Descripción de la Exposición
“Somos povos de trajetória,
somos da circularidade: começo, meio e começo.
As nossas vidas não têm fim”
Antônio Bispo dos Santos (A terra dá, a terra quer)
Se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral. De todas as possibilidades imaginadas pelo homem para a perpetuação de nossa espécie na Terra, de todos os cenários criados e projetados pelas civilizações ao longo da história da humanidade, apenas o olhar em direção ao que sempre esteve aqui e que compõem aquilo que somos em toda a nossa essência faz possível essa continuação. É por meio desse pensamento, tão óbvio e lúcido quanto radical, que o líder indígena, ambientalista e filósofo Ailton Krenak nos guia em seu instigante livro Futuro Ancestral. E é pela eloquência de tal ideal que se constitui a mostra Memórias do futuro, em cartaz na Carbono Galeria.
Se o futuro não existe – afinal, é possível apenas imaginá-lo –, esta exposição visa traçar possibilidades desse porvir a partir da perspectiva de dez artistas e suas poderosas cosmovisões. Para compor esse rico e diverso panorama de perspectivas, esses nomes foram convidados a criar obras inéditas que vislumbram seus ideais e que discutem suas respectivas ancestralidades por meio de um olhar único e interdisciplinar, unindo manualidade, propósito e tecnologia. Para que a composição desse clã abarcasse nossa rica e diversa cultura, foram elencados artistas provenientes de diferentes regiões deste vasto território que também chamamos de Brasil. Todos inevitavelmente conectados com o universo ambiental, seja de forma terrena ou celeste.
Importante ressaltar que esse encontro criativo também acaba por instigar nossa reflexão a respeito de alguns danos irreparáveis que o colonialismo causou ao longo da história da humanidade, entre eles a afirmação de que somos todos iguais – alegação que tomamos por muito tempo como verdade. Podemos ter a mesma fisiologia, uma ou outra característica semelhante, seja física ou emocional, principalmente por fazermos parte da mesma espécie, a Homo sapiens, mas somos distintos em uma infinidade de aspectos objetivos e subjetivos. Refazer o caminho que nos levou a tal premissa é longo e tortuoso, mas essencial para o entendimento das diversas formas de ancestralidade e conexão com a natureza da qual somos capazes e compostos.
A vida é selvagem. Essa afirmação, defendida por Antônio Bispo, Krenak e por outros importantes filósofos contemporâneos, busca fugir da atual lógica incessantemente reafirmada de que a civilização é urbana e que tudo que está fora das cidades é bárbaro ou primitivo. A sugestão desses pensadores? Que sejamos água, em matéria e espírito. Que, assim como ela, tenhamos a capacidade para mover, transbordar e mudar de rumo e, assim, nos reinventarmos sempre para produzir novas memórias para o futuro.
Ana Carolina Ralston
Artistas: Alberto Pitta, Aline Bispo, Bu’ú Kennedy, Claudia Andujar, Igi Lola Ayedun, Kássia Borges, Kaya Agari, Leandro Lima, Nádia Taquary y Tamikuã Txihi.
Exposición. 14 nov de 2024 - 08 dic de 2024 / Centro de Creación Contemporánea de Andalucía (C3A) / Córdoba, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España