Descripción de la Exposición
Esta exposição é o início de um estudo mais amplo que foca nas narrativas dos povos que conquistaram a independência após longos séculos de colonialismo. Ocupando o lugar da vitória, os oprimidos falam desde esse lugar de poder para repensar a própria ideia de poder e as suas possíveis formas de reorganização. A luta pela independência deu azo a várias outras lutas através da sua re-significação pós-independência, um período chamado de liberdade, marcado pela necessidade de desmantelar as heranças coloniais. Os preconceitos deixados pelo patriarcado e o cristianismo impregnam ainda hoje a textura social das ex-colónias europeias, levando as gerações mais jovens a fortalecer os movimentos sociais, feministas e transfeministas para combater esse legado. Esses são os movimentos e lutas que perguntam, com pertinência e ímpeto, o que foi feito com o alcance da liberdade. Para este questionamento é vital não só a consciência das conquistas que formam hoje África e as Américas descolonizadas, mas também o sentimento de responsabilidade pelas suas lutas anteriores. Os artistas reunidos questionam colectivamente a gestão da liberdade pós-independência e quais são as reivindicações de hoje.
Os olhos e ouvidos estão postos em futuros inclusivos, onde categorias de representação fluem de forma descentralizada. Enquanto a figura de poder autoritário é desconstruída, celebram-se multiplicidades culturais e sociais e exploram-se noções de liberdade e civismo. A indagação dos processos políticos e históricos da pósindependência permite repensar as relações de colonialidade com o ocidente. Na exposição ressaltam-se pontos de referência desde Angola, aos quais se juntam vozes do continente latinoamericano com demandas similares. Através dos trabalhos expostos, um outro legado, paralelo e inverso ao colonial, é trazido para primeiro plano para ser homenageado, assim como continuado. Trata-se da herança de todas as diversas forças de resistência, a vida que sempre encontrou formas de luta.
Concebida pelo artista Kiluanji Kia Henda a convite do HANGAR – Centro de investigação artística, com cocuradoria de Ana Sophie Salazar, a exposição é uma extensão do convite a Kiluanji que lhe concede carta branca para esta tomada do espaço. Participam os artistas emergentes angolanos Hélio Buite, Mwana Pwo e Rui Magalhães, os quais foram nomeados por Kiluanji para uma residência no HANGAR durante o mês de Março, assim como os artistas Castiel Vitorino Brasileiro, Clara Ianni, Daniela Ortiz, Mussunda N’zombo e Yoel Díaz Vázquez.
Artistas
Hélio Buite (Angola, 1992) vive e trabalha em Luanda. Formado em engenharia civil, cresce em Luanda navegando e alternando constantemente entre dois contextos diferentes: a Luanda informal e a Luanda formal. A sua prática artística mergulha em diferentes disciplinas como a fotografia, o vídeo, a instalação, o áudio e a documentação para analisar as formas como as famílias são centrais às sociedades africanas, enquanto tecidas entre a vontade de descolonização e a realidade patente da sua relação de colonialidade com o Ocidente – processando também as influências e efeitos dos movimentos de independência, neocolonialismo, guerras civis e as complexidades dos sistemas políticos.
Clara Ianni (Brasil, 1987), vive em São Paulo. Cursou Artes Visuais na Universidade de São Paulo. Participou nas exposições Histórias Feministas, MASP (2019), Utopia/Distopia, MAAT Lisboa (2017), Jakarta Bienal (2015), 31a Bienal de São Paulo (2014), Yebisu Festival, Tokyo (2015), 19th Panorama VideoBrasil, 33º Panorama de Arte Brasileira, MAM São Paulo (2013), 12th Istanbul Biennial (2011). Realizou residências em AIR Residency, Centre for Contemporary Art Ujazdowski Castle, Varsóvia, HIWAR I Conversations in Amman (2013), Bolsa Pampulha, Museu da Pampulha, Belo Horizonte (2011). Foi curadora do programa “Futuro da Memória – Poéticas de Memória e Esquecimento na América Latina”, Goethe Institut (2016-18).
Rui Magalhães (Angola, 1985) vive e trabalha em Luanda. Fotógrafo, artista visual e de vídeo, explora a vida nas ruas de Luanda, observando a população da cidade e os seus sistemas e cenários de adaptação à vida urbana. Estudando o uso e ocupação de espaços, a sua prática é uma mistura de arquivo crítico da história arquitectónica recente de Luanda e de arqueologia urbana, documentando as relações inoperacionais da cidade e os fenómenos do urbanismo africano. Expôs no Vidrul Fotografia (2016) e participou no Fuckin’ Globo 2020 e 2021.
