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Matter is Sovereign

Exposición / Uma Lulik - Arte Contemporânea / Rua Centro Cultural 15 – Porta 2 / Lisboa, Portugal
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Cuándo:
11 nov de 2022 - 30 dic de 2022

Inauguración:
10 nov de 2022 / 21:30

Precio:
Entrada gratuita

Comisariada por:
David Revés

Organizada por:
Uma Lulik Contemporary Art

Artistas participantes:
Isabel Cordovil

ENLACES OFICIALES
Web 

       


Descripción de la Exposición

A prática de Isabel Cordovil oscila entre poéticas de distintas naturezas, regimes técnicos e materialidades heterogéneas, de modo a construir uma estética na grande maioria das vezes autobiograficamente implicada através da qual a artista procura avaliar ironicamente, corromper, inverter o movimento ou simplesmente manifestar os pontos de contradição das máquinas simbólicas e arquetípicas humanas, longamente enraizadas nas lógicas dos aparelhos culturais e linguísticos que medeiam a nossa relação com o mundo. No trabalho da artista, movemo-nos, portanto, no meio de imagens historicamente formadas, sistemas de crenças ou dogmas instituídos, lastros consuetudinários, utopias e corpos idealmente perfeitos, que Isabel Cordovil faz por subverter, explicita ou subtilmente, revelando horizontes vazios, zonas impuras, ou uma sordidez qualitativa que lhes seja inerente. Desta forma, a fixidez das estruturas identitárias que cita, a geometria do “quadro” [cânone ainda vigente de uma política de gosto burguesa] ou a aparência minimalista que grande parte das suas obras intencionalmente conserva, contrastam com uma certa sujidade, ruído ou imperfeição gestual que activa um território tumultuoso, intempestivo, quase caótico, onde a intensidade da experiência sensível e do fundo material do Real sobrevêm desarmadilhados, livres, potentes. Em A Matéria é Soberana, a primeira individual de Isabel Cordovil na UMA LULIK__, é justamente nessa tensão entre aquilo que armadilha e aquilo que liberta, entre aquilo que aprisiona, ilude, cauciona e tudo aquilo que daí se evade, insurge ou subtrai como resto imponderado, que o movimento global de toda a exposição se desenvolve. Aqui, a artista convoca distintas imagens-fortes da mitografia ocidental, narrativas religiosas, figuras heroicas, santos-mártires ou proscritos, justapondo-as a objectos conotados com dispositivos de violência sobre os corpos [humanos e não humanos], como a flagelação penitenciária e a mortificação da carne. No espaço da galeria, entramos num ambiente lúgubre e visualmente sombrio, configurando-se a meio caminho entre um gabinete de curiosidades, a câmara de tortura e uma sala privada de sadomasoquismo. A atmosfera é pesada e tudo procura exercer pressão sobre o nosso corpo, numa erótica que, mais do que metafórica ou espiritual, é materialmente concreta e sensualmente inteligível. Toda a trama expositiva faz por oferecer-se enquanto cenário onde diferentes projecções individuais possam ser lançadas, num curso indistinto entre pontos de contacto e significação precisos, um estranhamento intensamente repulsivo e uma atracção quase inconsciente e secretamente libidinosa. Ora pela progressiva consciência do nosso peso sobre o chão de borracha, ora pelos reflexos meio disformes que essa superfície negra e lisa nos devolve, ora ainda pelo carácter antropométrico que grande parte dos objectos expostos apresenta. Contudo, na circulação pelo espaço, não deixamos de pressentir a existência de uma qualquer presença exterior que nos escapa. A de uma possível personagem que, não estando aqui fisicamente, ou tão-pouco sob a forma de uma qualquer referência concreta, unifica todo o interior da galeria enquanto espectralidade indicial de uma constelação pessoal e subjectiva. Como se fosse aqui que essa figura fantasmática e imaginária tivesse guardado as suas imagens particulares, os troféus comprovativos das suas acções, ou os seus insidiosos instrumentos de treino, de caça e de sujeição das suas presas. Sabendo que se trata, na verdade, da figura da artista, enquanto agente agregador de todas as presenças com as quais nos podemos relacionar, é precisamente nessa reunião propositadamente tensional que os elementos provenientes de uma origem familiar ou doméstica entram num curto-circuito disjuntivo mas paradoxalmente produtivo, tanto com os títulos que os nomeiam, como com as restantes obras presentes. Por um lado, as fotografias oriundas de radiografias dos seus pais, o bronze que duplica um desgastado estojo de pistolas herdado do seu avô ou a grande fotografia que mostra a mesa de sua casa com os restos de um jantar festivo. Por outro, os santos que perdem o seu halo sagrado, cingindo-se à sua denominação pessoal: o seu nome terreno antes de ser celeste; as figuras míticas das quais restam apenas os instrumentos materiais que especulativamente [aqui, nesta exposição] originaram as suas estórias; ou ainda os ideais imperialistas dos quais chegam, apenas, os detritos bolorentos e decadentes das suas venturas. Não se trata, porém, unicamente de um esforço judicativo que Isabel Cordovil tece face à circunstância de certas narrativas e determinados dispositivos de subjetivação [de que já falara Foucault]. Nem somente de contrariar certos movimentos de mobilização dos corpos em relação às suas aspirações metafísicas ou transcendentais que continuamente pressionam a sua carne. Ressignificando imagens, hierarquias, lugares, práticas e expectativas normalizadas, o que Isabel Cordovil faz é activar o fundo negativo que toda a religião e mitologia ocidentais fizeram sempre por negar. Tudo aquilo que o seu sucedâneo secular, sob o nome de Progresso Histórico, faz diariamente por suspender. Activando uma linhagem artística que se aproxima, ainda que noutros campos do pensamento, das fissuras estruturais de Doris Salcedo ou da aura macabra e funesta de Berlinde de Bruyckere, Isabel Cordovil sublinha uma radicalidade absoluta, indissolúvel às estruturas edificantes do mundo: uma prevalência da matéria e das forças e ritmos da Terra perante todas as estruturas antropológicas. Ainda assim, se todo este espaço continua carregado de uma forte dimensão sexual e de toda a sua violência implícita, a qual não deixa de remeter, por tudo o que dissemos, para uma constante pulsão e supremacia da carne – a nossa matéria elementar -, há que não esquecer, neste caso, que todos os nossos mais inconfessados desejos sempre caminharam a par com todas as mais mórbidas fantasias da História. David Revés Novembro 2022 ------------------------------------------ Isabel Cordovil (1994) was born in Lisbon and raised between nuns, priests and the wonders of pre-surveilled internet. The main focus of her practice has been an ongoing exploration of the written word, objecthood and autobiographical mapping through the creation or morphing of independent matter. Assuming that life itself is performative, this body of work can be perceived as the documentation of long running performance piece. Since she got her MFA at HEAD Genève and set her studio in Lisbon, her work has been focused on project by project challenges that with time reveal what is solid and coherent between them all: a genuine passion for the poetic metamorphosis of the banal. As an original member of Rabbit Hole queer collective (regularly present at Galeria Zé dos Bois), this interest on gatherings and performative gestures led her into searching still matte and volumes in space, sometimes called sculpture, other times called companions.


Entrada actualizada el el 24 mar de 2023

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