"Aqui se joga com a ideia de sujeira, de errático, misturando outro tipo de gama de cores.(…) Barreiro me contou que a ideia inicial do projeto seria continuar a relacionar-se com temáticas como reprodutibilidade e cópia; continuar a utilizar os materiais que ele vem trabalhando nos últimos anos. (…) Isso o levou, no começo de nossas conversas, a tentar entender a maneira como ele queria abarcar a arquitetura do espaço expositivo. Refletiu muito em relação à arquitetura do espaço da galeria NO· NO sem ir a um tipo de distribuição ou montagem mais clássica. Sempre esteve, por certo, muito interessado nas duas colunas que existem na sala e em como esse perímetro está castrado por elas. Então, a partir daí, ele começou a desenvolver esculturas voltadas ao chão como um tipo de arquitetura arqueológica em desuso. Obras anteriores que se relacionavam com a ideia dos moldes, do positivo e do...negativo, que aportam um matiz pictórico dentro da esfera escultórica foram fundamentais no projeto em questão. (…)
A realização das obras parte de um processo de fundição, onde existe um molde de escayola, no qual se lhe verte cera vermelha. O molde de escayola contém uma forma principal, a que habitualmente se utiliza, porém Barreiro se interessa pela outra face dessa forma (..) Isso que vocês veem é a face onde se pode entender claramente o processo de confecção da escayola: são texturas de mãos, erosões, manchas da própria cera que se misturam com a forma e o processo de copiado. É uma forma muito orgânica em contraposição com a outra face, que consiste em uma forma lisa que guarda o reflexo de elementos formais: relativamente arquitetônicos ou provenientes de algum desmanche, como nesse caso. A cópia inclusive pode aparecer dentro como fora do molde, como uma pele desprendida. (…) No espaço expositivo, ademais, existe uma intervenção site-specific com a mesma cera vermelha. Barreiro dispôs essa cera sobre a superfície da parede não de maneira expressionista, mas sim de modo contenido, controlado; aludindo simultaneamente à esfera pictórica. Inclusive a zona à qual esse monocromo vermelho de cera foi aplicado tem relevância para Barreiro já que aquele que visita a exposição descobre a intervenção ao final do trajeto expositivo.
Barreiro não se interessa por chegar ao final do processo tradicional e assim ele altera o juízo que temos em relação à nobreza desses materiais já que, segundo ele, estamos mostrando um processo em elipse. Os materiais que observamos aqui são de transição e em um processo tradicional de fundição esses seriam materiais descartáveis.
No primeiro espaço da galeria, Barreiro se inclinou por mostrar ao redor de 3 dezenas de testes quadrangulares, espécie de exercícios de valoração de material de pequena dimensão que instituem conjuntamente uma reiteração espacial. Já em relação a seus motivos, ele esteve trabalhando com um desmanche, chamado Hierros Gagos, e por esse motivo eles se relacionam com superfícies metálicas provenientes do contexto urbano. (1) "
(1) Tiago de Abreu Pinto / texto de exposição (excerto)
