O risco é ficar-se sentado na aparente segurança dos dias, num caminho a que não se avista o fim. A imobilidade é sempre temporária, tudo tem a sua duração e logo se transforma noutra coisa. Não capitular, coagular! Tudo coagula à sua maneira, que é a única forma de salvação. Procuramos um sinal que nos sirva de direcção, uma linha ao longo da parede e seguimo-la até onde ela termina. Que é até onde a realidade se transforma. Tudo o que existe tem o seu duplo, a sua sombra, por vezes mais densa que a própria realidade. E assim questionamos qual é o acesso que temos às coisas. Se nos sentarmos na cadeira que ardeu, alquimizamos os danos. Mas não paramos ali muito tempo, porque percebemos que o que é já era, todo o carvão foi fogo e será sempre um movimento. Desenhamos com a memória o melhor que sabemos,...para não esquecer, e isso não é outra coisa senão representar o que vimos e transformar o que ouvimos em onomatopeia. Tudo é representação, miragem volátil, uma alquimia. Tudo tende para o seu ponto de fuga, converge para o seu ponto de combustão, e encontra o seu ponto de equilíbrio na frágil fogueira dos dias.
Jini Afonso
Entrada actualizada el el 22 mar de 2023
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