Django Reinhardt tocava, contando com o silêncio. O pintor à procura da sua pausa musical. Eu observo.

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Escrever um pequeno texto para um catálogo de exposição é sempre uma honra. Honra de acompanhar um artista. Escrever no catálogo de Salvatore Ravo é ainda um prazer. Sobretudo porque as variações da sua pintura de certo modo impedem a teoretização e o seu corolário perigo de parasitar a obra feita. Estou à procura da poética do pintor.

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Quadros quentes e quadros frios. Quentes dos amarelos felizes e dos laranja. Ocre. Itália ou Espanha? A tela fria, patético exemplo que se intitula Divenire, algo como O Grito de Munch de costas, grito mudo, a mudez visível do outro lado onde nós não estamos.

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A exposição foi baptizada e crismada em Santander, no ano passado, de La Musica del Silenzio. Se pudesse introduzir uma pequena mudança, intitulava-a Música e Silêncio. Porque as pinturas, que me foi possível observar, encobrem mais um mysterium fascinans, objectivado em propostas de formas de instrumentos musicais, por apenas perfeita ou leve deformação, sempre de escrita elegante; mas assim não acaba o amor do pintor pela música, portanto também cria a sinédoque de musicalidade na sombra das cordas e dos sons. Algumas dessas obras dão-se a ouvir.

 Volto ao princípio. Se Django Reinhardt pintasse, não estaria longe de semelhante realização.

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O pintor terminou o seu dia. Agora, nesta Galeria nobre, Prova de Artista, de Isabel Bastos, no centro desta cidade de Kafka en rose, é a vossa vez, presentes bem-vindos, de proporem o diálogo, os diálogos do emissor e dos receptores nesta matéria. Inicia-se então um mysterium tremendum.

Jorge Listopad