Descripción de la Exposición
A exposição “Interminável”, no CIAJG, parte de uma instalação com o mesmo título, e que tem a especificidade de existir como obra apenas durante a vida do artista. “Interminável” é uma caverna, um laboratório, mergulhos dentro de um sonho. É realizada num gesto permanente de traçar os sentidos e os não-sentidos inerentes à arte e à vida. O infinito e a contingência convivem no meio de palavras escritas nas paredes, café e odores espalhados no chão, fragmentos, vinho bebido e vertido.
Artur Barrio nasceu no Porto em 1945. Em 1952 viaja com a família para Angola e em 1955 para o Brasil, onde estabelece residência. Já como artista, a partir dos anos 1970, passa longas temporadas na Europa. Em 1974 visita Portugal para assistir de perto à Revolução dos Cravos. Hoje Artur Barrio vive na Baía de Guanabara no seu barco “Pélagos”. Esta brevíssima biografia traça um fluxo de trânsitos e atravessamentos onde o mar, na sua dimensão simbólica e real, assume um lugar central no seu trabalho: o do navegante solitário diante do oceano vazio.
Figura chave na arte contemporânea, Artur Barrio ocupa um lugar central na história da arte brasileira. Os seus primeiros trabalhos, no final dos anos 1960, realizados no contexto da ditadura militar, no Brasil, traçam o léxico de toda a sua produção artística: deambulações poéticas, “Registros”, cartas, “CadernosLivro”, “Situações”, “Projetos” que, na sua totalidade, comportam uma crítica implícita à produção de obras de arte e ao processo de circulação e valoração. Para Artur Barrio não existe um campo limitado para a arte e as suas propostas recusam as linguagens padronizadas impostas pelo sistema da arte. Os materiais que geralmente utiliza, conotados com um materialismo abjeto ou efémero, assumem uma dimensão inconsciente e física, simultaneamente poética e política.
A exposição “Interminável”, no CIAJG, parte de uma instalação com o mesmo título que pertence à coleção do museu S.M.A.K. (Gante, Bélgica), realizada pela primeira vez em 2005 e posteriormente remontada em outras ocasiões, e que tem a especificidade de existir como obra apenas durante a vida do artista. “Interminável” é uma caverna, um laboratório, mergulhos dentro de um sonho. É realizada num gesto permanente de traçar os sentidos e os não-sentidos inerentes à arte e à vida. O infinito e a contingência convivem no meio de palavras escritas nas paredes, café e odores espalhados no chão, fragmentos, vinho bebido e vertido. A temporalidade nesta grande instalação não é linear, mas espiralada; e mais do que um objeto artístico isolado, “Interminável” é um dispositivo para visualizar a história, desde o ponto de vista da vida pulsante sobre o planeta.
“Interminável” liga-se também, na biografia do artista, a outras ações, em especial a “4 dias, 4 noites”, de 1970, e que pode ser descrita como uma “proposta mental que tinha o corpo como suporte” (Artur Barrio) e que constou numa deambulação pela cidade do Rio de Janeiro, sem rumo nem destino, levando ao esgotamento físico. Os relatos desta ação, feitos pelo artista, são a única fonte de acesso à obra e aos acontecimentos que a marcaram. Esses relatos são frequentemente vagos e até mesmo contraditórios, fornecendo diversas versões com alguns detalhes que em outras são omitidos, esquecidos ou imaginados.
A partir dos pressupostos da instalação “Interminável”, e das suas ramificações por toda a obra de Artur Barrio, a exposição pensada para o CIAJG desdobra-se num conjunto mais alargado de trabalhos que se localizam num arco temporal desde os anos 1970 até ao presente, contemplando vários interesses e momentos da obra de Artur Barrio. “Registros” conceptuais de ações e situações que realizou nos anos 1970 e 1980, mas também filmes, trabalhos com tecido, papel, fotografias, vistas do fundo do mar captadas da perspectiva do mergulhador. Esta composição forma um fluxo que, na exposição, enfatizam o gesto “interminável” do artista. O fluxo das marés coaduna-se ao fluxo de energias poéticas que se fazem e desfazem a cada montagem das suas obras.
A recusa pela objetualidade da arte, que marca todo o seu trabalho de uma forma seminal, não fecha a porta à emergência material. Na maioria das vezes, as “situações” realizadas por Artur Barrio deflagram um imaginário, ou mesmo um território imaginado. Portugal, para Artur Barrio, situa-se nesse plano, parece-nos. Um lugar à distância, simultaneamente mítico e prosaico, um lugar sem lugar nas suas rotas emocionais e de pertença. A exposição no CIAJG rememora, também, um momento-chave que foi a visita de Artur Barrio a Portugal, logo a seguir à Revolução dos Cravos. São de 1975 um conjunto de ações, algumas aqui expostas, e que testemunham o seu encontro com um país e o seu contexto humano e social.
Além das obras na sua maioria pertencentes a coleções institucionais e privadas, em Portugal e na Bélgica, assim como o acervo pessoal do artista, encontram-se no espaço expositivo alguns documentos e fotografias que explicitam a sua relação com o mar, com o continente africano, com a potência expressiva de uma produção plástica que se vincula às forças ancestrais da humanidade. Não existindo nenhum tipo de hierarquia entre suportes, antes privilegiando-se as operações estéticas e o pensamento de Barrio. No contexto da produção conceptual da arte contemporânea vemos uma obra que se afirma contra o seu tempo. Tudo é ruído, estranhamento e rigor.
Artur Barrio recebeu o Prémio Velázquez das Artes Plásticas 2011 e o Grande Prémio Fundação EDP Arte de 2016, entre vários outros. O seu trabalho encontra-se representado nas mais destacadas coleções de museus de arte contemporânea.
Curadoria Luiz Camillo Osorio e Marta Mestre
Parceria S.M.A.K., Bélgica e Fundação Serralves, Portugal
Exposición. 12 nov de 2024 - 09 feb de 2025 / Museo Nacional Thyssen-Bornemisza / Madrid, España