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o instante do mundo

Exposición / Fonseca Macedo / Rua Dr. Guilherme Poças Falcão, n.º 23 / Ponta Delgada, Azores, Portugal
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Cuándo:
16 ene de 2025 - 28 feb de 2025

Inauguración:
16 ene de 2025

Precio:
Entrada gratuita

Organizada por:
Fonseca Macedo

Artistas participantes:
Catarina Branco, Isabel Madureira Andrade, João Queiroz, José Lourenço

ENLACES OFICIALES
Web 

       


Descripción de la Exposición

“Pensar é experimentar (…)”[1] afirma Merleau-Ponty numa das primeiras páginas da sua reflexão acerca da implicação inegável, justa e consequente do corpo do pintor no processo de produção da pintura. Numa tentativa de desconstrução do fenómeno da observação e da sua tradução para o plano da pintura, o filósofo sublinha a importância do processo perceptivo como algo que extravasa a dimensão visual para se aliar a uma dimensão de presença. O corpo presente do pintor no lugar permite-lhe conquistar simultaneamente uma condição de observador e de actor. Estar é participar, portanto estar é construir. Construir pensamento, pensar pintura. Numa reflexão em torno da prática paisagística de Cézanne (e portanto, do seu pensamento em pintura, da sua construção), Merleau-Ponty afirma “o mundo é feito do mesmo estofo do corpo. (…) a visão parte ou faz-se do meio das coisas, aí onde um visível se põe a ver (…)”[2] e mais adiante afirma “O olho vê o mundo, e aquilo que falta ao mundo para ser quadro, e o que falta ao quadro para ser ele próprio (…)”.[3] Diríamos, à luz da reflexão de Merleau-Ponty, que pensar pintura é, por isso, produzir realidade. Mais do que construir ou registar, através dos códigos da representação, uma determinada visão da realidade, diríamos que o pintor extravasa a sua condição de veículo perceptivo para assumir uma condição geradora de novas camadas de realidade. É também neste sentido que gostamos de pensar na paisagem enquanto modelo de representação, abraçando-a como um conceito polissémico que resulta do entendimento social, filosófico e cultural produzido a partir (e com) o real. Mais do que captar o instante do mundo, a pintura de paisagem parece-nos constituir-se como um novo instante no mundo. A exposição que agora se apresenta, marcando o terceiro momento do ciclo comemorativo dos vinte e cinco anos da Galeria Fonseca Macedo, parece-nos resultar de um feliz encontro entre obras de quatro pintores portugueses que partilham entre si esta consciência do seu lugar. Concebendo pinturas que assentam numa matriz relacional com a natureza ou com o mundo natural exterior (chamemos-lhe, abrangentemente, paisagens), procuram a partir desse seu lugar de implicação um posicionamento idiossincrático, e apresentam-se-nos como portadores da responsabilidade de partilha desses seus novos instantes no mundo. Com um trabalho que desafia as fronteiras disciplinares, assumindo a pintura (e os seus desenvolvimentos tridimensionais) como o seu campo alargado de exploração, Catarina Branco (Ponta Delgada, 1974) apresenta um conjunto de pinturas produzidas a partir da relação viva e presente que estabelece com o seu próprio jardim, na ilha de São Miguel. Mantendo o seu interesse pela botânica e pelo carácter decorativo e simbólico, mas também cromático e ecológico, das plantas, e particularmente das flores (já desde há muito presentes no seu trabalho), a artista reafirma a presença do corpo nessa relação com a natureza, transportando-a de forma lúdica para a relação com as próprias matérias plásticas. Mantendo o registo que lhe reconhecemos, José Lourenço (Lisboa, 1975) apresenta um conjunto de novas pinturas sobre papel assentes numa linguagem eminentemente gráfica, rigorosa, de cores planas e contornos precisos. A relação impressiva que estabeleceu com a natureza muito presente dos Açores, aquando da sua mais recente deslocação ao arquipélago, permitiu-lhe a concepção de um conjunto de pinturas fortemente atmosféricas, mas estranhamente silenciosas. Parece haver uma quietude implícita nestas imagens que contrasta precisamente com aquilo que é a nossa memória acerca da natureza viva e fulgurante destes territórios, conferindo-lhes uma estranheza e uma artificialidade desconcertantes. Herdeira de uma tradição próxima da abstração e das suas várias declinações, Isabel Madureira Andrade (Ponta Delgada, 1991) tem desenvolvido uma pintura que assenta sobretudo numa matriz geométrica, construindo pinturas complexas que desafiam o olhar do espectador. O recurso a processos menos convencionais de aplicação, de ampliação, de repetição e de elisão na produção das suas pinturas conferem ao seu trabalho uma aparência próxima da impressão gráfica ou fotográfica, valorizando o momento revelatório no encontro com a imagem e entendendo o campo disciplinar da pintura como um território de permanente exploração. O conjunto de obras de pequena e média dimensão, reunidas na exposição, reafirma o seu interesse em torno da abstracção, mas sinaliza uma tentativa de aproximação mais intuitiva e mais directa ao território dessas imagens. Aproximando-nos de um pensamento de relação com a natureza, parecem funcionar como convites para mergulharmos no interior das grutas, nas profundezas da terra ou no mais denso nocturno dos céus. A vasta investigação que João Queiroz (Lisboa, 1957) tem vindo, persistentemente, a desenvolver prende-se com aquilo a que poderíamos chamar de acontecimento pictórico. Esse território especial onde, “emprestando o seu corpo ao mundo, o pintor transmuta o mundo em pintura”.[4] Ao mesmo tempo que nos apresenta pequenos fragmentos da natureza com a aparente segurança de quem domina todos os seus segredos, o artista torna visíveis os mecanismos próprios do seu pensamento e do seu projecto conceptual. O conjunto de dez pinturas a aguarela concebidas para a exposição constituem-se como riquíssimos exercícios de exploração visual e funcionam como enormes desafios à nossa acuidade e atenção. Tratando-se não de retratos de lugares, mas de paisagens – construções, ficções, imagens, ou seja, o resultado do pensamento a fazer-se pintura – parecem testemunhar o enigma de que fala Merleau-Ponty quando afirma que no processo de criação da pintura esta “não procura o exterior do movimento (das coisas) mas as suas cifras secretas.”[5] Ana Anacleto Dezembro 2024 [1] Merleau-Ponty, Maurice, in “O Olho e o Espírito”, Nova Veja, Pontinha, 2023, p. 14. [2] Idem, p.21. [3] Idem, p.25. [4] Idem, p.19. [5] Idem, p.64. Por vontade expressa da autora, este texto não segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990, atualmente em vigor.


Entrada actualizada el el 30 ene de 2025

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