Descripción de la Exposición
Em Tropikos (2016), o cineasta e pesquisador John Akomfrah (Acra, Gana,1957) constrói uma narrativa densa e inquietante sobre um encontro entre africanos e europeus, na Inglaterra do início do século 16.
Filmado em Plymouth, no sudoeste da Inglaterra, local central para o comércio e tráfico de africanos escravizados durante o período colonial britânico, Tropikos é “uma tetralogia sobre a água e os sonhos”, conforme apresentação no início do vídeo. É uma história contada em quatro atos, em que as fronteiras entre o delírio e a realidade são borradas. Akomfrah alcança esse efeito através de procedimentos formais e estéticos que conferem um ritmo perturbador ao vídeo. Como em tableaux vivants [quadros vivos], as cenas são construídas por personagens rodeados por livros, frutas, joias, máscaras africanas, elmos e retratos de antigos monarcas europeus.
Akomfrah cita trechos de obras clássicas da literatura europeia, como Rei Henrique V (1599), de William Shakespeare, e Paraíso perdido (1667), de John Milton, que representam os indivíduos não europeus de forma perversamente exótica. Calibã, personagem escravizado e tornado exótico em A tempestade (1623), de Shakespeare, é uma forte referência na construção de alguns personagens negros no vídeo. Dessa maneira, Akomfrah exemplifica o modo como os sujeitos africanos foram identificados e retratados pelo olhar europeu da época: seres tão ingênuos e gentis quanto selvagens, o oposto absoluto ao civilizado. O vídeo sugere uma análise mais profunda e crítica sobre o acúmulo de riquezas das metrópoles, obtido à custa da dominação de outros povos.
A água é grande protagonista em Tropikos. Há um silêncio abissal entre os africanos e europeus e nesse contexto o som da água ganha corpo e volume, uma presença ameaçadora, misteriosa e inebriante. Na ambivalência desse cenário, a água é o lugar do “encontro” e o abismo, onde o espectador permanece aprisionado, tal como mais uma testemunha do processo de exílio forçado imposto pela escravidão.
Akomfrah é incansável em seu engajamento político, e desde a década de 1980, com seus primeiros trabalhos como integrante do reconhecido Black Audio Film Collective, na Inglaterra, já apontava as inúmeras deformações sociais e econômicas que se estabeleceram em decorrência da escravidão. É diante dessa memória de séculos de aniquilamento físico e simbólico que se torna indispensável destacar novos ângulos e autores capazes de contar outras histórias da diáspora negra. Uma reparação urgente e duradoura a esse capítulo abominável da história da humanidade que promova
outros modos de existência e liberdade.
John Akomfrah tem curadoria de Horrana de Kássia Santoz, assistente de mediação e programas públicos do MASP.
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