Com a exposição “O PRODÍGIO DA EXPERIÊNCIA” pretendeu-se criar uma linha orientadora que fosse simultaneamente complementar e diferenciadora de duas importantes exposições que lhe foram dedicadas e terminaram recentemente. Na Fundação Calouste Gulbenkian, evidenciando a relação da obra de Ana Hatherly com o barroco, e na Fundação Carmona e Costa, que apresentou sobretudo obras das séries dos “Mapas da Imaginação e da Memória”, de “O Escritor” e da “Reinvenção da Leitura”.
Considerou-se que essa linha de diferenciação poderia ser conseguida por via das experiências visuais mais alternativas ou marginais no percurso da autora, embora estas designações sejam sempre subjetivas, sobretudo quando se referem a uma produção já de si experimentalmente ousada e transgressora.
... Nesse sentido, houve a preocupação de selecionar obras que tivessem características distintas das registadas em séries conhecidas, apresentando tentativas por concluir, ensaios pontuais, caminhos que acabaram por não ser percorridos, apresentando estas experimentações juntamente com obras de conjuntos já divulgados, como “Viagem à Índia” ou “Neograffiti”, privilegiando sempre que possível, obras nunca expostas.
Por outro lado, mostram-se exemplos das diversas fases plásticas de Ana Hatherly, pelo que no conjunto dos 157 trabalhos agora apresentados, existem obras de 1967 a 2007, abrangendo 40 anos de produção visual, com uma quantidade apreciável de caligrafias dos anos 70, quase todas inéditas ou pouco conhecidas.
Por uma questão metodológica, e porque se decidiu apresentar a exposição em dois espaços, optou-se por se exibir na Galeria Municipal de Arte de Almada as obras com uma maior aproximação à pintura, enquanto que na Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea são apresentadas obras que se evidenciam especialmente na vertente da escrita, do desenho e também da colagem.
Entre as obras mais específicas, é apresentado o poema “Noite”, com que termina o livro “Eros Frenético” (1968), sob a forma de instalação, ou três obras inconclusas, de maiores dimensões, que remetem para a série “As Ruas de Lisboa”, e que se podem considerar como um “work in progress”. A exposição incorpora ainda alguns poemas verbo-experimentais, que proporcionam uma outra dimensão às obras visuais, e um vídeo onde são exibidos livros e edições de artista que podem ser, assim, integralmente conhecidos.
Outra particularidade que poderá ser relevante, para além de “O PRODÍGIO DA EXPERIÊNCIA” ser, provavelmente, a exposição da autora com um maior número de obras, é que quase metade são inéditas e, se considerarmos as obras já publicadas mas não expostas, teremos mais de 60 % de trabalhos que nunca estiveram em exposição.
Entrada actualizada el el 23 ago de 2018
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