Mussunda N’Zombo (Angola, 1973) vive e trabalha em Luanda. É artista visual e performativo, com uma prática eclética que combina vários elementos das artes dramáticas e cénicas, com uma forte inclinação para a sátira, a paródia e a tragicomédia. As performances dos seus múltiplos personagens, capturadas ao vivo, em fotografia performativa ou vídeo-performance, retratam narrativas identitárias pouco abordadas publicamente na nossa sociedade, bem como as realidades situacionais entre o ‘Urbano’ e o ‘Rural’, a aculturação e desaculturação de comunidades em Angola, coexistências geracionais e os fenómenos peculiares do exercício do poder social e político no continente. O seu trabalho descreve e imprime o meio em que vive. Pelas diferentes realidades que projecta, é frequentemente descrito como sociopolítico e pluricultural.
Daniela Ortiz (Peru, 1985) pretende gerar, através da sua prática artística, narrativas visuais que questionam conceitos como nacionalidade, racialização, classe social e género de forma crítica, com o intuito de analisar o poder colonial, capitalista e patriarcal. Os seus projectos e investigações recentes abordam o sistema de controlo migratório europeu, o seu vínculo com o colonialismo e os mecanismos legais criados pelas instituições europeias para poder exercer violência contra as povoações migrantes e racializadas. Tem também desenvolvido vários projectos sobre a classe alta peruana e a sua relação com a exploração de trabalhadoras domésticas. Recentemente tem focado o visual e manual através de trabalhos em cerâmica, colagem, desenho e outros formatos como livros infantis, com a intenção de se afastar das estéticas conceptuais eurocêntricas.
Mwana Pwo (Angola, 1988) vive e trabalha em Luanda. Fotógrafa e artista visual, Pwo retrata a vida contemporânea com intensidade e um olhar contrastante, registando activamente as múltiplas dimensões do ser individual enquanto captura a profundidade das realidades sociais de Angola dos dias modernos. O seu trabalho também apresenta um exame feminista de papéis sociais, experiências e estórias pessoais, que às vezes explora por meio do autorretrato. As suas visões são expressas principalmente por meio da fotografia documental e retratos. Actualmente, expande a sua prática experimentando técnicas e meios mistos. A sua última intervenção foi no Fuckin’ Globo 2021.
Yoel Díaz Vázquez (Cuba, 1973) vive e trabalha em Berlim. Tem um BA em Escultura da Escuela Nacional de Bellas Artes San Alejandro, Havana (1997); Diploma em Edição de vídeo e VFX do SAE Institute, Berlim (2013-14). Através das suas instalações vídeo, foca a cultura urbana oral, linguística e performativa, incluindo activismo social. Para ele, o vídeo é um meio que pode testemunhar não só a imediatez mas também as acções que ganham valor documental quando registadas para a posteridade. O seu objectivo é chamar a atenção para as posições críticas e demandas poéticas expressadas nos trabalhos de um grupo social-artístico específico e permitir a sua presença directa nos palcos da arte contemporânea.
Castiel Vitorino Brasileiro (Brasil, 1996) é artista, escritora e psicóloga clínica (CRP 06 / 162518) formada na Universidade Federal do Espírito Santo. Mestra em psicologia clínica pela PUC-SP. Vive a Transmutação como um designo inevitável. Dribla, incorpora e mergulha em sua ontologia Bantu. Assumiu a cura como um momento perecível de liberdade. Estuda e constrói espiritualidade e ancestralidade interespecífica. Nasceu em Fonte Grande, Vitória/Espírito Santo, Brasil. Vive e trabalha no Planeta Terra.
Curadores
Kiluanji Kia Henda (Angola, 1979) vive e trabalha em Luanda. Na sua prática, usa a arte como método de transmissão e construção da história, explorando a fotografia, o vídeo, a performance, a instalação, o objecto-escultura, a música e o teatro de vanguarda como formas de materializar narrativas fictícias e deslocar os factos para diferentes temporalidades e contendas. Usando humor e ironia, o artista representa a complexidade de temas como identidade, política e percepções da pós-independência e da modernidade em África. Trabalhando em pervertida cumplicidade com o legado histórico, vê o processo de apropriação e manipulação dos espaços e estruturas públicas como diferentes construções da memória colectiva.
Ana Sophie Salazar (Equador / Portugal, 1990) é curadora, escritora e cofundadora do Museum for the Displaced, uma para-instituição que aborda temas em torno de migração forçada e deslocamento. Explora subjetividades nómadas, poli-linguísticas e transculturais, propondo questionamentos inventivos dos mapeamentos geopolíticos actuais. De 2016 a 2020, foi Curadora Assistente de Exposições no NTU Centre for Contemporary Art Singapore. Ana tem um mestrado em Práticas Curatoriais da School of Visual Arts, Nova Iorque, e uma licenciatura em Piano da Escola Superior de Música de Lisboa. Participou no Shanghai Curators Lab (2018), no programa de mentoria Project Anywhere (2020-21), e é actualmente curadora-em-residência (2021-22) no Künstlerhaus Schloss Balmoral, Alemanha.
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