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Exposición / XXX arte contemporânea / Rua Sucupira, 23 - Condomínio Verde - Jardim Botânico / Brasília, Distrito Federal, Brasil
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Cuándo:
23 abr de 2017 - 21 may de 2017

Inauguración:
22 abr de 2017 / 19:00

Comisariada por:
Renato Lins

Organizada por:
XXX arte contemporânea

Artistas participantes:
João Trevisan

       


Descripción de la Exposición

1a mostra individual de João Trevisan na Galeria XXX Arte Contemporânea. O processo de produção de João Trevisan, que acompanhei de perto nos últimos meses, esteve todo o tempo permeado em minha lembrança pelos Contos Frios de Virgilio Piñera o, com os quais traço aqui um termo comparativo. Relativamente breves, esses contos se constroem com certo descaso pelos encantamentos linguísticos, resultando numa escrita rápida e despretensiosa. Em muitos momentos seu conteúdo se desenvolve por narrativas violentas, onde os corpos perdem ou ganham massa, até desembocar em uma ideia que quase não se liga mais ao conjunto do conto. Em O Caso Acteono dois personagens desenvolvem seu diálogo em uma sequência de atos de violência mútua. Enquanto na mitologia o caçador vira caça, no conto o confronto violento entre eles acaba por reduzi-los a uma só massa. Durante o processo de trabalho de João, não há limites entre ele e o suporte utilizado. O espaço do suporte e o espaço de seu corpo são sobrepostos, em simbiose, e o movimento empregado no suporte pelo artista é sobre ele refletido. A cadeira é a própria imagem representativa desses corpos, é o ponto de junção de ambos que por vezes se mostra num acúmulo de massas - tintas papelões, costuras e rasgados - de tensões e forças que a atravessam. Num outro momento, o corpo contido e rígido se esforça para alcançar a fluidez do movimento, explorando as articulações e a aparência da figura, puxando e empurrando o corpo para o próximo movimento da série, na tentativa de esvaziamento da tensão acumulada. Trata-se de um trabalho compulsivo e interminável que se executa sobre finos papéis bíblia, de origens variadas. Não importa tanto o suporte, mas sim as energias ali contidas. Ele é mera ocasião para o gesto, assim como o corpo físico é ocasião para os movimentos internos. Quando vazio, repousa estático frio e cansado. Volta à forma dura e tem em si a memória do violento processo expresso em rasgos e desgastes, traços que quase se diluem no papel, para depois recomeçar o ciclo outra vez. De maneira muito abstrata, creio que a violência seja o ponto que liga o trabalho de Trevisan ao nosso tempo. A violência que sofremos e empregamos no momento de nosso trabalho, qualquer que seja ele, a violência que sofremos e que devolvemos politicamente a violência que recebemos e devolvemos ao afirmarmos nossa existência. A violência com que somos sobrecarregados todo o tempo, que recebemos e devolvemos na forma de símbolos modos de vida e cultura, ou no processo de estarmos, ainda que cansados, retomando novamente, diariamente, nosso próprio ciclo. Por isso me parece tão oportuno falar aqui de Virgilio Piñera. Não só porque a violência era também tema constante de seus trabalhos, mas porque sua escrita de vários modos, foi uma forma de resistir ao peso de seu tempo e creio que nada nos seja mais atual. João desenvolve seu trabalho e o assume, ainda que as referências aparentes sejam demasiadamente claras. Estes são os primeiros trabalhos por ele apresentados e o ciclo de acúmulo, dispêndio e esvaziamento deve sempre ser retomado para que se possa avançar. Há varias forças hoje que atuam ao redor de um artista e sobre os trabalhos vinculados a tal produção. São pressões de diversas ordens (acadêmicas de mercado de curadores de galerias, de público, de coleções, acervos...), todas com exigências próprias, que põem os trabalhos em risco de serem enclausurados em um processo burocrático de atendimento. O que espero de artistas, escritores, e de mim mesmo, nesta hora, em nosso tempo, é que sejamos, antes, reconhecidos no conjunto de nossos processos, e que tenhamos o mesmo folego expresso na bonita passagem de José Gilo em seu livro Movimento total, onde ele diz que Yo bailarino retoma o seu corpo nesse momento preciso em que perde seu equilíbrio e se arrisca no vazio. Luta, jogando tudo por tudo: está em jogo sua vida, sua liberdade de bailarino, a sua luz. Faz apelo ao movimento, que proporcionará claridade e estabilidade à sua extrema agitação interior. Por meio do movimento domará o movimento: com um gesto libertará a velocidade que arrebatará o seu corpo traçando uma forma de espaço. Uma forma de espaço-corpo efêmero, por cima do abismo". R.L. 2017 1. Virgilio Peñera Llera (1912-1979), escritor, dramaturgo, poeta e ensaísta cubano. 2 O conto toma como referência o personagem Acteon, da mitologia grega. O jovem caçador atreve-se a ver Ártemis (a Diana caçadora) em seu banho, sendo por ela castigado, transformando-se em caça e morrendo ao lutar contra seus próprios cães, que não mais o reconhecem. 3 José Gil (1939-) é um filósofo, ensaísta e professor português, nascido em Moçambique.


Entrada actualizada el el 16 may de 2017

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