Descripción de la Exposición Quando conheci o trabalho da Maria Rita Pires, acerca daquela Alice num país de maravilhas, invejei aquilo tudo. Fiquei roído como muito má gente, a querer ver os meus livros mudados para esculturas iguais, cheias de papelinhos delicados que parecem também palavras recortadas, pequenas palavras que, sem falarem, mostram uma figura ou um objeto. Não poderia imaginar que a Maria Rita Pires, mais tarde, me falaria da ideia de abordar O filho de mil homens. Juro que não me insinuei, não sugeri, não abri a boca senão de espanto e para o elogio algo incontido e muito sincero. A verdade, é que fiquei impressionado com o paciente das suas peças e muito com a vulnerabilidade que inspiram. O filho de mil homens é a reclamação da vulnerabilidade como um direito de beleza de carácter. A Maria Rita Pires não podia ser mais indicada para lhe deitar mão. O que para mim significa o seu trabalho é a desarmante beleza que, feita do espectral comportamento do papel, simboliza também o interior. Como se radiografasse as almas de cada coisa e as expusesse, mais ou menos voadoras, tão leves quanto sensíveis ao vento, para que contemplemos o coral de que se compõem. O modo como o papel floriu, como se fez pássaro e borboleta, a roupa interior que seca na árvore, tudo me maravilha. Como se o mundo do livro se traduzisse num atrito ínfimo da luz, uma presença quase ausente, igual às visões de sonho. O trabalho da Maria Rita Pires deslumbra-me. Põe-me a ver milagrinhos de papel. Aquilo que os escritores tanto buscam nas palavras e que ela encontrou tão ao pé delas.