Descripción de la Exposición
O percurso de MARCO FRANCO (Lisboa, 1972) pode ser visto como uma fita de Möbius [1] – um caminho curvado, incessante, com dois limites que se revelam, na verdade, apenas um. Como numa cronologia errática – onde adormecemos e acordamos sempre no mesmo dia – o seu trabalho encontra-se ao entrar na porta da percurssão rítmica para depois nos pregar uma rasteira ao sair pela cauda do piano, do mesmo modo que desce as escadas expandidas do desenho e sobe pelas arestas da escultura, culminando numa espécie de objeto/caminho não orientável – circular, porém, imprevisível. Surge, assim, neste meandro, aquela que é a verdadeira razão deste labor fluído e tão longo: a infinita curiosidade e a rigorosa prática de investigação do artista, que esvazia da matéria todas as suas possibilidades.
What sort of arrow split the sky and this rock?
It's quivering, spreading like a peacock's fan
Like the mist around the shaft and knot less feathers
Of a comet come to nest at midnight. [2]
Obiustromos não é uma palavra difícil, apesar de inexistente – é o nome ficcionado, num gesto quase patafísico [3], por Marco Franco para a sua primeira apresentação individual na galeria, e surge da necessidade de apelidar uma experiência estética – concomitantemente real e onírica – cuja reportagem não faremos na totalidade, mas à qual voltaremos repetidamente através de algumas entradas enciclopédicas escritas pelo artista.
1. Perda da memória factual momentânea versus apreensão legítima da função consciente [4]
Tecida a partir deste momento excecional experienciado por Franco, a exposição apresenta dois corpos de trabalho escultórico inéditos e de natureza hermafrodita – que ora repousam, ora planam silenciosamente pelo espaço expositivo. Neles coabitam formas, cores, texturas e comportamentos plásticos cujo rigor formal de qualidade enigmática – e muitas vezes abstrata – se confronta perante a perceção orgânica que a sua estranheza pode conceder.
2. Imagens, sons ou pensamentos concretos que se implodem em uníssono [5]
O título da exposição dá também nome à primeira série de esculturas elevadas sobre estruturas de viroc. Modeladas manualmente através de um exercitar constante entre as forças da tensão e leveza, as placas de poliuretano rosado (todas do mesmo tamanho) encontradas pelo artista revelam-se enquanto o elastómero ideal para a concretização destas obras – reunindo em si faculdades de resistência mecânica, dureza e flexibilidade quiméricas à sua complexidade interna. São, por sua vez, cinco objetos leves e lúdicos, resultados de uma espécie de proto-matemática estética e intuitiva. Existe um incessante descobrir de fórmulas aritméticas dentro dos corpos isomórficos que são aplicadas e desconstruídas ao longo do processo criativo e que, por fim, edificam seres-esculturas irreconhecíveis, voluptuosas, que parecem simultaneamente líquidas e gasosas no seu comportamento.
3. Paradigma enigmático da própria função [6]
Windows intitula o segundo corpo de trabalho que levita pelas paredes envolventes. Também estas esculturas nascem de uma inesperada matéria – o alumínio extremamente fino de uma lâmina de persiana. Mais esguias e verticais, estas obras brancas revelam corpos de uma elegância e discrição extremas, onde muitas vezes é a movimentação pelo espaço, ou a luz mais baixa que nelas incide, a provocar as subtis sombras geométricas que de súbito as tornam evidentes. Novamente, é o incansável jogo de exploração dentro do material e da forma a refletir a lógica da concretização quase pura – isto é, sem objetivo último senão o do equilíbrio entre as forças do peso e da gravidade físicas dentro do corpo, ora sinuoso, ora retilíneo. Poderíamos refletir sobre elas, principalmente sobre o que as suas qualidades formais nos podem contar acerca da sua perspetiva conceptual – serão maquetas de pistas de aterragem aeroespaciais, trajetos invisíveis de algum ser ou máquina, organismos, sinalética, coordenadas? Na parede oposta, uma janela amarela parece apontar para fora e para dentro de si mesma, e talvez essa seja a única resposta.
4. Disfunção ou virtude realística, subjetiva ou coletiva [7]
A qualidade topológica que inicialmente descreve o percurso de Franco percorre assim também o fluxo do seu trabalho e propõe, sumariamente, uma abordagem formal a efeitos estruturais e expressivos através da manipulação da composição, cor, tom e transparência, onde a razão não subsiste para dar ordem a experiências de caos, mas antes se revela no que existe – eyesight is insight [8]. Num espaço anisotrópico [9], onde todos os objetos são submetidos à sua influência, é o artista que, através dos seus esforços de composição, equilibra o que deve ou não ser repetido, uma e outra vez dentro daquele que é sempre um material sem memória.
5. Perceção singela da retina pluri-excecional.[10]
Eva Mendes
[1] Uma fita de Möbius ou faixa de Möbius é um espaço topológico obtido pela colagem das duas extremidades de uma fita, após efetuar meia volta numa delas. Se, por exemplo, caminhássemos pela parte de "cima" de uma fita de Möbius, quando déssemos a volta completa e chegássemos novamente ao ponto de partida, estaríamos, sem dar conta, suspensos na parte de "baixo". Da mesma forma, se caminhássemos pela borda externa da fita, ao dar a volta completa, terminaríamos na sua borda interna.
[2] Desnos, Robert. Primeira estrofe do poema Cascade, in The Selected Poems of Robert Desnos, Ecco Press, 1991.
[3] A patafísica é a ciência das soluções imaginárias e das leis que regulam as exceções.
[4] Definição de Obiustromos pelo artista.
[5] Idem.
[6] Idem.
[7] Idem.
[8] Arnheim, Rudolf, in Art and Visual Perception: A Psychology of the Creative Eye, p. 37, University of California Press, 1954.
[9] Ibidem.
[10] Definição de Obiustromos pelo artista.
Exposición. 19 nov de 2024 - 02 mar de 2025 / Museo Nacional del Prado / Madrid, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España