Descripción de la Exposición
A vida é um contínuo navegar no mar da existência. Segundo diz o verso Ifigênia em Tauris: o mar é um imenso espaço cujas águas lavam todos os crimes dos homens, e onde nosso marinar é a soma dos pequenos e grandes périplos e, às vezes, naufrágios. Um constante refazer a travessia construindo se necessário, uma balsa com os restos do último naufrágio, para ficar à deriva, à mercê das ondas ou sulcando velozes as amplas extensões com o vento a favor.
Uma vida inteira demandará para chegar à praia ou ao porto mais próximo ainda que para isso tenhamos que nos agarrar desesperadamente à vida, e abrir os caminhos por águas turbulentas, sulcar mares desconhecidos, vagar sem rumo ou estar de pé no meio de uma calmaria, que é uma calma falsa que causa desespero, na qual não há movimento nem contraste, nem calor nem frio, nem bem ou mal, e que tem um sabor da morte como o olhar paralisante da Górgona.
O caótico e imprevisível mar, desconhecido por todos, é a antítese da nossa existência em terra firme, com formas e fronteiras concretas; seus abismos estão povoados por monstros e debaixo da inquieta superfície, aguardam perigos insondáveis. No entanto, a metáfora náutica na obrigação implícita que acarreta perecer afogado ou chegar ao porto, padecer das tormentas ou usufruir das bonanças, é aquela que mais parece refletir sobre o movimento incerto de nossa existência.
O mar, presente na obra de Maribel Domènech de forma recorrente, é o marco de referência escolhido para construir essas obras, essas metáforas plásticas e vitais, onde a vida pessoal e a criação encontram-se. A palavra como um objeto, os vestidos tecidos com fios de anzol, o uso das artes da pesca e do próprio mar como imagem e conceito, são os recursos com que a artista constrói sua ode marítima ou périplo.
Incerteza, Resistência, Coragem, Raiva, Esforço e Não, palavras construídas em metal, materializam e resumem os estados de ânimo da artista nos últimos anos. É impossível se evadir da realidade, do dia a dia da existência, sua luta pessoal cheia de alegrias e tristezas para salvar sua casa, seu bairro e seu conceito de cidade. Estas esculturas que são ao mesmo tempo escrituras, são objeto e grafismo, significado e forma, numa união indissociável entre a beleza de sua criação e do comprometimento pessoal assumido, porque a arte é também compromisso.
Observando o mar através de 8 clarabóias, como as oito pernas da aranha tecedora, Maribel Domènech, tecendo com o fio de anzol e depois desmanchando. Este fio transparente que tem sombra e entidade corpórea faz confecções de distintas peles –pele e vestido são conceitos permutáveis– segundo seus estados anímicos, das diversas etapas de seu devir, as vezes consecutivas historicamente ou com carácter simultâneo, outras vezes no transcurso dos anos.
Esculturas/vestidos enfeitados com bóias marinas de vidro, anzóis, chumbo e âncoras flutuantes, aquelas que nos estabilizam onde não se pode tocar o fundo, adquirem sua completa realidade quando a artista lhes impõe um nome: Flutuar apesar de tudo, Manter-se flutuando, Como âncora flutuante, Atar-se a todo custo, se nos apresentam "metáfora absolutas" como as define Hans Blumenberg, porque oferecem em seu significado respeito às realidades sobre a quais se tratam, um tipo de conhecimento que nunca poderá ser aperfeiçoado em um discurso mais elaborado de caráter teórico. Essas metáforas absolutas designam irrealidades sensitivas, aspectos da realidade que percebemos, mas que não podemos abordar conceitualmente, isto é, a parte não conceitualizável do mundo cujo conteúdo semântico não é possível de se expressar teoricamente.
O mar, a parte aquosa do mundo, volta a querer figos, recorda-nos Erasmus de Rotterdam em seus Adagia, e esse cruel tirano sempre reclama novas criações.
Amador Griñó
2015
Exposición. 13 dic de 2024 - 04 may de 2025 / CAAC - Centro Andaluz de Arte Contemporáneo / Sevilla, España
Formación. 01 oct de 2024 - 04 abr de 2025 / PHotoEspaña / Madrid, España