O artista Martinho Costa (1977) apresenta na Galeria 111, em Lisboa, as suas mais recentes pinturas na exposição intitulada Layer 0. Por esta ocasião o pintor brinda-nos com estranhas e encriptadas imagens pictóricas. A pintura realista, que o artista nos habituou no passado, está agora imersa num ludibriante e meticuloso processo digital que constrói uma realidade indecifrável. Ao adicionar esta ferramenta de tratamento de imagens digitais (Photoshop™) o pintor reage, numa primeira instância, às premissas de construção de qualquer imagem, nomeadamente, sobre as escolhas de cortar, de colar, de enquadrar, de cor, da relação figura-fundo, das transparências, e por aí em diante. Contudo, num segundo momento, as escolhas não se fixam apenas no digital, aquando a passagem da imagem para a pintura o artista continua a nomear e a escolher como fazia anteriormente. As relações, exageradas ou atenuadas, entre os diversos elementos que compõem a imagem continuam a ser consideradas....Estas imagens compostas resgatam partes de uma realidade existente (fotografias de paisagens, pessoas, objectos, etc...), mas também comportam padrões de azulejos ou de tijolos decorativos produzidos digitalmente. A relação aleatória entre as imagens revela a interação entre as diferentes camadas, ora se traz a camada para o primeiro plano, ora se leva a mesma para o último plano. Porém a relação é sempre bidimensional, porque estamos na dimensão da pintura. De facto é aqui que reside, em grande medida, a pertinência da obra de Martinho Costa, o olhar do espectador persiste na superfície da tela enquanto viaja pelas diferentes imagens nas suas específicas camadas. Este olhar estabiliza um grau diminuto de tridimensionalidade. Excerto do texto original de Hugo Dinis
Entrada actualizada el el 13 nov de 2016
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