Descripción de la Exposición
um processo ideológico é instaurado,
"é como cortar o rabo de um cachorro polegada por polegada", trata-se do exemplo do uso da palavra "polegada" —como unidade de medida— presente no dicionário online de inglês Merriam-Webster, o mais utilizado dicionário nos Estados Unidos, a metáfora é de autoria do economista norte-americano Milton Friedman e foi empregada em vários momentos de sua trajetória profissional, inclusive durante um encontro em Santiago do Chile com o ditador Augusto Pinochet ao propor para o país uma doutrina de choque —corte radical e violento de políticas sociais e esvaziamento da função reguladora do estado— com o intuito de, através do estado mínimo e novas políticas macroeconômicas, impor as violentas ideologias neoliberais promovidas pela politica externa estadunidense,
somos compelidos a produzir e trocar mercadorias para sobreviver,
a única objetividade comparável ao conjunto de princípios que regem o funcionamento de uma língua —dentro da racionalidade moderna— é a ciência e suas unidades de medida: polegada, kg, litro, ano-luz, milha, metro-cúbico, tonelada, o próprio átomo ou, até mesmo, o dólar,
quando a ciência e a técnica se pronunciam, quem fala é o capital,
há uma moeda de 1 centavo de dólar no alvo de calibração da câmera fotográfica do veículo espacial da NASA apelidado de Curiosity —robô projetado para explorar a cratera Gale em Marte e realizar investigações do clima e do solo marciano— a utilidade da moeda faz alusão a tradição entre profissionais da geologia de posicionar uma moeda ao lado de rochas como referência de escala na produção de imagens, facilitando assim a compreensão do tamanho do espécime geológico em questão,
a produção do espaço é ideológica,
o mètre-étalon em Paris: um medidor público de mármore que marca a medida de 1 metro, instalado pelo governo francês nos lugares mais movimentados da cidade, entre 1796 e 1797, com a intenção de difundir o uso do sistema métrico, logo permitindo com que os parisienses verificassem se suas réguas, trenas e outros medidores tinham as dimensões corretas,
o individuo transforma o espaço para satisfazer suas necessidades: produzir e trocar mercadorias,
é inegável o poder geopolítico da invenção —durante a Revolução Francesca— do sistema métrico, pois revela que não há neutralidade no mapear do espaço, onde, fundamentalmente, a ciência e a geografia estão a serviço, primeiramente da guerra colonizadora —com seus cálculos militares precisos para ocupação de um território— e, em seguida, da territorialização de um sistema ideológico —com a padronização da indústria produtora de mercadorias e seus meios de circulação (infraestruturais)— que apaga outras formas de ocupar, pensar e existir no espaço, disciplinando nossos corpos a reproduzirem uma sociabilidade mercantilista e capitalista,
não é o certo que move o mundo,
restam apenas 2 dos 17 mètre-étalons instalados na cidade de Paris, um deles foi instalado em um lugar emblemático para implementação da convenção de medidas que hoje rege o espaço: em frente ao senado que define a legislação da sociedade Francesa, o outro mètre-étalon também está localizado em um local representativo —ainda mais quando se trata do contexto artístico em que este texto se faz presente— próximo da Biliothèque Saint-Geneviève, onde, em 1913, após abandonar a pintura, Marcel Duchamp trabalhou como bibliotecário e, em seu tempo livre, produziu práticas fundantes da arte conceitual que, inclusive, questionavam a hegemonia de sistemas culturais abstratos, tal como o sistema métrico,
a crítica infraestrutural é a crítica institucional é a crítica individual,
o edifício sede da University of Chicago Booth School of Business abriga a medalha do Prêmio Nobel de Economia de 1976 recebido por Milton Friedman, que era professor da própria universidade onde lecionou Paulo Guedes —ex-ministro da economia do governo Bolsonaro— e doutrinou os Chicago Boys —um grupo de jovens economistas chilenos que formularam a política econômica da ditadura Chilena— para além do Prêmio Nobel, destinado "àqueles que conferiram o maior benefício à humanidade", o prédio da Booth School of Business também
conta com uma rica coleção de arte moderna e contemporânea rigorosamente curada, e que inclui obras conceituais de cunho político radical e explicitamente discordantes das concepções neoliberais historicamente defendidas pela instituição,
sem autocrítica tudo é autopromoção e apenas autocrítica é autoaniquilação,
é difícil falar sobre o sistema da arte, uma complexa rede de trocas econômicas e simbólicas, um sistema que não é claro, logo, na produção artística, é preciso falar sobre a obscuridade —sobre as sombras ideológicas abstratas que nos sujeitam: capital, propriedade, trabalho e valor— e realizar uma crítica que se desdobre sobre si mesma, pois —apesar da ilusão de que a arte está deslocada, desimplicada e é apenas representativa da crise do mundo real— as práticas artísticas reproduzem o capital e a ubiquidade da mercadoria, já que a arte não está fora das infraestruturas e instituições que estruturam os processos de modernização e dominação de nossas vidas, portanto, é necessário assumir a contradição presente na prática artística —reprodutora das violências aqui mencionadas— na tentativa da apreensão dos conceitos radicais e críticos que podem produzir um pensamento emancipatório,
este texto é mercantil, & foi escrito dia 06/07/23, na Cratera de Colônia, Zona Sul de São Paulo, durante o afélio terrestre —dia do ano em que a terra está mais distante do sol— produzindo assim —em comparação com outros dias do ano, nos mesmos horários— as menores sombras decorrentes da luz solar,
sombra é substância e mesmo em sua ausência visível requer sondagem crítica e aprofundamento,
Exposición. 19 nov de 2024 - 02 mar de 2025 / Museo Nacional del Prado / Madrid, España
Formación. 23 nov de 2024 - 29 nov de 2024 / Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía (MNCARS) / Madrid, España