Esta nova série de trabalhos, são desenhos realizados com polpa de papel. O desenho é feito à bisnaga com a projecção da polpa de algodão sobre o ecrã do molde do papel, que é utilizado como se fosse uma chapa de gravura. O desenho é assim transferido para uma folha ainda húmida, de modo a unir o desenho de mancha branca à folha de substrato colorido.
Os desenhos em si, são ampliações e interpretações de um conjunto de rabiscos mínimos, que resgatei dos meus blocos de apontamentos. Perdidos entre desenhos de estudo; medições; cálculos do IVA; orçamentos; diagramas; listas e o mais que seja preciso anotar no corropio do pensamento – esses pequenos desenhos surgem enigmáticos e sem um propósito definido. De modo a conseguir entrar na fluidez que os constitui, surge o desejo de os desenhar. E claro, descobri logo que essa tentativa só pode ser minimamente alcançada através...da repetição, como quando se aprende a escrever. Por isso, o mesmo desenho teve de ser repetido várias vezes, em várias folhas. Com essa tal fluidez a ficar plasmada em cada conjunto dos vários desenhos.
Para a instalação final de Fruta Feia os papéis coloridos, foram montados sobre tecidos de variadas matizes, e que por sua vez são pendurados à parede. Espera-se que o resultado cromático seja tão alegre como o de um cabaz de frutas e hortaliças.
Esta exposição é também o resultado de uma dedicação à aprendizagem da manufactura do papel. Encontrei o espaço e o tempo para isso na Dobbin Mill em Greenpoint, Brooklyn, graças à generosidade de Robbin Ami Silverberg, artista de quem ocasionalmente sou assistente e aprendiz.
Nuno Henrique 2020
Entrada actualizada el el 07 feb de 2020
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