A Galeria Carbono tem o prazer de apresentar “eterno retorno”, exposição retrospectiva da produção da artista Shirley Paes Leme no campo das edições. Ao longo de sua trajetória Shirley Paes Leme elaborou um conjunto de trabalhos que, em sua própria complexidade, foram concebidos fora do paradigma do objeto único de arte. Obras que confirmam a intensa diversidade criativa de sua produção e que pulsam em ritmo próprio, caminhando lado a lado com sua poética. Uma variedade de suportes e materiais, experimentados em seus mais de 40 anos de carreira, que estão presentes em “eterno retorno” por meio de gravuras, objetos e um vídeo realizado pela artista ainda nos anos 70.
Concebida como uma visita circular, sem início ou fim, a mostra atravessa a trajetória da artista tendo em conta uma produção que se expande organicamente, revelando novos diálogos entre trabalhos jamais exibidos em conjunto. Um percurso que revela a afinidade espontânea...da artista para captar as estruturas sensíveis do mundo, do que é prosaico e inusitado, e daí decantar sua percepção sobre ele. Por isso, não há em sua produção um assunto encerrado ou mesmo esgotado, mas um trânsito de possibilidades que estrutura seu entendimento da realidade. Em meio a essa multiplicidade poética, os trabalhos com frequência partem das matrizes da infância e de uma íntima relação com a palavra escrita.
Se por um lado as memórias do sertão de Minas Gerais e Goiás se apresentam como deflagradores de uma parte significativa de sua produção, a literatura se apresenta como recurso inesgotável de pensamento e entrecruzamento de linguagens, referência que subjaz à toda produção. Seja travando diálogos com as potencialidades da literatura como expressão do imaginário, seja na sua capacidade de transpor a palavra do campo literário para o campo visual, a artista dá à palavra uma nova condição de objeto imagético com vitalidade própria. “eterno retorno” é, portanto, uma visada pelas veredas das palavras e da memória nos trilhos da extensa produção de Shirley Paes Leme. E é nas fricções e deslocamentos proporcionados por esse conjunto que encontramos a versatilidade de sua sensibilidade e o desejo de avançar sua compreensão do mundo e das relações que podemos extrair dele.
Patricia Wagner
Entrada actualizada el el 26 ene de 2021
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