Descripción de la Exposición
O projecto Artemar regressa ao paredão do Estoril. Manteve-se este ano o formato das últimas edições, ou seja, uma exposição realizada no início da época balnear, resultado de convites pessoais a um número reduzido de artistas. Contudo, pediu-se desta vez aos artistas que reflectissem e trabalhassem sobre o conceito de “fronteira líquida”. Os resultados, na sua diversidade, excederam em muito todas as expectativas que se poderiam ter imaginado.
O que é uma fronteira? No seu mais elementar sentido, constitui um limite convencional entre dois territórios ou países. Trata-se de uma palavra que surge na topografia, na delimitação de soberanias, no desenho de mapas geográficos e geopolíticos. Pode, evidentemente, ser utilizada no sentido metafórico, mas nunca perderá, nessas circunstâncias, a sua denotação primeira: a fronteira institui um corte, uma barreira nunca facilmente ultrapassável entre o aquém e o além. Por vezes, como a história nos tem demonstrado tão bem em tempos recentes, esse limite quer-se imutável, eterno, fechado, elevado, e mesmo, infelizmente, entre um “nós” e um “outrem”. Dito de outra forma, físico, matérico, intransponível, eterno.
Contudo, uma fronteira líquida parece contrariar estes pressupostos. A matéria em estado líquido adequa-se a qualquer forma, o que significa também que não possui a estabilidade visível que habitualmente associamos à palavra fronteira. E, contudo, as fronteiras encontram-se com frequência sobre a água, quer se trate do mar, de um rio ou de um lago. Estas fronteiras geográficas e políticas não se materializam em cancelas ou barreiras, mas sim na própria acção dos homens, tanto aqueles que as vigiam (que as defendem) como dos outros que as pretendem passar. Temos hoje bem presentes as imagens de refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo, essa fronteira mítica que existe desde a Antiguidade, e dos dramas que elas revelam ou encobrem. Em todas elas, a fisicalidade da fronteira é concretizada num elemento só́lido: balsa, fragata ou praia. É sempre aqui que a fronteira, o limite inultrapassável (ou não) se revela.
Contudo, estamos no Estoril, no paredão das praias da Costa do Sol que nesta altura se enchem de veraneantes à procura de lazer e bom tempo. O paredão, na sua fisicalidade que é também parte da paisagem, é ele próprio um limite onde as obras realizadas pelos artistas participantes se misturam com o quotidiano do público, fazendo parte do seu dia-a-dia, acrescentando sentidos múltiplos à sua passagem pelo local. É certo que um paredão, este muro que é também passeio, partilha diversas características com a fronteira: é um local de passagem e não de permanência; é uma via divisória entre a terra e a praia (também ela local de passagem e nunca de morada permanente); é, enfim, um não-lugar no sentido antropológico, já que a sua vivência é diversa e distinta consoante o seu utilizador seja o transeunte flâneur, aquele que aqui trabalha ou ainda o artista que elege precisamente tal lugar e não outro para expor o seu projecto. De todos os artistas presentes nesta edição de 2019, Carlos Menino e Teresa Braula Reis escolheram precisamente a apropriação de características práticas do lugar: o primeiro, com uma peça feita de elementos de madeira que perfazem exactamente o comprimento do Paredão, e a segunda, com uma derivação sobre elementos de design urbano em diferentes materiais e dimensões. Carlos No, por seu lado, numa abordagem mais ligada à actualidade política, criou Siroco, uma declinação da imagem mais comum da fronteira, a cancela, associada ao nome de um vento quente que sopra desde o Saara até ao sul da Europa. Cecília Costa por m, apresenta-nos uma acção performativa e efémera que é também uma ultrapassagem real e simbólica de todas as fronteiras: a da gravidade para a leveza, a da terra para o mar.
Luísa Soares de Oliveira
Curadora
Exposición. 17 dic de 2024 - 16 mar de 2025 / Museo Picasso Málaga / Málaga, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España