por outro lado, como dizia Michel Foucault, a sexualidade é um mecanismo de regulação social e, por isso, a partir da experiência individual, a exploração da sua natureza e dos seus desejos torna-se uma das formas pelas quais tentamos resolver as questões relacionadas com a nossa posição no mundo3.
Em suma, em “Piel de Aguja”, Fernando de Ana consegue encerrar uma ideologia artística através da singularidade de um momento ligado às suas memórias e diálogos internos para comunicar uma experiência tão íntima quanto universal, uma vez que perfurar a pele de forma recreativa, assumindo um certo limiar de dor para roçar o prazeroso, responde a esse tipo de experiência humana que quebra qualquer princípio lógico.
Carmen Bioque Zurita, 2023
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1 Varnedoe, K. (2001). Minimalism and After. MoMA, 4(1), 2–5. http://www.jstor.org/stable/4420543
Exposición. 14 nov de 2024 - 08 dic de 2024 / Centro de Creación Contemporánea de Andalucía (C3A) / Córdoba, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España