Descripción de la Exposición
A Pharmacia Cultural - espaço expositivo e centro de atividades criativas de toda ordem e qualidade da Fundação Stickel – tem o privilégio de apresentar Retratos eriçados, a mais nova série de desenhos de Maciej Babinski, o mítico artista nascido na Polônia em 1931, radicado no Brasil desde 1953, mais uma involuntária contribuição do nazismo para a civilização ocidental. Foi precisamente no dia 6 de agosto de 1953 que Babinski desembarcou no Rio de Janeiro vindo do Canadá, onde gelava junto com a família, portando pouquíssimos dólares e algumas gravuras que, em compensação, lhe valeram o reconhecimento instantâneo de Darel Valença Lins, Osvaldo Goeldi e o grande colecionador Castro Maya.
Andejo por natureza, Babinski rodou pelo Brasil, e em 1965, graças aos militares e de uma reitoria que lhes era cúmplice, pediu demissão do cargo de professor do centro de artes da Universidade de Brasília. Donde se conclui que São Paulo deve Babinski à ditadura. Uma vez aqui, logo chamou a atenção de Wesley Duke Lee, Nelson Leirner e, passados alguns anos, introduziu a prática da gravura na célebre Escola Brasil:, de Baravelli, Resende, Nasser e Fajardo. Amafumbado no subsolo da escola, transformou o porão na fábrica de suas imagens fantásticas e suas aquarelas sem par.
Depois de passagens por Goiás e Minas (Uberlândia), foi reintegrado à Universidade de Brasília em 1985, por obra do reitor Cristovão Buarque e, em seguida, na bica de se aposentar, apaixonou-se por Lidia. Graças a ela, que é cearense, em 1992 rumou para Várzea Alegre, encravada no Cariri. Lá, quase “sem rádio e sem notícia das terra civilizada”, como cantava o grande Luis Gonzaga, nascido ali pertinho, do outro lado da fronteira, a obra do grande artista, ao mesmo tempo em que se escondeu de nós, moradores das grandes cidades, e talvez por causa disso mesmo, vicejou.
Babinski segue fazendo gravuras, aquarelas e pinturas. Desenhando sempre, é claro, dado que não se concebe nenhuma das práticas acima sem desenho, linguagem mãe. Segue produzindo copiosamente sem ser interrompido pelo demônio do celular, que lá pega muito mal, e que faz da nossa produção metropolitana um hiato entre chamadas e verificações sucessivas da caixa de entrada do whatsapp.
Nosso artista é fundamentalmente focado em dois assuntos que, a seu ver, se interpenetram: a natureza – vegetal e mineral, e a natureza humana, esse animal de comportamento raro, imprevisível, assanhado, nós mesmos, tema no qual sempre esteve enredado e que ele leva a confins surpreendentes.
Fernando Stickel, artista, diretor da Fundação Stickel e amigo de longa data de Babinski, convidou Agnaldo Farias e juntos abalaram-se até Várzea Alegre. De lá trouxeram essa série de 66 magníficos desenhos, além de duas pinturas que, como salientou o artista, louvando a escolha dos curadores e ressaltando o movimento dialético de sua pesquisa, nasceram e propiciaram o nascimento da série.
Retratos eriçados reúne um impressionante conjunto de desenhos cuja tônica é uma gestualidade tensa, explosiva. Eles diferem das gravuras minuciosas, diante das quais os olhos esquadrinham incansavelmente, das pinturas cujo cromatismo desatado atua como protagonista. Nesses desenhos o gesto é solto e a serviço da representação de pessoas – uma, duas, três ou mais, conversando animadas, silenciosamente ensimesmadas, apaixonadas ou às turras, não raro amarguradas, esbravejando, alvo de desprezo ou de um desejo voraz; as cenas seguem sempre diferentes.
Trata-se, já se vê, de desenhos psicológicos, que deixam ver o interesse e respeito do artista pela natureza humana, sua tentativa em capturar a variedade infinita das possibilidades expressivas. Sua mão liberta-se da educação, afinal o que mais, em se tratando desse tema tão profundo e enigmático, poderia reter um gesto educado? Em diapasão semelhante vêm as pinceladas abertas, as manchas largas de cores esmaecidas, reforçando a vibração dos corpos e dos ambientes afetados pelo movimento interior dos retratados.
Retratos eriçados retoma em chave atualizada, fruto da maturidade do artista, sua herança de artista pertencente ao Automatistas canadenses, ligados ao Paul-Émile Borduas, hoje, na esteira da crítica ao eurocetrismo, recuperados na qualidade de um dos mais fecundos ramais do Surrealismo.
Técnica: 66 desenhos, grafite e aquarela sobre papel, 53 x 40 cm; 2 pinturas: "Protagonista" e "Paisagem Carbonizada”, óleo sobre tela, 150 x 200 cm
Exposición. 19 nov de 2024 - 02 mar de 2025 / Museo Nacional del Prado / Madrid, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España