Após temporada em sua galeria em Nova York, 1500 Gallery, a exposição Hidra, de Hirosuke Kitamura, fotógrafo japonês e brasileiro de coração, é apresentada em São Paulo, na Fauna Galeria. A mostra reúne 12 imagens feitas em cromo 120 mm, formato quadrado, sendo a maior parte de um trabalho que vem sendo realizado pelo fotógrafo há mais de dez anos: retratos das mulheres nos bordéis decadentes de Salvador, conhecidos como bregas.

'Sou um estrangeiro na Bahia há vinte anos e uso a fotografia para me expressar. Aqui me encontro com muitos paradoxos e contradições, como miséria e pureza, nas pessoas e no ambiente', explica o artista, representado internacionalmente pela 1500 Gallery. 'As imagens feitas na Bahia mostram sol forte, areia e alegria, mas por outro lado conheci o trabalho do Miguel Rio Branco, do Mario Cravo, e a realidade dos bregas, com ... mulheres fora do padrão de beleza, em um lugar escuro onde ao abrir a janela se vê a Bahia de Todos os Santos', diz ainda.

Antes mesmo de ser definido o curador para a mostra em Nova York, Kitamura já dialogava com Rio Branco a respeito de suas fotos. 'Meu trabalho é mais suave; o dele é mais pesado e crítico. Na seleção das imagens para essa exposição, ele escolheu as que mais se distanciavam de sua própria obra', conta o fotógrafo.

Nas fotografias dos bordéis, a pouca luz destaca o corpo castigado e as marcas nas paredes mostram a passagem do tempo representando o clima de nostalgia e sensualidade, evidenciando um lado distante do luxo de uma cidade turística.

'Estas imagens se tornam passagem de tempo, imateriais, fora de qualquer época', diz Miguel Rio Branco. 'O interessante na criação, na arte, fica na individualidade reafirmada de cada um. Isto está cada vez mais difícil em um mundo dominado por propaganda, publicidade, marketing'

Hirosuke Kitamura

Nascido em Osaka, Japão, reside em Salvador, Bahia, desde a década de 1990. Seu trabalho está presente na Coleção Pirelli do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Graduado em Literatura pela Universidade de Estudos Estrangeiros de Kyoto, Hirosuke Kitamura veio ao Brasil em 1990 como intercambista. Em 1993, estudou processos contemporâneos, pintando e desenhando no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Em 1995 fez um curso intensivo de fotografia, após o qual começou a trabalhar como fotógrafo freelancer. Em 1997 tornou-se correspondente da revista japonesa de música Latina, fornecendo artigos e imagens de eventos musicais pelo Brasil.

Miguel Rio Branco

Nasceu em 1946 em Las Palmas de Gran Canaria, Espanha. É pintor, fotógrafo, diretor de cinema e criador de instalações multimídia. Atualmente vive e trabalha no Rio de Janeiro. Trabalhou intensamente na Europa e Américas desde o começo de sua carreira, em 1964. Estudou no New York Institute of Photography e na Escola Superior de Desenho Industrial no Rio de Janeiro. Trabalhou como fotógrafo e diretor de filmes experimentais em Nova York na década de 1970 e desenvolveu, paralelamente, um trabalho documental de forte carga poética, sendo reconhecido como um dos melhores fotojornalistas de cor. Recebeu vários prêmios, como o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do MAM/SP e o Prêmio Kodak de la Critique Photographique. Publicou os livros 'Dulce Sudor Amargo', 'Nakta', 'Miguel Rio Branco' e 'Silent Book'.