Descripción de la Exposición
A obra gráfica de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) constitui, a par da sua relevância artística, um importante documento histórico dos acontecimentos, costumes e mentalidades do final do século 19 em Portugal.
Nos seus jornais humorísticos, a vida social e política era escrutinada, num registo fundamentalmente satírico, intercalado, por vezes, com outro próximo da reportagem.
As festas dos Santos Populares, que marcavam o mês de junho na cidade de Lisboa, constituíam matéria fértil para humor. Tradições populares associadas ao culto e às festas eram usadas por Bordalo e os seus colaboradores, como o filho Manuel Gustavo, enquanto metáfora dos comportamentos da classe política e da situação do país. Nessas caricaturas, o santo milagreiro ou as jovens em busca de marido recebiam as feições de membros do governo e da oposição, dando vida aos “santo Antónios” da política.
Por ocasião das comemorações do 7º Centenário do nascimento de Santo António em 1895, Bordalo concebe um conjunto de peças em cerâmica para fins devocionais e outras de cariz popular que assumem um registo caricatural, todas elas produzidas em série pela Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha.
A obra de Rafael Bordalo Pinheiro revela-se como um claro testemunho da antiguidade das Festas de Lisboa como as conhecemos hoje. Apesar de algumas tradições se terem perdido, grande parte delas mantêm-se vivas.
Com esta exposição, o Museu Bordalo Pinheiro pretende prolongar e dar continuidade à mostra O Milagre do Riso apresentada no Museu de Lisboa – Santo António, entre fevereiro e maio. À primeira seleção de obras juntam-se outras, bem como alguns documentos do espólio do museu, que sublinham a presença da figura do Santo António na produção artística de Bordalo Pinheiro.
7.º CENTENÁRIO DE SANTO ANTÓNIO 1895
Rafael Bordalo Pinheiro fazia parte da Grande Comissão Central de Lisboa para o 7º Centenário, que reunia várias figuras ilustres, sob a presidência da rainha D. Amélia. No entanto, isso não impediu que os desenhos humorísticos do artista e do seu filho Manuel Gustavo tecessem comentários mordazes aos festejos. No seu jornal O António Maria, criticaram o arranjo gráfico do cartaz, as iluminações pobres, as decorações sem gosto, a ridícula exposição de Arte Sacra Ornamental, o arraial encobrindo a estátua de D. José e, sobretudo, a falta de rigor dos carros alegóricos e dos figurantes do cortejo histórico e, ainda, a procissão dispersa em atropelo, amedrontada pela contestação anarquista.
Figura habitual da sátira bordaliana, o conde de Burnay, tesoureiro da comissão executiva do centenário, é o principal visado, sendo-lhe apontada responsabilidade e interesse financeiro nas encomendas ao estrangeiro, no gasto exagerado e na organização do cortejo histórico, que resultou num hilariante desfile sob a troça popular.
OS “SANTO ANTÓNIOS” DA POLÍTICA
Bordalo reservava ao dia de Santo António espaço nos seus jornais, servindo-se recorrentemente da sua iconografia para a sátira política. Santo milagreiro e casamenteiro, a ele atribui-lhe com ironia as feições de políticos conhecidos, alguns deles também de nome António, como era o caso de António Maria Fontes Pereira de Melo (chefe de Governo), o “santo” político mais popular. Alusões aos costumes associados à festa e ao culto compunham as cenas, como o peditório para a cera do Santo António, a oferta de um manjerico com a quadra e o cravo de papel, a queima das alcachofras e o ovo no copo de água, funcionando como metáforas da situação política, da atuação dos governantes e da reação do povo.
Da mesma forma, episódios da vida de Santo António, como a pregação aos peixes, são transportados por Bordalo para a realidade política, a maioria das vezes a propósito de questões governativas do município de Lisboa.
O CULTO E AS FESTAS
Em “O Arraial de Santo António”, Bordalo reproduz o ambiente fervilhante da festa lisboeta. Grande animação e confusão com música, “rodas do vira”, fogo preso, e fogueira, num cenário colorido, enfeitado com balões e peras, e perfumado com manjericos e alecrim. No cimo do trono iluminado, a imagem do santo milagreiro. Todos se divertem, os políticos saltam a fogueira e Zé Povinho toca guitarra diante da amada. Complementa a cena uma cercadura onde estão representadas ginjas, manjericos, alcachofras e um grilo numa gaiola, remetendo para as “sortes”. No entanto, tudo indica que o futuro não será risonho para Zé Povinho que, distraído na festa, não nota o que queima a fogueira sobre a qual saltam os políticos. Não há santo que lhe valha, nem Santo António, nem São João, nem São Pedro.
Exposición. 13 dic de 2024 - 04 may de 2025 / CAAC - Centro Andaluz de Arte Contemporáneo / Sevilla, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España