A obra de Ulla Deventer encontra-se na intersecção da fotografia documental e do retrato. Além disso, expressa de forma clara uma sensibilidade fantasmagórica. Deventer transforma histórias profundamente pessoais em imagens oníricas agrupadas em séries, cuidadosamente contruídas com atenção ao simbolismo e à atmosfera, e deixa para trás a desejada objetividade e a postura etnográfica, que tantas vezes pesa sobre este tipo de arte fotográfica.
Para o trabalho “I’ve Never Been Big Sick”. Deventer colaborou por mais de um ano com 5 mulheres que trabalham como prostitutas na Bélgica. A artista passou bastante tempo com estas mulheres, tanto nos seus locais de trabalho como nas suas casas, onde regularmente passava a noite.
O material para esta séries foi no fundo retirado de duas fontes; a pessoal, ambientes de habitação – e também habitados – a das protagonistas, que fornecem pistas sugerindo a imagem que ela pretende transmitir. E em segundo lugar, a artista...incorpora grande parte dos relatos verbais e historietas na série.
O conjunto é de uma explícita natureza desconcertante. Ao introduzir fragilidade, sensibilidade, inocência e melancolia lado a lado com pequenas indicações da dura realidade que estas pessoas experienciaram no cenário, Deventer tenta compor uma narrativa alternativa sobre trabalhadoras do sexo, a encenação de cenas amorosas estáticas têm na realidade a intenção de fazer descarrilar a visão estereotipada sobre a prostituição. Com frequência, o efeito é perturbador e/ou provocativo, deixando o desejo voyeurista negligenciado.
Tom Nys
Entrada actualizada el el 15 sep de 2017
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